terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Categoria Aberta para o Feminino Livre e Sub-17

Escrito por Organização BFF2011

Seg, 21 de Fevereiro de 2011

O BFF2011 vai prestigiar o futebol feminino abrindo 02 categorias no 4º campeonato internacional de futebol infanto-juvenil, que será realizado em Jaú-SP, no período de 16 a 23 de julho de 2011. As equipes interessadas poderão se inscrever na categoria SUB-17 ou na categoria FEMININO LIVRE (acima de 17 anos). Os organizadores do evento já estão providenciando convites para observadores técnicos (olheiros) e divulgando o evento para equipes femininas estrangeiras. O representante Europeu do BFF, Aroldo Strack, acenou com a possibilidade de trazer equipes da Dinamarca, onde desenvolve um trabalho com as garotas da Escandinávia. (veja matéria no site)

Esta é uma excelente oportunidade para clubes que investem no Futebol Feminino. o 4º BFF terá cobertura da imprensa e olheiros nacionais e internacionais.

Foram reservadas apenas 08 vagas em cada categoria, equipes interessadas não devem perder tempo e precisam fazer sua inscrição imediatamente através do formulário eletrônico do site.

É o BFF prestigiando o Futebol Feminino Brasileiro.

CLIQUE AQUI PARA INSCREVER SUA EQUIPE! 

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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Profissionalização do futebol feminino na Austrália rende benefícios à seleção nacional

Liga criada em 2008 permitiu a formação de novas atletas, minimizando os efeitos negativos da transição de geração

Equipe Universidade do Futebol

O ano de 2007 foi especial para o futebol feminino da Austrália. A equipe principal alcançou, de maneira inédita, as quartas de final da Copa do Mundo da categoria. À ocasião, porém, o país sequer contava com uma liga profissional. Quatro anos depois, a realidade é bem distinta.

A maioria das jogadoras que se preparou com treinos nas suas respectivas cidades, quase sempre contra times de garotos de até 15 anos, apenas com alguns jogos intercalados pela própria seleção, encontraram um respaldo dos representantes oficiais locais. A W-League, principal competição de futebol entre mulheres australiana, chegou ao fim da terceira temporada, algo que rende frutos ao treinador da seleção, Tom Sermanni.

Ele aposta que a profissionalização se refletirá no Mundial Fifa 2011, com um desempenho regular, apesar das adversidades – a Austrália caiu no grupo do Brasil, da tradicionalíssima Noruega e da novidade africana Guiné Equatorial. 

“Dois anos atrás eu estava muito preocupado com a geração que estava aparecendo. A seleção estava passando por uma grande transição naquele momento, e nós precisávamos fazer mudanças significativas. Não havia um grupo de jogadoras prontas para a mudança, e estava difícil encontrar de onde tirar as alterações”, revelou Sermanni.

O comandante perdeu diversas jogadoras experientes nos quatro últimos anos, como Joanne Peters, Dianne Alagich, Alicia Ferguson e Cheryl Salisbury, grande estrela da companhia. Nesse período transitório, uma goleada de 5 a 1 sofrida diante da Itália, no início de 2009, expôs as fragilidades.

“A W-League foi benéfica de muitas maneiras. A competição abriu um caminho de formação para jogadoras que estavam às margens da seleção, muitas das quais eram totalmente desconhecidas para nós”, admitiu Sermanni, que treinou a Austrália tanto no Mundial de 2007, quanto no de 1995.

A liga é composta por sete equipes; seis delas, inclusive, são afiliadas a um time da liga masculina, o que dá maior credibilidade e visibilidade ao torneio.



 

No último fim de semana, Brisbane Roar e Sydney Football Club disputaram a decisão da temporada, com vitória do time de Brisbane após um gol de Lisa De Vanna, uma das principais jogadoras australianas da Copa do Mundo Feminina de 2007.

Ao todo, 16 das 20 jogadoras de linha presentes na decisão faziam parte da seleção nacional. Além disso, muitas atletas de outros países aproveitaram para disputar o torneio e passar o verão na Austrália, como Alexandra Nilsson (Suécia), Tine Cederkvist (Dinamarca) e Kendall Fletcher, Lydia Vandenbergh e Allison Lipsher (todas dos Estados Unidos).

“O nível de competição e seriedade cresceu, assim como o desempenho. As equipes melhoraram a preparação, o recrutamento, a organização. Tudo isso se combinou para uma grande elevação neste ano, com um salto significativo na última temporada”, sinalizou Sermanni, ainda em entrevista ao site oficial da Fifa.

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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Responsabilidade social na formação de atletas para o futebol – a sustentabilidade

Atitudes voltadas para a sustentabilidade e promovidas por clubes podem tanto repercutir positivamente para a sociedade, quanto melhor a imagem corporativa da instituição esportiva

Geraldo Ricardo H. Campestrini*

A busca pela sustentabilidade em nosso planeta a partir de pequenas atitudes, decisões e condutas dentro do raio de ação das organizações ou mesmo particulares, faz parte de um princípio básico que visa à manutenção da espécie humana em harmonia com a Terra hoje, para a atual geração, e futuramente, para as gerações vindouras.

A definição mais cabível de sustentabilidade e aceita mundialmente é a proposta pela WCED (World Comission on Environment and Development), que diz: “atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras (WCED, 1987).

Naturalmente que boa parte desta responsabilidade sobre a sustentabilidade do planeta recai sobre o ambiente corporativo pela dimensão e impacto que suas decisões possuem no cotidiano das pessoas.

