terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Fabiana Albino, coordenadora pedagógica do futebol feminino do Vasco da Gama

Mestre em Ciência da Motricidade Humana fala sobre a retomada do departamento no clube cruzmaltino
Bruno Camarão

“O futebol feminino no Vasco da Gama, mais do que uma modalidade no clube, ou um braço do futebol masculino, é um ideal”. É dessa maneira que Fabiana Albino se reporta à modalidade cuja condição no país ainda é de amadorismo. Muito por conta das diversas falhas de ordem administrativa, política e até histórica.

Mestre em Ciência da Motricidade Humana, Psicopedagoga, Consultora em Educação e Educação Física e Docente da Universidade Moacyr Sreder Bastos, ela criou o cargo de coordenadora pedagógica na estrutura do departamento de futebol feminino cruzmaltino. Além de reviver momentos fantásticos das décadas de 80 e 90, quando o clube contou até com a lenda Marta em sua equipe principal, a intenção da acadêmica é ampliar a discussão sobre as temáticas envolvendo as mulheres e o próprio desenvolvimento a partir do profissionalismo.

“Existe uma engrenagem em qualquer processo esportivo de ida e volta de capital – como em qualquer organização pautada no capitalismo. Nós não geramos qualquer tipo de lucro para o clube. Por isso que o aporte é muito pequeno”, explica Fabiana.

Ela revela que possui apenas uma pequena verba para federar atletas, comprar uniformes, local para treinamento, uma ajuda de custo com passagens e alimentação, mas não há uma remuneração mensal. Para superar essa realidade e enfrentar, inclusive, os gargalos da legislação referentes ao futebol feminino – especialmente os ligados a direitos econômicos –, a meta é educar desde cedo.

“A ideia da coordenação pedagógica no departamento é justamente um aporte educacional junto ao futebol feminino. O mais importante é a base – algo que não compõe a reflexão no ambiente do futebol masculino, muitas vezes. Queremos um departamento de formação de atletas de excelência, e nosso projeto é amparado nas bases educacionais desse processo”, propõe Fabiana.

Ao lado de Tadeu Correia, diretor da Divisão, e outros oito profissionais, a especialista acredita que não se possa ter uma equipe adulta sem haver um programa de base efetivo. Tal programa piloto, em que a prática esportiva surge como uma ferramenta para a vertente sócio-educativa, busca parcerias e cobra respeito e mudanças na CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

“Pedimos seriedade por parte da CBF, atenção. Ela não quer nem mapear quantas atletas estão em ação no Brasil... Como um possível parceiro vai se interessar em vincular a marca dele a um clube que não sabe quando, onde e com quem irá jogar?”, questiona.

Nesta entrevista à Universidade do Futebol, Fabiana explica ainda a razão pela qual o Vasco vetou peneiras para o processo de seleção de novas atletas, como atua o grupo de estudos criado para pensar treinamento para mulheres e como a esgrima melhora a noção espacial em campo.


Universidade do Futebol – Você é coordenadora pedagógica da Divisão de Futebol Feminino do Vasco da Gama. Como se encontra estruturado o departamento?

Fabiana Albino – O futebol feminino no Vasco da Gama é um resgate a um antigo futebol feminino do clube entre as décadas de 80 e 90, período em que a Marta foi revelada, inclusive. Além dela, contávamos com a Pretinha, que hoje atua na Coreia, a Fanta, que encerrou sua carreira, e algumas outras atletas renomadas que compunham nosso time.

Por volta de 1996, 1997, o futebol feminino foi extinto no Vasco, assim como ocorreu no Rio de Janeiro. Foi um tempo de “dormência”. Em 2009, apenas, por intermédio do Tadeu Correia, nosso diretor, que a modalidade foi retomada.

Reiniciamos praticamente do zero. Hoje temos todas as categorias a partir do sub-13. São aproximadamente 200 atletas ao todo.

O futebol feminino no Vasco da Gama, mais do que uma modalidade no clube, ou um braço do futebol masculino, é um ideal. A condição dele no país é de amadorismo. As nossas atletas não têm preço de mercado. A Marta, por exemplo, não tem “passe”.

Nosso projeto também passa por profissionalizar o futebol feminino no Brasil. E para isso temos promovidos alguns encontros, montamos um documento e efetuamos contatos políticos para dar início a esse anseio.