No contexto esportivo, Cunha (2007) reforça estas palavras iniciais afirmando que, a fim de garantir o desenvolvimento do desporto como um todo, tal e qual cita Castejón Paz (1973) na proposta dos “Fatores de Desenvolvimento do Desporto”, é imprescindível identificar as decisões que devem ser tomadas, com foco naquelas que são prioridade e as outras que são secundárias, quais as que têm maior influência na estrutura organizacional e as que possuem apenas relevância acessória para se ter a real noção das que provocam maiores alterações ou sustentabilidade no sistema e as que se constituem com um aspecto de indiferença maior.
Baseado nisso, propomos no terceiro item da Carta Internacional de Responsabilidade Social para a Formação de Praticantes no Futebol (CIRESP-FUTE 2009) a preocupação que as entidades ligadas ao futebol devem ter perante a sustentabilidade:

III. Sustentabilidade

(a) Econômica: exercer as suas atividades aplicando o princípio da sustentabilidade econômica de modo a evitar prejuízos para a comunidade;

(b) Social: contribuir, através de participação social voluntária, para o desenvolvimento social da comunidade;

(c) Partilhada: apoiar, pelo exercício de partilha de recursos próprios – humanos, materiais e financeiros – e, na medida das suas possibilidades, causas sociais comunitárias.

O item III-a aponta para a necessidade premente relacionada a eficiência econômica necessária para a existência de uma organização. Esta definição foi comentada outrora nos textos anteriores sobre a temática e, sob esta ótica, a empresa que não gera lucro é socialmente irresponsável.

Carroll (1991) comenta que, na componente econômica, a organização necessita, entre outras coisas, estar empenhada em ser tão rentável quanto possível e manter um elevado nível de eficiência operacional.

Nas organizações esportivas e, falando especificamente do futebol, se o clube opera suas atividades em prejuízo, gastando mais do que arrecada, estará incorrendo em irresponsabilidade pois gerará um ciclo vicioso de calote à sociedade, não tendo capacidade de pagamento adequado para fornecedores, atletas, funcionários e demais envolvidos e que, consequentemente, se converterá em uma sequência de prejuízos em pequenas escalas.

No campo da sustentabilidade social, proposto no item III-b, há a referência para a participação social voluntária na promoção e idealização de projetos sociais que favoreçam a sociedade como um todo.

Trata, portanto, da medida possível que um clube de futebol pode dar de contributo extra para a comunidade, dentro de sua capacidade de atendimento e recursos disponíveis para tal atividade.

Exemplo disto são os projetos realizados por Sport Club Internacional, Clube de Regatas Vasco da Gama, Clube Atlético Mineiro, Clube Atlético Paranaense e Fluminense Football Club, citado em Campestrini (2009), que divulgam em seus respectivos web-site oficiais os projetos de interesse para a sociedade e organizados pelo próprio clube: Fundação de Educação e Cultura do Sport Club Internacional (Internacional), Fábrica de cidadãos e Projeto apostando no futuro (Vasco da Gama), Educação se faz também pelo esporte (Atlético Mineiro), Projeto Escola de Futebol e Pulseiras (Atlético Paranaense), Programa Flu (Fluminense), fazem parte de um conjunto de ações que objetivam a contribuição para o desenvolvimento social das comunidades onde estes clubes estão inseridos.

Por fim, quando referencia-se à sustentabilidade partilhada no item III-c, propõe-se, além da construção de projetos próprios, o apoio a causas sociais de entidades governamentais ou não-governamentais que busquem a melhoria das condições de vida da comunidade.

Neste caso, a importância do futebol poderá passar pela cedência de um espaço por determinado período de tempo para a realização de uma atividade de lazer ou educacional, ou mesmo como apoio para a recepção de doações de qualquer natureza; o incentivo para que seus colaboradores internos exerçam atividades relacionadas com o bem-estar da comunidade de maneira voluntária ou mesmo, em certa medida e dependendo da estrutura do clube, a doação em espécie como forma de apoio para que outras entidades pratiquem suas atividades sociais.

O FC Barcelona é o exemplo mais clássico desta última proposição em razão de seu apoio a causas sociais do UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), abrindo mão da receita proveniente de uma grande marca patrocinadora e doando 1,5 milhão de euros por ano para a ajuda a programas humanitários da instituição.

As consequências positivas para o FC Barcelona sobre a sua imagem corporativa são enormes, e Dionísio (2007) aponta que estrategicamente o clube trabalha sua marca baseado em dois pilares fundamentais:

- a desportiva, com aposta na contratação de grandes jogadores, cuja mais-valia desportiva possa trazer receitas ao clube;
- a social, com a implementação de um vasto leque de ações sociais de apoio a grupos mais desfavorecidos, sobretudo ao nível internacional, e a afirmação dos valores culturais da região.

Outro modelo interessante e relacionado a sustentabilidade partilhada é a campanha “Sangue Corinthiano”, do Sport Club Corinthians Paulista, que promove, três vezes ao ano, o “Dia de Corinthiano Doar Sangue”, incentivando que seus fiéis torcedores se dirijam ao hemocentro de sua cidade e doem sangue. A campanha, além de contribuir para uma causa social, ajuda na fidelização e orgulho do torcedor, que passa a enxergar a força que possui dentro da sociedade. A campanha conta com site oficial, comunidade em sites de relacionamento, vídeos e apoio das duas maiores torcidas organizadas do clube.

Com isto posto, atitudes voltadas para a sustentabilidade e promovidas por clubes de futebol, se bem planejadas, são uma via de mão-dupla com repercussão positiva tanto para a sociedade e comunidades atentidas como para o clube, na aproximação a seus diversos stakeholders e melhoria de sua imagem corporativa.

Referências

CAMPESTRINI, Geraldo R. H. (2009). A responsabilidade social na formação de praticantes para o futebol: análise do processo de formação em clubes brasileiros. Dissertação de Mestrado em Gestão do Desporto da Faculdade de Motricidade Humana de Lisboa, Portugal.

CARROLL, Archie B. (1991). The Pyramid of Corporate Social Responsibility: Toward the Moral Management of Organizational Stakeholders. Business Horizons, July-August.

CUNHA, Luís Miguel. (2007). Os espaços do desporto: uma gestão para o desenvolvimento humano.Coimbra: Edições Almedina.

DIONÍSIO, Pedro. (2007). O desenvolvimento das marcas, a responsabilidade social e os clubes desportivos. Jornal de Negócios, terça-feira, 12 de Junho de 2007, p. 35.

FÚTBOL Club Barcelona. Disponível em: http://www.fcbarcelona.com.  Acessado em: 28/Jan/2009.

SANGUE Corinthiano. Disponível em: http://www.sanguecorinthiano.com.br. Acessado em: 23/Jan/2010.

WCED. (1987). Our Common Future, Oxford University Press, Oxford/New York.


*Mestre em Gestão do Desporto pela Faculdade de Motricidade Humana; Bolsista FIFA (“Havelange Scholarship” – CIES/FIFA); professor da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE).

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O futebol feminino precisa ser compreendido

Futebol Feminino: Investir no Esporte é Investir em Responsabilidade Social

Eduardo Pontes
 
 
O futebol feminino vem crescendo no país do futebol e sites especializados no assunto como o Futebol Feminino Profissional e o blog das atletas Laylla e Fabiane ( Uma vida com Futebol ) noticiam peneiras e campeonatos em todo Brasil, além de muitas outras notícias sobre o assunto.

O surpreendente é que, apesar deste visível crescimento, ainda existe muita dificuldade na aquisição de apoio e patrocínio.

O futebol feminino é uma grandiosa modalidade com cerca de 1.500.000 (um milhão e quinhentas mil) atletas praticantes. E onde estão as empresas de produtos para a mulher como cosméticos, higiene pessoal, saúde e bem estar que não enxergam o potencial deste 'mundo feminino da bola'?

Apoiar este esporte não é apenas investir em marketing e calcular o quanto de lucro será obtido. É estar investindo na socialização e inclusão de muitas meninas e mulheres que buscam um futuro melhor.

"INVESTIR NO ESPORTE é investir em RESPONSABILIDADE SOCIAL!"

Quem trabalha no ramo conhece a realidade de meninas sem uma estrutura familiar, sem estrutura financeira e que vêem no esporte a possibilidade de algo melhor, de sentir-se bem.

Meninas que não tem dinheiro para comprar uma chuteira, que passam meses a comer angu (massa espessa, geralmente de farinha mandioca ou de milho, frequente na cozinha brasileira) por não ter outra opção, e que precisam do esporte.

Até quando o país de Zico, Garrincha, Leônidas da Silva, Romário, Ronaldo, e muitos outros, vai deixar nossas 'Martas, Cristianes, Fernandas, Fabianes, Cristinas e Joanas' lutarem 'sozinhas'?

Por sorte existem pessoas que acreditam e se esforçam muito para tentar, mesmo com dificuldade, em levar o Futebol Feminino Brasileiro a novos rumos e patamares como Leonardo Allevato, Amadeu Vieira, Alexandre Amaral,Laylla e Fabiane, dentre outros (@Band_SP, @BombrilOficial).

Parabéns às atletas, treinadores, clubes e raras empresas que se empenham, investem e ajudam nessa busca por um futuro melhor do esporte e na vida de tantas meninas e mulheres brasileiras.

"Para muitos o esporte é muito mais do que um jogo, é a chance de recuperar a dignidade e confiança na busca por dias melhores!" - Eduardo Pontes

@Edu_pontes @leoallevato @layllamariana @Biane_1309 @FutFemininoPro@Band_SP, @BombrilOficial
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Projeto para o Futebol Feminino do Flamengo terá duas etapas

Está a cargo da presidente Patricia Amorim o pontapé inicial para que o futebol feminino se torne uma realidade no Flamengo. O projeto, já aprovado pelo Conselho Fiscal e encaminhado ao Conselho Diretor, foi apresentado ao técnico da Seleção Brasileira feminina, Kleiton Lima, mas depende do estabelecimento do calendário oficial da modalidade para evoluir.

A primeira etapa engloba as disputas do Campeonato Carioca e da Copa do Brasil. O Estadual prevê competições sub-17, no fim de maio, e sub-23, a partir de junho. Clube algum, por ora, confirmou presença. Já a Copa do Brasil, disputada desde 2007, terá início no dia 15 de setembro.

Posteriormente, em um segundo momento, o time rubro-negro iniciaria sua trajetória internacional. A participação na Libertadores em 2012 é o objetivo maior, incluindo também amistosos internacionais.

- O projeto tem bases para já ser iniciado este ano. É montar uma equipe para o Carioca e, futuramente, galgar uma Copa do Brasil e uma Libertadores. Recebi o convite nesse primeiro contato e, agora, é esperar a diretoria estabelecer as metas para a modalidade - explicou o treinador.

Os detalhes da montagem do grupo ainda são tratados internamente, mas a ideia do Flamengo é ter o modelo autosuficiente do Santos para a empreitada.

Nesse primeiro instante, a Copagaz, empresa que custeará a modalidade, desembolsará cerca de R$ 600 mil para criação e manutenção do time.

Em 2010, por exemplo, a Copagaz bancou R$ 1,2 milhão dos cerca de R$1,5 milhão destinados pelo clube paulista à modalidade.