Um clube, por si só, não fará isso. Levantamos essa bandeira e pretendemos dar sequência agora.


Mais uma vez na disputa do prêmio de melhor jogadora do mundo pela Fifa, Marta teve passagem pelo Vasco da Gama

 

Universidade do Futebol – O projeto possui um aporte – financeiro e de infraestrutura – constante? Como se dá a relação com a atual diretoria do clube cruzmaltino?

Fabiana Albino – Nós temos o apoio total: político, solidário e de possível infraestrutura. Financeiro, é o mínimo possível.

Existe uma engrenagem em qualquer processo esportivo de ida e volta de capital – como em qualquer organização pautada no capitalismo. Nós não geramos qualquer tipo de lucro para o clube. Por isso que o aporte é muito pequeno.

Temos uma pequena verba para federar atletas, comprar uniformes, local para treinamento, uma ajuda de custo (passagens e alimentação), temos uma escola que funciona dentro do clube, mas não há uma remuneração mensal. Justamente porque não conseguimos gerar ainda qualquer tipo de receita para o clube.

Universidade do Futebol – Em linhas gerais, qual é sua formação, bem como seu papel nesse processo?

Fabiana Albino – Minha graduação é em Educação Física e fiz uma especialização em psicopedagogia e um mestrado em Ciências da Motricidade Humana e em Ciências do Desporto. Estou em uma intersecção entre a área esportiva e a educacional-pedagógica.

Também sou professora acadêmica e trabalho com aprendizagem motora e aprendizagem esportiva na universidade. Minhas pesquisas são voltadas para essa área.

A ideia da coordenação pedagógica no departamento é justamente um aporte educacional junto ao futebol feminino. O mais importante é a base – algo que não compõe a reflexão no ambiente do futebol masculino, muitas vezes. Queremos um departamento de formação de atletas de excelência, e nosso projeto é amparado nas bases educacionais desse processo.

Não acreditamos que se possa ter uma equipe adulta sem que tenhamos um programa de base efetivo. Essa é minha função e a coordenação pedagógica foi um cargo criado aqui no Vasco, propositadamente, para integrar o processo com a outra ponta, a coordenação técnica.

Trata-se de um programa piloto: montar o pilar educacional é a nossa prioridade. A prática esportiva, então, surge como uma ferramenta para a vertente sócio-educativa. É praticamente uma tese. E nosso diretor está terminando o doutorado dele que aborda justamente a questão do talento no esporte e a gestão das categorias de base.

Universidade do Futebol – Como se dá a relação entre todas essas áreas – pedagógica e técnica – no Vasco da Gama? Quantos profissionais estão envolvidos?

Fabiana Albino – Apenas 10 pessoas, por conta da falta de uma verba que deveria ser compatível com a nossa necessidade. Essa é a realidade. Temos muita afinidade e trabalhamos juntos.

A linha limítrofe entre as duas áreas se funde. Não temos muito essa segregação. Até mais é a minha área que atinge o âmbito técnico. Um coordenador técnico é muito do campo. E a parte administrativa também acaba ficando ao meu cargo – apesar de eu também estar sempre presente nas atividades práticas.


Um dos grandes mentores na retomada do futebol feminino do Vasco, Tadeu Correia conta com o apoio de Fabiana Albino

 

Universidade do Futebol – Recentemente, você esteve à frente do II Encontro de Futebol Feminino do Rio de Janeiro. Dentre alguns pontos abordados, foi projetado um relatório que será encaminhado ao Ministério dos Esportes, federações e CBF. Quais são as principais reivindicações e o que se espera em termos de retorno?

Fabiana Albino – Na verdade, esse relatório foi encaminhado para uma comissão política que está envolvida com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Ainda haverá um contato direto com o Ministério dos Esportes – provavelmente em janeiro.

A profissionalização do futebol feminino foi o tema central do encontro. No próprio Footecon 2011, houve um debate em uma das mesas sobre os problemas do futebol de base no Brasil. Isso é muito mais sério no futebol feminino.

Hoje, uma atleta, por ser considerada amadora, por todos os “contras” da Lei Pelé, pode sair a qualquer momento de um clube e migrar para outro. Isso é um problema. Temos garotas nas quais investimos há anos, contamos com as mesmas para muitos campeonatos, e no fim da temporada acaba deixando nosso clube para atuar em outro, em outro Estado, para alguma disputa específica.