Kleiton Santos assumiu a equipe feminina do Peixe em 1997, quando o clube tinha parcerias com cidades próximas a Santos.

Em 2009 e 2010 atingiu o auge com o bicampeonato da Libertadores.

O trabalho a longo prazo é apontado pelo técnico como um dos pilares para o sucesso do futebol feminino no Santos.

- Não começou da noite para o dia. Ganhou um alcance depois e o Santos, hoje, tem um grande departamento que auto se sustenta - comentou.


Bate-Bola: Kleiton Lima - Em entrevista ao LANCE!NET

Como aconteceu o processo de estruturação do futebol feminino no Santos?

O primeiro time foi montado ainda em 1997 em cima de algumas parcerias. Não havia muito investimento. Depois foi ganhando cara de profissional e de 2007 a 2010 as conquistas aconteceram. Fomos bicampeões paulistas, da Copa do Brasil e da Libertadores.

E como foram as conversas com Patricia Amorim?

A primeira conversa aconteceu na terça. Patricia é uma pessoa sensacional e está vendo a possibilidade do futebol feminino como um projeto bem legal. Conversamos sobre a base estrutural.

Qual a dimensão o clube quer atingir? Marta está nos planos?

Ainda é cedo para falar de elenco. É até precipitado. Sei da gama de jogadores que têm qualidade, mas não há conversas. Não há promessa alguma ainda da presidente. A única coisa que ela disse nesse sentido é que irá trabalhar para que o projeto de futebol aconteça.

E quando voltará a conversar com o clube?

Pediram para que eu aguarde, mas não foi falado um prazo. Vou fazer contatos e vamos tentar colaborar de alguma forma, além da parte técnica.

Fonte: LanceNet

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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Seleção feminina de futebol do Haiti: considerações acerca dos treinamentos técnico e tático

Opção foi pela forma globalizada de trabalho, rompendo com a teoria tradicional (analítico-reducioninista)

Alexandre Pereira Lemos e Augusto Moura de Oliveira*

Sabe-se da importância de fatores extrínsecos no tocante ao processo de treinamento de uma equipe de futebol. Diante disso, cabe sublinharmos a relevância da infraestrutura física, da equipe multidisciplinar e também de uma comissão técnica coesa e, principalmente, que atue respeitando uma sequência pedagógica e objetivando o cumprimento dos objetivos propostos durante a fase de planejamento.

Porém, o enfoque será dado ao processo de sistematização, elaboração e aplicação do treinamento técnico e tático da seleção feminina de futebol do Haiti, que esteve presente no Brasil por um período de 60 dias (setembro e outubro/2010) para efetuar vossa preparação para a Copa Ouro, competição organizada pela Concacaf em Cancún, no México, e que classificou as duas melhores equipes para a Copa do Mundo de futebol feminino que acontecerá na Alemanha neste ano.

Diante disso, abordaremos de forma sucinta e objetiva a metodologia utilizada para desenvolver os componentes técnicos e táticos da equipe feminina do Haiti. O treinamento foi desenvolvido de forma globalizada, a fim de otimizar a questão técnica dos gestos motores. É evidente que um repertório motor desenvolvido de forma adequada facilita a transferência para o elemento tático do jogo, visto que o maior repertório técnico influencia diretamente na tomada de decisão.

A opção pela forma globalizada de trabalho vem da ideia de que os elementos técnico-táticos estão diretamente ligados, assim a importância de desenvolver ambos em conjunto de forma ótima, rompendo com a teoria tradicional (analítico-reducionista).

Entretanto, não discutiremos os obstáculos estruturais e sociais que o país enfrenta há alguns anos e nem abriremos debate sobre os motivos dessa cultura motora não ter sido desenvolvida a contento. Aqui, delinearemos o estudo baseado nos fatos e dados observados através das intervenções práticas.

Para tanto, foram utilizados exercícios objetivando não apenas a correção do movimento e refinamento do gesto, mas a introdução do elemento técnico-tático cognitivo adaptando a equipe à forma globalizada de jogar. Logo, também fizemos uso de jogos adaptados e em espaço reduzido, criamos nos treinos inúmeras situações-problemas onde as atletas se depararam com momentos de tomada de decisão que se assemelham as situações inerentes ao jogo, haja vista que elas estão muito presentes nos aspectos cognitivos emocionais que estreitam as esferas do treino em forma de jogo e do jogo em si.

Sendo assim, buscamos desenvolver os princípios de ataque e defesa durante as sessões de treino e criamos jogos para execução das ações táticas específicas e situacionais, com a intenção de fornecer e nutrir o repertório motor e cognitivo das atletas a fim de equilibrar o desenvolvimento ofensivo e defensivo da equipe.

*Alexandre Pereira Lemos, graduando em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa é auxiliar técnico da seleção haitiana de futebol feminino.

Augusto Moura de Oliveira, professor Especialista em futebol, é técnico da seleção haitiana de futebol feminino.

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Gestão: Kleiton Lima e Flamengo negociam time feminino em SP

ERICH BETING
Da Máquina do Esporte, São Paulo - SP

Uma reunião nesta terça-feira entre o treinador da seleção brasileira de futebol feminino, Kleiton Lima, e a presidente do Flamengo, Patrícia Amorim, pode selar a criação de uma equipe da modalidade pelo clube carioca.

O time feminino do Flamengo, porém, deverá ficar sediado no Guarujá, no litoral sul de São Paulo, e faz parte de um projeto que vem sendo traçado desde o final do ano passado pela prefeitura da cidade para se transformar num centro de formação de atletas da modalidade.