Além de uma brecha na legislação esportiva, também se trata de uma falta de amparo das próprias federações estaduais. Esses órgãos poderiam ter uma forma burocrática de documentação. Não há esse diálogo.

Uma sugestão para solucionar essa questão seria cada uma das federações criar uma representação de futebol feminino dentro de sua estrutura. Assim como há na CBF – que existe, apesar de não funcionar como deveria.

Não existe um calendário anual de futebol feminino. O que emperra uma série de avanços com patrocinadores e outros parceiros comerciais. É muito difícil se conseguir, inclusive, informações referentes a número de atletas em ação, clubes, competições, etc.

Em São Paulo, no próprio Museu do Futebol, as referências sobre o futebol feminino são muito poucas. Há uma ou outra foto ilustrando a história da Marta. E nada mais. Se eu tivesse que fazer uma tese sobre o futebol feminino, aquele espaço não seria ideal para pesquisas do tema, por exemplo. Trata-se de uma lacuna histórica.


Fabiana Albino coordenou em 2011 dois encontros sobre o futebol feminino no Rio: alvo é lutar pela profissionalização a partir de apoio governamental

 

Universidade do Futebol – Ainda no evento, foi questionada também a forma de convocação de atletas para a seleção brasileira feminina principal. Que tipo de críticas você poderia destacar e o que essa “falha” representa em curto, médio e longo prazo à modalidade, de modo geral?

Fabiana Albino – Temos duas situações: a forma como funciona esse departamento na CBF e como é realizada a convocação. Percebemos que não há um acompanhamento da equipe que convoca – os “observadores”. Não existe, também, uma convocação oficial – falta comunicação com os clubes e geralmente alguém da CBF procura diretamente a atleta selecionada.

Durante a reta final da Copa do Brasil Feminina neste ano, aconteceu o Pan-Americano em Guadalajara, no México. Tivemos algumas atletas convocadas, o que ocasiona não um prejuízo – muito pelo contrario, até porque já não tínhamos chances – mas um “furo” no ritmo do elenco, em termos de treinamento, desgaste, modificações, etc. Justamente porque a CBF não senta com os clubes e define um padrão estratégico para isso.

Outro ponto é ter uma comissão técnica vinculada a um clube. Cito o exemplo do Kleiton Lima, que era treinador da equipe principal da seleção brasileira de futebol feminino e, simultaneamente, comandava uma equipe no Nordeste. Isso compromete a convocação. Em termos éticos.

Como alguém pode conseguir garantir uma convocação de qualidade se está envolvido com o funcionamento específico de seu clube? Mas o foco de responsabilidade é a CBF, e não o treinador em questão, por si só.

Universidade do Futebol – E como você viu essa mudança na seleção brasileira: saiu o Kleiton Lima, retornou o Jorge Barcellos?

Fabiana Albino – Eu estou muito otimista. Acho que a passagem dele [Jorge] foi positiva, com todos os problemas – e acredito que havia mais do que agora – e confio que será bem melhor.

Embora devamos, em uma análise do futebol feminino do Brasil, nos lembrar sempre do René Simões, que foi o responsável por colocar a modalidade no cenário esportivo. Ele, mais do que um técnico, foi um gestor. E infelizmente a CBF não soube aproveitar, não teve a sensibilidade, para não dizer inteligência, de usufruir de todos aqueles benefícios.

O Jorge Barcellos vem após René, com uma escola que tem uma mesma base, mas tenho o receio por essas escolhas – há uma nebulosidade política, mas isso é incontrolável aos pobres mortais fora da CBF. Mas estou otimista e acredito que ele está muito à frente em termos de experiência, coragem e ética do Kleiton Lima, em minha opinião.


Barcellos (abaixo) e René: o primeiro seguiu a escola do segundo, e está de volta à seleção brasileira principal

 

Universidade do Futebol – No Brasil, são poucas as linhas de pesquisa científica para identificação de talentos esportivos no próprio futebol masculino. De que maneira o Vasco, onde você atua, trabalha em seu departamento de formação a detecção de jovens com potencial para se tornarem atletas profissionais?

Fabiana Albino – No Vasco, o processo no futebol feminino é bem diferente do masculino. A primeira questão se refere às “peneiras”. Não realizamos, com as mulheres, esse tipo de teste. A menina que quiser ingressar às nossas equipes passa pela “academia de futebol”. Lá, ela irá participar no mínimo durante 30 dias, três vezes por semana, com um grupo de meninas que está trabalhando para entrar nas equipes.

São jogos no campo oficial, em campos sintéticos reduzidos, para avaliar determinadas características técnicas específicas, além de algumas testagens voltadas às questões físico-fisiológicas: velocidade, agilidade, velocidade de reação, força, coordenação, etc.

Serão no mínimo 12 momentos de jogo, para apresentação de habilidades, qualidades, entrosamento com determinado grupo de atletas, etc. Algo bem diferente do processo realizado com os homens aqui no Vasco.

Universidade do Futebol – Em se considerando os aspectos anatômico-fisiológicos característicos da mulher em comparação ao homem (menor estatura média, maturação mais rápida do esqueleto, ossatura mais fina, maior percentual de gordura corporal, diferenças do metabolismo, menor massa muscular, etc.), quais padrões de planejamento técnico, tático, físico e psicológico devem ser traçados para respeitar essas peculiaridades?

Fabiana Albino – Esse é um ponto muito difícil de conduzir. E é um dos motivos pelos quais temos no departamento um grupo de estudos que funciona com as pessoas que trabalham com futebol feminino. Devemos ter a partir de fevereiro os primeiros artigos publicados no Brasil sobre treinamento de futebol para jovens futebolistas.

Uma das ações que temos feito ligadas à detecção de talentos é a interdisciplinaridade com outras modalidades olímpicas. Um exemplo: todas as meninas da academia, tanto as que são aproveitadas, quanto as que não atuam nas equipes, fazem aulas de esgrima.

A mama, que pesa e altera o seu centro de gravidade, dificulta a manutenção da postura, da visão de jogo e do tempo de bola. E a esgrima cria uma noção mais precisa, de equilíbrio, que acaba se refletindo em campo e elas não têm de olhar o tempo inteiro para a bola, projetando o olhar vertical.

Outro exemplo: a alteração hormonal é uma marca muito forte entre os gêneros. Em especial o porcentual de gordura. E da gordura localizada. O quadril, os seios, a mama e o glúteo são possíveis depósitos de gordura que, juntamente com a composição hormonal, irão refletir no desempenho. A espacialidade da mulher no campo de jogo, então, será diferente.

A maior parte do número de quedas no futebol feminino é para frente. Temos um estudo encaminhado para isso. O treinamento é voltado para o controle de percentual de gordura, agilidade, peso, levando sempre em consideração essa estrutura física dos depósitos de gordura para não forçarmos as articulações.

Temos também um trabalho de esportes com membros superiores, para trabalhar a relação da atleta com o espaço – mas isso não é específico por causa do gênero. De 90 minutos que se joga, mais de 80% do tempo a atleta não estará com a bola. E nesse período ela deve saber tudo que irá fazer com o corpo, inclusive os membros superiores, a fim de melhorar a parte biomecânica e da psicomotricidade.


"Queremos um departamento de formação de atletas de excelência, e nosso projeto é amparado nas bases educacionais desse processo", revela Fabiana

 

Universidade do Futebol – É possível se falar em uma “escola brasileira de futebol feminino”, ou esse modelo específico de jogo nacional entre as mulheres está retomando seus passos iniciais?

Fabiana Albino – Não. Acho que estamos muito longe de ter uma escola de futebol masculino, inclusive. Não sabemos como aproveitar nossos talentos, em âmbito geral. No caso do futebol feminino, estamos fazendo contato com a Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, para estabelecer alguma parceria de ordem acadêmica. A partir daí, esperamos, que a “escola brasileira de futebol feminino” possa começar a ser construída.

Para mim, a única equipe muito diferente no mundo é a japonesa, que venceu o Mundial. Não consigo detectar diferenças técnicas entre atletas brasileiras provenientes de diferentes localidades, por exemplo: a carioca, a paulista, a mineira, a baiana, etc, jogam de modo muito parecido.

Universidade do Futebol – O futebol feminino ainda encontra dificuldades para expandir-se e atingir a grande mídia. Como evoluir diante desse cenário?