Além da prefeitura local, o acordo entre Lima e Flamengo pode contar ainda com o apoio financeiro da Copagaz, marca que vem se tornando tradicional parceira do futebol feminino. A empresa patrocinou, há dois anos, o retorno de Marta aos gramados brasileiros ao investir no patrocínio ao time feminino do Santos. Agora, a diretoria da empresa estuda a proposta para ser a principal patrocinadora do clube, o que ajudaria a reforçar seu vínculo com a modalidade.

“O Flamengo é mesmo um clube imprevisível, administrativamente: quando dele se espera não vem, e quando vem nos surpreende com uma medida em prol do futebol feminino.”  --  Benê Lima

Os detalhes do acordo serão tratados nesta terça-feira, quando Patrícia Amorim pretende revelar à imprensa a intenção de o Flamengo ter uma equipe feminina de futebol. O clube, porém, não precisaria investir dinheiro na formação do time. A contrapartida rubro-negra seria a formação de um departamento de futebol feminino, além da óbvia cessão da marca para o uso pelo time sediado no Guarujá.

Kleiton Lima era, até pouco tempo atrás, treinador do time feminino do Santos, principal referência no futebol feminino na atualidade. No início do ano, porém, ele deixou o clube após atrito com a atual diretoria.

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Entrevista: Sávio Assis de Oliveira, mestre em Educação

Sávio Assis de Oliveira, mestre em Educação
Especialista na área fala sobre a 'reinvenção' do esporte e o que espera do legado social no País
Equipe Universidade do Futebol

Sávio Assis de Oliveira é um dos grandes contribuintes para a reflexão sobre a Educação Física escolar no País. Graduado na área, com especialização em Pedagogia do Esporte e mestrado em Educação, todos pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele é autor de “Reinventando o esporte: possibilidades da prática pedagógica”, obra que dialoga com a “desesportivização” da Educação Física e o não abandono do esporte pela escola.

A tematização básica são as discussões sobre a escola e suas relações com a sociedade capitalista, indicando que essa instituição possui importante papel na reprodução dos valores desse modo de produção. Por intermédio da Educação Física escolar, influenciada pela instituição esportiva, que a escola assume códigos, sentidos e valores da sociedade capitalista.

O livro tem como suporte o paradigma da cultura corporal e a metodologia crítico-superadora, colocando em xeque as “regras do jogo” do esporte moderno, apontando, com detalhes, as relações entre o fenômeno esportivo e a sociedade. Outro jogo seria possível? Sávio não tem dúvidas de que a resposta é positiva.

“O termo ‘reinvenção’ já procura trazer a ideia de que o esporte – e podemos contemplar o futebol – é invenção dos homens. Muitas vezes falamos em mudanças no esporte e parece ser impossível, como se ele não fosse uma produção humana. Como tal, podemos resgatar a dimensão humana das modalidades e tentar fazer diferente”, explicou o professor, que é membro do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) desde 1991, tendo exercido os cargos de secretário estadual em Pernambuco (1997-1998) e diretor de divulgação da Direção Nacional (1999-2001).

Tricolor pernambucano de coração, Sávio coordena desde 2009 o Grupo de Trabalho Temático "Políticas Públicas" da CBCE, tendo integrado o Comitê Científico deste GTT no período 2005-2007. Para ele, a abordagem específica da modalidade esportiva coletiva mais popular do mundo deve ser feita no plural – os “futebóis”, como ele costuma se referir a alunos e demais docentes.

“Pluralizar, fazendo um movimento que já é levantado por profissionais da pedagogia do esporte, é necessário, assim como entender o que dá identidade ao jogo do futebol e o que é possível mexer, mantendo-se o que é fundamental do jogo. Não só no jogo em si, temos de abordar tudo o que envolve esse ambiente”, indicou Sávio.

O futebol, crê, é uma possibilidade de inserção no mercado de trabalho, mas não apenas como jogador profissional. Sávio defende a ideia de que as crianças, nas escolas, tenham acesso a mais informações, sem a falsa promessa de que o esporte garante mobilidade social, com a mostra clara do conjunto de suas possibilidades e das suas contradições.

“Sempre trabalho com a ideia de que o professor precisa provocar o aluno a refletir. Esse processo deve se realizar a partir da interação entre as duas partes, e não de uma forma pronta e acabada. Tanto os professores em relação às grandes políticas, e os alunos em relação ao planejamento dos professores, são os piores executores daquilo que não gostaram e de que não participaram”, completou.

Entre outros pontos abordados nesta entrevista à Universidade do Futebol, o ex-secretário adjunto de Educação da cidade do Recife (2001-2004) e atual professor da Faculdade Salesiana do Nordeste (FASNE) analisou o legado previsto com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 – em especial na área social –, conferiu um diagnóstico da Educação Física e das Ciências do Esporte atualmente no Brasil e falou sobre qual a possibilidade de instrumentalizar o futebol para integrar novos conhecimentos a partir das escolinhas.




Reinventando o esporte: possibilidades da prática pedagógica 


Universidade do Futebol – 
Quem é o profissional – e o ser humano – Sávio Assis de Oliveira e como se construiu sua relação com o futebol?

Sávio Assis – Meu envolvimento com a educação física se dá desde a escola, ainda como aluno, com o voleibol. Em função desse prazer em relação à área, resolvi que profissionalmente queria trabalhar com isso. O percurso do curso acadêmico me fez olhar para outras possibilidades do esporte e da educação física que não apenas o treinamento da modalidade e, antes, o de ser atleta.