Fabiana Albino – Entramos aí na linha histórica em termos de gênero da mulher no país em que vivemos. O Brasil é o país do futebol. Do futebol masculino. Não tenho dúvidas disso. Não é o país do esporte. É o país do esporte masculino.

O voleibol feminino, por exemplo, tem um passado de desprestígio, de falta de atenção, tão grande quanto o futebol feminino. E há muito pouco que começou a ganhar espaço na mídia, a partir da organização de ligas, de um status político e hoje as meninas estão em ascensão. No nosso caso não será diferente. Vai ser muito difícil, também.

Não gosto desse papo de gênero ligado ao feminismo. Para eu explicar isso, não vejo outro caminho que não seja este. Especialmente porque o futebol feminino começou muito mal, como amador.

Dentro do Vasco, quando o nosso departamento foi retomado, o conselho se reuniu com o presidente para saber se estaríamos vinculados ao futebol masculino ou a outra modalidade. O Fluminense, neste ano, encerrou suas atividades também por conta disso. Os dirigentes não sabem o que fazer com o futebol feminino, e na esteira disso, os patrocinadores não se entusiasmam.

Acredito que até poderia haver mais boa vontade, mas a realidade é que as empresas e parceiros não sabem como atingir esse alcance ao lado de nossa categoria. E se tiver que apontar um culpado, sinalizaria a CBF.

Nos estatutos de clubes esportivos, há indicação para um determinado número de modalidades olímpicas. As equipes ligadas às mulheres deveriam ser vistas como obrigatoriedade.

Há uma lacuna deixada pela CBF. Deveria partir da entidade máxima uma ação planejada. Mas é muito difícil. Quando sentamos com eles para conversar sobre um calendário, por exemplo, para muitos soa como se quiséssemos algum “favor” ou um “ganho”. Queremos apenas o desenvolvimento do futebol feminino. É uma entidade micropolítica, quase uma máfia, que detém um poder de boa parte da economia do Brasil.

Pedimos seriedade por parte da CBF, atenção. Ela não quer nem mapear quantas atletas estão em ação no Brasil... Como um possível parceiro vai se interessar em vincular a marca dele a um clube que não sabe quando, onde e com quem irá jogar?

Se eu tivesse que identificar o grande problema em relação à mídia: falta de apoio e descaso da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).


Questão histórica também é um dos impeditivos para o crescimento do futebol feminino no Brasil

 

Universidade do Futebol – Você citou o valor do futebol japonês, em especial na última Copa do Mundo de futebol feminino. Há alguns cases de sucesso, como nos Estados Unidos, bem como estruturas consolidadas no Canadá, na Alemanha e na Suécia. Existe algum tipo de intercâmbio entre você e profissionais estrangeiros para auxiliar nesse desenvolvimento da modalidade?

Fabiana Albino – No ano passado, a presidente do Comitê Internacional do Mundial da Alemanha, a Steffi Jones, nos fez uma visita, foi até o clube, mas ela tem toda uma realidade européia sobre o futebol feminino.

Nunca tive contato com o Japão, até um pouco por conta da característica asiática [serem mais fechados]. Nos Estados Unidos, há uma equipe regional que sempre visita o Vasco para a realização de uma espécie de clínica entre atletas e profissionais da área técnica – um encontro amparado pelo consulado norte-americano.

Não acredito ser fácil esse intercâmbio, em virtude da nossa organização esportiva falha. E estendo isso a todos os esportes.

Nos EUA e em todos os países da Europa, há geralmente uma grande organização esportiva, e aquelas regionais, vinculadas a esta grande entidade. Os braços, federações e confederações, fazem o que querem e o que não querem, sem qualquer tipo de integração com o ministério governamental.

Hoje a CBF é totalmente independente do Ministério dos Esportes. E as federações estaduais, idem.

O Bolsa-Atleta, um grandioso projeto nacional, é muito ruim. Muito dinheiro perdido, e poucos atletas sendo efetivamente beneficiados. É o retrato da nossa organização política.

O que o Ministério dos Esportes faz hoje no Brasil? Apenas realiza trabalho de distribuição de verbas. Quem cuida do avanço técnico das diversas modalidades? Há uma representação que tem um ministro a cada hora, e pouco conhecimento técnico-científico.


Visão europeia de Steffi Jones em visita ao Vasco e clínicas com norte-americanos: processo de intercâmbio não é tão fácil quanto parece

 

Universidade do Futebol – Em um relato pessoal publicado em nosso site, Cristina Fonseca, uma ex-jogadora profissional e atual mestranda em Psicologia do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, disse: “de alguma forma o futebol me conectava à liberdade e à criatividade, à ação e ao movimento, ao inesperado e ao possível, e tudo isso desencadeava uma certa numinosidade que no final se traduzia em vida”. Qual é a representatividade desta modalidade para você?

Fabiana Albino – O que ela falou é como eu vejo a expressão de motricidade entre as meninas que jogam: o fato de se ter liberdade, se sentir viva. Para sobreviver no planeta em que sobrevivemos, temos uma natureza motora. Você sobreviveria se você não falasse, não ouvisse, não tivesse estudado, etc., mas não sobreviveria se não tivesse movimento. O planeta é cinético. A partir disso, fomos ao longo da evolução humana melhorando essas combinações de movimento.

O esporte é um refinamento do que podemos fazer com esse movimento. E o futebol, especificamente, por ser um esporte coletivo, te traz essa responsabilidade unitária e ao mesmo tempo conjunta; o fato de ter um objetivo a partir de um implemento, que é a bola, pelos pés, como se aquele implemento fosse parte do seu corpo e ele ser colocado em evidência; e por ter no Brasil o futebol feminino um espaço tão reduzido, uma menina que consegue se “profissionalizar”, é algo muito relevante.

A nossa cultura é baseada no futebol, e a mulher consegue criar esse espaço. É a expressão desta motricidade: meu corpo se movimenta dentro de um ambiente sócio-cultural.

Tem uma história, também, de menina que foi convocada para a seleção sub-17. Ao contrário da maioria, ela é de uma família que tem um poder aquisitivo muito bom. O pai dela é almirante da Marinha. E a garota, chamada Ana Clara, iria ser colocada aos sete anos de idade no Balé. Quando mãe e filha foram a uma loja de materiais esportivos comprar uma sapatilha, a criança se encantou por uma chuteira, fez o pedido e revelou que queria jogar futebol.


Sub-15, sub-17, sub-20 e equipe principal: Vasco quer retomar crescimento de baixo para cima, a partir de um conceito pedagógico consolidado

 

Universidade do Futebol – De que maneira o Vasco pode atuar na “humanização” do futebol feminino, aumentando ainda mais a relação com cada atleta e integrando a família ao trabalho do clube?

Fabiana Albino – A gente faz algo muito pequeno ainda. Temos uma comissão de pais com quem agendamos reuniões periódicas a partir do departamento de futebol feminino. Não acreditamos na “masculinização” proporcionada por esse esporte – como é falado por muitas pessoas, que ficam presas a essa visão cultural.

Em todos os segmentos temos homossexuais e não é algo diretamente relacionado e típico do nosso ambiente.

Alguns pais, também, mantêm contato com torcidas organizadas em determinados campeonatos, por exemplo, em um processo de tentativa de conscientização do público. Levamos também psicólogas para conversar sobre esse tipo de temática. Mas é muito pouco e temos de avançar.

Uma das metas para 2012 é marcar palestras nas escolas públicas em torno do clube, que irá envolver não apenas alunos, como todas as pessoas da comunidade. Queremos captar mais pessoas para esse contexto. A estratégia da humanização passa por aí.


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domingo, 11 de dezembro de 2011

Japão desiste de Mundial de clubes para focar feminino

"Se tivermos o Mundial todo ano, fica complicado organizar outras competições", admitiu Junji Ogura, presidente da associação de futebol do Japão

Sede do Mundial de clubes da Fifa neste ano, o Japão já decidiu que não vai postular o direito de organizar as próximas edições do torneio. A ideia faz parte de uma estratégia dos asiáticos, que pretendem focar esforços na realização de competições de futebol feminino.

Neste ano, a seleção japonesa foi a grande surpresa na Copa do Mundo de futebol feminino. O time asiático terminou a Copa do Mundo da modalidade na segunda posição, atrás somente da anfitriã Alemanha.

O desempenho ratificou o interesse gerado pelo futebol feminino no Japão. Por isso, o país pretende brigar para sediar eventos da modalidade nos próximos anos. O primeiro foco será a Copa do Mundo sub-20, que já será no Uzbequistão em 2012 e migrará ao Canadá dois anos depois.