Meu trabalho de conclusão de curso de graduação, passando pelo mestrado e pelo doutorado, sempre focou o esporte, ou como conteúdo de aula, ou como objeto de uma política pública específica. E paralelamente a isso tem um envolvimento enquanto torcedor apaixonado do Santa Cruz Futebol Clube, que por questões diversas – desde a estrutura geral do futebol profissional até questões específicas de suas administrações – amarga a quarta divisão do futebol nacional.

Dentro dessa preocupação, sempre tive um olhar voltado ao futebol, como objeto de estudo e como paixão pessoal.

Universidade do Futebol – Como você analisa o fato de que o Brasil sediará nos próximos anos uma Copa do Mundo? Será possível traduzir o evento esportivo em um legado positivo para o País?

Sávio Assis – Inicialmente eu participo de uma dúvida nacional: nas condições atuais do Brasil, deveria ser prioridade a realização desses grandes eventos, como Copa e Olimpíadas? É dúvida, mesmo, antes de uma posição, ou algo questionável. Sei que na administração pública temos de conviver muitas vezes com a combinação de atendimento de grandes eventos e de investimento de uma forma mais consistente e duradoura diante das carências.

É inimaginável, por exemplo, que cidades como Recife e Salvador deixem de aplicar verbas e realizar investimento em Carnaval, apesar de elas terem dificuldades em áreas como saúde e educação. Não se pode trabalhar com tal lógica. Mas quando se fala em legado, fala-se em aproveitar determinadas situações para que também se avance em outras.

Acredito que o legado que se trabalha em grandes eventos é o de abertura de postos de trabalho – geralmente temporários – e na melhoria de infraestrutura. Ou seja, a edificação do que ficará por conta do evento. Mas é importante fiscalizar e definir qual a melhor forma que cada cidade tem para participar de um evento deste tipo. E qual a participação do poder público em um negócio cada vez mais privado.

O que a Fifa arrecada de contrato com as Copas seguintes são números gigantescos e até de difícil compreensão. E mesmo com esse dinheiro que circula, há o apelo da participação governamental. População e sociedade organizada têm de ficar atentas e cobrar o investimento público vinculado ao legado social.

Mais especificamente na área da educação física, é importante discutir o que ficará para o futuro em relação à massificação do esporte, sua importância educacional, o objeto não só de entretenimento, etc.

Talvez o maior legado para a parte da escola que trata mais diretamente do esporte e do futebol seria que pudéssemos chegar a 2014 com todas as instituições de ensino públicas tendo aulas regulares de Educação Física e os professores com condições de trabalho para discutir a realização de uma Copa do Mundo.

Normalmente, quando há um grande evento, a escola se envolve em questões mais periféricas sobre os países participantes, que não o jogo em si, a atividade física em si, e não relacionada à profissão e ao futebol de alto nível como negócio.


Grande legado social ao Brasil pós-grandes eventos esportivos seriam realização regulamentar de aulas de Educação Física em escolas públicas e valorização salarial de professores, diz Sávio
 

Universidade do Futebol – E qual o diagnóstico que você faz hoje da Educação Física e das Ciências do Esporte no Brasil?

Sávio Assis – Antes até do diagnóstico, e ainda do ponto de vista que envolve a Copa, algumas cidades têm o problema de não enfrentar a estrutura já existente. Em Recife, onde moro, está se debatendo a construção de um novo estádio, por exemplo, sendo que temos três praças esportivas com capacidade para no mínimo 20 mil pessoas.

Seria necessária uma compreensão do poder público e dos órgãos responsáveis para se trabalhar a partir do existente e o que pode ser feito, gastando menos e tendo maior repercussão social. Uma relação direta de união em torno dos clubes, no caso de Pernambuco, para que o maior estádio fosse adaptado para o evento, com os outros dois rivais atuando de maneira integrada e recebendo outras opções de melhorias.

O diagnóstico que faço da Educação Física e das Ciências do Esporte é de um avanço de uns anos para cá, no sentido de ampliação das possibilidades de intervenção e do tratamento do esporte enquanto conteúdo. Mas um avanço geralmente conflituoso – o que é muito bom para se atingir objetivos.

Convivemos com uma polêmica em torno da formação. Cursos têm finalidades diferentes, aparentemente, como o de licenciatura e o de graduação; o primeiro habilitando para a docência na escola, e o segundo, para outras possibilidades de treinamento, atividade física e saúde, trabalho em academia e outros projetos. E há uma parte da área reivindicando a defesa de uma licenciatura ampliada, que desse conta tanto da escola, quanto dessas outras atividades de intervenção.

É uma esfera em expansão, do ponto de vista das possibilidades, e do ponto de vista de tratar os temas de modo mais científico. Sinto necessidade de construir alguns consensos, mesmo que provisórios, sem abrir mão da contradição, que pudessem ajudar desde o jovem em formação que vai atuar na área, com repercussão naqueles que são atingidos dentro e fora da escola.

No futebol, nas categorias de base, trata-se ainda a descoberta de talentos com a ideia de que o garoto nasce sabendo jogar e o clube apenas lapida esse “diamante bruto”. Temos de avançar neste sentido. O próprio esporte de alto rendimento de outras modalidades já trabalha com uma lógica mais avançada, de que todos são capazes de aprender tudo, só que não no mesmo tempo e no mesmo ritmo.

No vôlei, as equipes juvenis e infantis às vezes têm uma média de altura superior ao grupo adulto nacional do momento, porque o critério de seleção tem sido o biotipo necessário para aquela modalidade, o mínimo de coordenação motora. O alvo é tornar aquela pessoa um grande atleta. E no futebol muitas vezes se convive com a questão do inato, do “nascer para aquilo”. É preciso estimular em crianças que se interessam pelo futebol outro tipo de questionamento, um ensinamento que provoque soluções para aquele jogo.

Na minha avaliação, o futebol tem sido muito maltratado nas escolas. Ele seria uma das possibilidades de mobilizar os interesses do aluno, inclusive, para outras experiências esportivas e educacionais. Acredito que estamos avançando, poderia ser mais rápido, mas temos possibilidades para viver melhor, aproveitando janelas como a realização da Copa.

O futebol enquanto conhecimento e experiência cultural precisa ser tematizado e problematizado de outra maneira na escola. O aluno tem o direito de aprender futebol, mais além do que apenas aprender a chutar bola.



'Maltratado' nas escolas, futebol deve ser compreendido de maneira mais ampla e plural pelos alunos que sonham em ser atletas profissionais

 

Universidade do Futebol – Na esteira do seu comentário, você é um otimista em relação ao que será feito em termos sociais e na construção de ferramentas de emancipação?

Sávio Assis – Meu otimismo é sempre proporcional à nossa capacidade de se organizar e reivindicar questões e tomar frentes. Para além da área de educação física e do esporte, precisamos apostar em uma organização do uso dos recursos, de direcionar o levantamento dos legados estruturais e, principalmente sociais. Essa é uma expectativa cujo otimismo está relacionado à população.

Temos de aproveitar os episódios para problematizar questões e tentar elevar o nível de consciência da população por vistas a uma perspectiva mais emancipatória. Acho que inclusive do ponto de vista da gestão pública, este deve ser o maior critério de avaliação.

Muitas vezes se compara quem construiu mais prédios, postos de saúde e escolas, que são dados importantes. Mas ao instalar uma escola, um posto de saúde, uma quadra poliesportiva, ou uma praça, em uma determinada comunidade, acontece um processo que faz com que aquele grupo eleve seu nível de consciência. E a relação com o político é de promessa cumprida, de papel feito enquanto gestor.

Ficaremos na dependência sempre de quem está à frente desse processo, dessa iniciativa, com participação e execução populares, e da própria comunidade beneficiada, por outro lado, que tem de cobrar tais projetos. Manter funcionando a estrutura e esse serviço é uma dificuldade. A melhor maneira de fazer isso acontecer, atendendo aos anseios da maioria, é uma participação da sociedade.

Dei o exemplo do clube de futebol ao qual sou vinculado. Muitas vezes enquanto torcedor você fica alheio ao que acontece no cotidiano da agremiação, aos desmandos dos dirigentes, e não se organiza para tomar, como sócio, o clube pelas mãos. Fazendo uma analogia, é necessário um papel na arquibancada e outro no campo político, debatendo, cobrando, etc. Tenho este tipo de postura e de perspectiva: é pelas saídas coletivas que conquistaremos coisas mais duradouras, independentemente do lugar e da situação. E a Copa do Mundo está aí, para ser vista e tratada mais do que como um mero evento passageiro.

 

Como desenvolver o projeto Copa do Mundo nas escolas 

 

Universidade do Futebol – No seu trabalho, você propõe a reinvenção do esporte, tema que foi mote de um livro produzido, inclusive. No Brasil, como você “reinventaria” o futebol, em se considerando todas as características particulares?

Sávio Assis – O termo “reinvenção” já procura trazer a ideia de que o esporte – e podemos contemplar o futebol – é invenção dos homens. Muitas vezes falamos em mudanças no esporte e parece ser impossível, como se ele não fosse uma produção humana. Como tal, podemos resgatar a dimensão humana das modalidades e tentar fazer diferente.

No caso do futebol, quando tenho oportunidade de tratar do tema, procuro abordar a ideia no plural: “futebóis”. Às vezes, no curso de Educação Física, pedimos para uma pessoa definir o que é futebol, e o aluno, ou mesmo o professor, acaba restringindo a modalidade às regras ou ao espaço do jogo profissional, que ele vê na TV. E sempre faço o contraponto: se futebol for apenas este da mídia, das regras, dos negócios e da profissionalização, à imagem e semelhança, ele não cabe nas escolas, visto que são raras as que têm um campo com medidas oficiais.

Pluralizar, fazendo um movimento que já é levantado por profissionais da pedagogia do esporte, é necessário, assim como entender o que dá identidade ao jogo do futebol e o que é possível mexer, mantendo-se o que é fundamental do jogo.

Não só no jogo em si, temos de abordar tudo o que envolve esse ambiente. O futebol é uma possibilidade de inserção no mercado de trabalho, mas não apenas como jogador. As crianças nas escolas precisam ter acesso às informações, sem a falsa promessa de que o esporte garante mobilidade social, mostrando o conjunto de suas possibilidades e das suas contradições. E não ficando preso a uma ideia de que o esporte é essencialmente bom e que ele não tem problemas e contradições.

Talvez a maior contradição seja dizer que esporte é saúde. Eu já fiz uma cirurgia no ombro e convivo com uma lesão de menisco por conta dos meus muitos anos de treino e jogo no voleibol. O esporte é saúde – mas pode também não ser.

“O esporte afasta das drogas” é uma promessa comum, mas ele também pode colocar o jovem em contato com elas; “esporte é alegria e confraternização”, mas também promove dramas em quem perde, ou delimita a observação de um jogo de Copa do Mundo, por exemplo, a cidadãos com maior capacidade financeira. Todas essas questões e possibilidades nos permitem pensar na reinvenção do esporte.

Além da forma de tratar determinadas questões. Alguns professores trabalham fundamentos do futebol de maneira diferente – um deles é o João Batista Freire. Contraponho com alguns colegas que atuam em ambiente de alto rendimento as experiências coletadas das atividades propostas por ele. E penso que na escola é que se encontram muitas das soluções e formas de fazer as quais têm muito mais a ver com o jogo profissional do que os nossos preparadores físicos realizam.