"Se tivermos o Mundial todo ano, fica complicado organizar outras competições", admitiu Junji Ogura, presidente da associação de futebol do Japão.

Com a desistência do Japão, sede do Mundial de clubes em 2008, 2009 e 2011, Marrocos é o único país confirmado na disputa para receber o evento a partir do próximo ano. Irã, África do Sul e Emirados Árabes também deixaram a concorrência.

Fonte: Máquina do Esporte / Por: Universidade do Futebol

Tags: Japão, Futebol feminino, negócios, investimento

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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Com Santos e Boca, CVC investe no futebol feminino

REDAÇÃO
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

 

 

A operadora de turismo CVC decidiu investir no futebol feminino. A empresa fechou contratos com as equipes de Boca Juniors e Santos para a modalidade, com foco na disputa da Copa Libertadores.

 

A principal competição de futebol feminino da América do Sul teve início no último domingo, com decisão prevista para o dia 27 deste mês. A CVC não revelou o valor investido, mas estará nos uniformes dos dois times.

 

Além da CVC, que terá espaço no peito da camisa, o Santos fechou com a Meltex para o futebol feminino. A empresa trabalha com distribuição e gestão de marcas, e ocupará os ombros do uniforme alvinegro durante a Libertadores.

 

“Todos os jogos das Sereias da Vila serão transmitidos ao vivo pelo SporTV. Teremos exposição da equipe em rede nacional. Com isso, conseguimos fechar esses patrocínios pontuais para a equipe”, disse Armênio Neto, gerente de marketing do Santos, em entrevista ao site oficial do clube.

 

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Apenas um objetivo no Vitória: o título da Copa do Brasil

Folha de Pernambuco

Todas unidas e com um único objetivo: o título da Copa do Brasil. Esse é o mote que está regendo o time do Vitória frente ao caminho em busca do feito inédito para a agremiação e para o Estado. De acordo com o treinador taboquito, Kleiton Lima, o time feminino do Tricolor das Tabocas está “fechado” para superar as adversárias e levantar a taça para o time pernambucano. O fato é tanto que, segundo o técnico, não existem regalias nem para as meninas que vieram da seleção brasileira. “Aqui, todas estão com o mesmo objetivo”, ressaltou.

Na semana que antecede o primeiro embate das semifinais da competição, em que o Vitória enfrentará o Rio Preto/SP, no próximo sábado, em Vitória de Santo Antão, Kleiton chamou a atenção para a disposição das atletas, focadas não só na busca da vaga na final, mas também na taça. “Todo mundo aqui está bem empolgado com a possibilidade de levar essa conquista para um time do Nordeste”, afirmou o comandante. E, segundo Kleiton, o grupo está tão determinado que as jogadoras vindas diretamente do Pan de Guadalajara não querem saber de corpo mole ou cansaço. “São meninas jovens e estão muito dispostas. Elas chegaram aqui e se juntaram ao restante do grupo para realizar os treinamentos. Vieram focadas. O que passou com a seleção ficou para trás”, disse.

Para Kleiton, a atitude das jogadoras vindas da seleção, integradas àquelas que continuaram com os treinamentos em Vitória de Santo Antão, demonstra a força do time pernambucano na busca pela primeira colocação do campeonato nacional. “Mesmo interrompendo a programação para assumir o compromisso com a seleção, nosso planejamento foi mantido. Todas as atletas estão muito motivadas e querem muito este título”, finalizou o comandante.

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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Artigo] Pensando o futebol feminino

 

O Estatuto do Torcedor (de novo) e a Copa do Brasil



Não é de hoje e a reclamação é geral: o que prejudica o futebol feminino brasileiro é a falta de um calendário. Ok, sabemos que no segundo semestre acontece a Copa do Brasil, a Libertadores Feminina, o Torneio Cidade de São Paulo de Seleções e demais competições internacionais definidas pelo calendário da FIFA.

Mas também não é de hoje que vejo que algumas federações realizam seus estaduais muito porcamente, às pressas, apenas para mandar seu representante para a disputa da Copa (perdi as contas de quantas vezes já disse isso.)

lu castro12082011(1)Ora, se de 2007 para cá temos uma competição nacional regular, por que cargas d'água as ditas federações ainda não se organizaram de modo a organizar a competição feminina de sua unidade da federação da melhor maneira possível?