Acompanho alguns treinos do meu time e vejo atletas dando dribles em cones, que estão parados, obviamente. No jogo isso não se repetirá. Na escola, usamos um arco, ou uma brincadeira, para que o garoto conduza as bolas com os pés, mas de cabeça elevada, se situando no espaço, em busca da melhor solução, promovendo dificuldade ao marcador. É nesse plano que se situa a reinvenção que coloco. Ela vai desde a pluralização do futebol até a compreensão de tudo que está no entorno dele (debate sobre regras oficiais, informações desejadas pelo aluno, etc.).

Sempre trabalho com a ideia de que o professor precisa provocar o aluno a refletir. Se eu tenho um jogo em que cabem poucos, a pergunta é como eu faço para mais gente jogar. Esse processo deve se realizar a partir da interação entre as duas partes, e não de uma forma pronta e acabada. Tanto os professores em relação às grandes políticas, e os alunos em relação ao planejamento dos professores, são os piores executores daquilo que não gostaram e de que não participaram.



No vôlei, passar a bola para o outro não é uma necessidade do indivíduo, mas uma exigência do funcionamento do jogo; diferentemente do futebol

 

Universidade do Futebol – Como você vê, dentro do âmbito escolar e das próprias escolinhas de futebol, a possibilidade de instrumentalizar o futebol para integrar novos conhecimentos?

Sávio Assis – Acredito que isso seja não só possível, mas necessário. Também não podemos concordar que o aluno aprenda tudo sobre futebol, mas não aprenda a jogar. Fazemos essa inflexão, que vai de uma restrição a outra, quando se avalia muitas vezes os aprendizados motores do jovem, esquecendo regras, táticas, etc.

Agora, para alcançarmos este ponto, o professor ou a pessoa que estiver à frente do projeto tem de se envolver com as outras áreas e com as outras questões do espaço no qual ele estará atuando. Professor de Educação Física não pode mais ficar no quintal da escola: ele precisa estar envolvido com o conjunto da mesma, fazendo com que a escola olhe para as possibilidades da sua atividade de maneira diferente, além do senso comum.

Professor de Educação Física não é um mero organizador de eventos e festas. A identidade dele, antes de qualquer outra, é a de professor, assim como os professores de Matemática e o de Português têm as suas. O papel da escola na perspectiva de ampliar o repertório deve estar presente no ideal desse profissional. Ele aprende mais coisas e de maneira mais aprofundada.

Em um clube, a discussão é: o que o futebol, em particular, vai permitir de reflexão diferenciada em relação às outras situações? Muitas vezes elaboramos projetos de intervenção em uma comunidade através desse esporte e falamos de muitas promessas – tirar das ruas, afastar das drogas, etc. – como se fossem questões específicas do futebol ou de outra modalidade esportiva. E se você trocar o futebol por profissionalização, os argumentos vão ser os mesmos.

Muitas vezes se fazem muitas promessas em nome do esporte e do futebol como se fossem inerentes a eles essas condições, e não é. Sempre insisto também sobre o que é particular e próprio de cada modalidade que permite ajudar em uma reflexão mais ampliada além do aprendizado técnico e tático.

Por exemplo, no voleibol, passar a bola para o outro não é uma necessidade do indivíduo, mas uma exigência do funcionamento do jogo. Talvez este esporte não sirva tanto para trabalhar a ideia de compartilhar. Ele pode servir, sim, mais para aprendermos a compreender o erro – alguns autores já trabalharam essa ideia. A partir do saque, caso ninguém erre, o jogo pode se tornar monótono. A expectativa do rally em um jogo de vôlei é a iminência do ponto se confirmar.

Agora, futebol, basquete, handebol, eu não tenho a obrigação de passar a bola para o outro, com uma ou outra limitação da regra. Compartilhar, neste caso, tem de ser trabalhado sob a ótica da tática para ganhar o jogo, além da exploração do sentido de solidariedade e participação coletiva. O futebol tem elementos particulares que podem ser arrancados para uma reflexão mais específica, a partir do funcionamento das suas ações.

O conhecimento é isto: acesso e valores, além do uso social. Aprendo a ler e a escrever para me comunicar, por formas diversas. Aprender a jogar futebol tem de ultrapassar a fronteira dos aprendizados técnico e tático, mas eles também têm de ser compreendidos, para não irmos ao outro extremo.

A cada dia estou mais convencido de que todos podem aprender, ao seu tempo e ao seu ritmo específicos. Os alunos não são burros ou inteligentes, limitados ou superdotados – eles são diferentes. E temos de aprender a conviver com essas diferenças, preferencialmente fazendo com que os diferentes atuem no mesmo tempo e no mesmo espaço.

Algumas escolas, ainda hoje, fazem isso. Segmentando alunos melhores em classes A, B e C. Mas na hora de avaliar, a direção cobra todo mundo da mesma maneira, sem levar em conta os processos de aprendizado diferente, algo incoerente.

Há muito que se fazer, dentro e fora desse ambiente, aproveitando esse interesse que as crianças têm sobre o futebol. Não desmontando os sonhos delas, mas dando mais elementos para sonhar, sem ilusões, com algumas metas, partindo de uma realidade. E que no jogo de futebol a criança aprenda que o melhor para ela tem de ser o melhor também para os que estão ao lado.

É preciso também respeitar o outro, que não é um inimigo, mas um adversário temporário daquilo que eles elegeram como atividade para se reunir, aprender e viver uma das possibilidades da cidadania.

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