Digo tudo isso após receber de uma leitora do meu blog O Laço da Chuteira, a notícia que segue 
neste link.

Por coincidência ou não, tenho abordado o Estatuto do Torcedor e já que a nota linkada trata do artigo 9º, vejamos do que o mesmo trata:
"Art.9º - É direito do torcedor que o regulamento, as tabelas da competição e o nome do Ouvidor da Competição sejam divulgados até sessenta dias antes de seu início, na forma do parágrafo único do art.5º.
§ 1º: Nos dez dias subseqüentes à divulgação de que trata o caput, qualquer interessado poderá manifestar-se sobre o regulamento diretamente ao Ouvidor da Competição.
§ 2º: O Ouvidor da Competição elaborará, em setenta e duas horas, relatório contendo as principais propostas e sugestões encaminhadas.
§ 3º: Após exame do relatório, a entidade responsável pela organização da competição decidirá, em quarenta e oito horas, motivadamente, sobre a conveniência da aceitação das propostas e sugestões relatadas.
§ 4º: O regulamento definitivo da competição será divulgado, na forma do parágrafo único do artigo 5º, quarenta e cinco dias antes do seu início.
§ 5º: É vedado proceder alterações no regulamento da competição desde sua divulgação definitiva, salvo na hipóteses de:
I - apresentação de novo calendário anual de eventos oficiais para o ano subseqüente, desde que aprovado pelo Conselho Nacional de Esporte (CNE);
II - Após dois anos de vigência do mesmo regulamento, observado o procedimento de que trata este artigo."

Vamos ao art.5º - São asseguradas ao torcedor a publicidade e transparência na organização das competições administradas pelas entidade de administração do desporto, bem como pelas ligas de que trata o art. 20 da Lei nº 9.615, de 24 de março de 1998.

No texto anterior expus a situação da disponibilização de ambulância, médico e enfermeiros nos estádios, que de acordo com o Estatuto é de responsabilidade da entidade organizadora do evento, no caso, a Federação Paulista de Futebol e seu estadual feminino.

Neste caso do MP de Alagoas, cabe uma análise mais ponderada acerca da situação, especialmente no que se refere ao disposto na reportagem, no seguinte trecho: "Para os promotores, pela maneira açodada como foi feita, resta, tão somente, um interstício de 23 dias para o início do campeonato, bem a menor do que é previsto pelo Estatuto do Torcedor, fato que traz inúmeros prejuízos aos times pequenos (como por exemplo, o União Desportiva Alagoana Ltda., que irá representar o Estado de Alagoas na Copa do Brasil Feminina), os quais precisam de tempo para a captação de patrocínios, preparação física, técnica e tática adequadas, bem como, impede que o campeonato possa ser divulgado de forma satisfatória."

Claro que a CBF desrespeita claramente o que determina a Lei 10.671/2003, como a Federação Paulista também o faz e como tantas outras entidades seguem ignorando o que determina a lei que protege os direitos do torcedor/consumidor, porém é importante que consideremos a parte destacada do argumento da MP sobre os prejuízos ao time que representará o estado das Alagoa na Copa do Brasil. A Federação Alagoana de Futebol não tem conhecimento que todo santo ano a CBF organizará a Copa do Brasil de Futebol Feminino? Por que então a referida organizadora do futebol alagoano não define um calendário de modo que os clubes tenham como se planejar? 

Vejam, concordo integralmente com o argumento do promotores alagoanos no que se refere ao descumprimento do prazo pela organizadora da Copa do Brasil de Futebol Feminino, mas citar prejuízos aos clubes "pequenos" é no mínimo, uma das desculpas mais esfarrapadas que já ouvi. Que apresentem projetos, botem a cachola pra funcionar, comecem a pensar na modalidade de modo mais sério e com mais respeito e cobrem da Federação local a atenção e organização devidas.

No mais, tenho minhas dúvidas sobre o poder da justiça em interromper a competição. Já vi várias situações onde o Plano de Ação (baseado no Estatuto do Torcedor) da Copa do Brasil foi descaradamente descumprido, decisões tomadas no tapetão e nada foi feito. E segue o cortejo.


Luciane de Castro é colaboradora do portal Futebol Feminino Profissional e e blogueira do site Futebol para Meninas para o futebol feminino. Você também pode segui-lá no twitter @Lu_dCastro

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