sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Entrevista: O desafio do futebol feminino no Brasil

Luana Paula Silva, educadora física
Especialista em futebol feminino relembra passagem pelo Santos e discute pontos da modalidade
Bruno Camarão

Ao longo do tempo, nas mais variadas profissões e funções, as mulheres brasileiras passam a ganhar o espaço comumente ocupado por homens. Diferenças salariais em relação ao sexo oposto e um olhar receoso da sociedade civil como um todo, entretanto, são situações componentes nesse trajeto que tem muito a evoluir. E o futebol feminino não teria motivos para se situar fora desse processo.

Um agravante complementa o âmbito do esporte coletivo mais popular do mundo: o perfil tradicionalesco e machista dentro dos principais clubes do país, ainda reticentes com a ideia de abrir brecha para elas, e na crônica particular, repleta de ex-representantes desse setor.

Quem milita na modalidade há alguns anos tem consciência das adversidades e do trabalho árduo para bancar algumas apostas e cuidar de um projeto com atletas cujas características são bem mais peculiares do que as presentes no ambiente de chuteiras masculinas.

É o caso de Luana Paula Física. Licenciada em Educação Física e com Bacharelado em Treinamento Desportivo, ela realiza há cinco anos pesquisas nas áreas de saúde e esporte, com foco específico no futebol feminino. Ex-estagiária de Kleiton Lima, principal treinador da modalidade no País, ela passou pela comissão técnica das Sereias da Vila e coordenou as escolinhas de futebol para jovens meninas no Santos.

“Foram experiências incríveis. Na equipe profissional aprendi a trabalhar com Esporte de Alto Rendimento, minha grande paixão, e na escolinha consegui plantar sementes de talentos para um futuro próximo. Essas meninas ‘atletas’ já estão se destacando”, revela Luana, nesta entrevista à Universidade do Futebol.

Entre diversos temas relacionados à área em que milita, a profissional traça uma linha ascendente do jogo feminino no território nacional, relacionado-a à integração entre educadores físicos, instituições de ensino e mídia. Mas com a clara designação de que ainda muito trabalho deve ser realizado, especialmente em se considerando a formação de novas jogadoras.

“No departamento feminino [do Santos], a detecção de talento ocorre através de peneiras anuais e indicações de técnicos, em que a atleta é encaminhada ao clube para passar por uma a duas semanas de avaliação com o grupo profissional das Sereias da Vila. Infelizmente, os clubes no País ainda não possuem categorias de base feminina, e sendo assim, para não perder o talento, o treinador retém a atleta e a deixa treinando com o grupo das meninas mais velhas”, explica.



Luana com as atletas da escolinha de futebol feminino do Santos: educação, base técnico e frutos colhidos


Universidade do Futebol – Qual a sua formação acadêmica e como foi construída sua trajetória dentro do futebol?

Luana Paula Silva – Possuo o grau de Licenciatura em Educação Física e Bacharelado com Habilitação em Treinamento Desportivo concluído em 2006 na Universidade Metropolitana de Santos – FEFIS. Desde 2007 realizo pesquisas nas áreas de saúde e esporte, com maior enfoque no futebol, e em especial, o futebol feminino.

A convite do Prof. Dr. Roberto Fernandes da Costa, diretor do Centro de Estudo e Pesquisa Sanny (CEPS), em novembro de 2009 até hoje, participo do grupo de estudo na área de Avaliação da Aptidão Física Morfológica e Funcional. Estou muito focada nas pesquisas devido à grande vontade de ingressar no Mestrado.

Em 2008 fui convidada pelos “coachs” (treinadores) Marcia Oliveira e Francisco Cardoso para trabalhar na comissão técnica na função de preparadora física do grupo selecionado americano American Soccer Club and Galactics, equipe de futebol feminino sub-20, em que o principal objetivo era disputar jogos e amistosos em Santiago, do Chile, durante a realização do Mundial da Fifa de futebol feminino da categoria.

Em 2007, recém formada, após o término do estágio efetivo de dois anos, no Departamento de Esportes do SESC Santos, enviei um email para o Kleiton Lima, então treinador do Santos Futebol Clube, pedindo uma oportunidade para trabalhar na área de preparação física. A ideia surgiu devido ao fato de sempre ter sonhado em trabalhar com a modalidade e na área que sempre fui apaixonada desde atleta, que é a preparação física, pois a considero importantíssima para o nível de excelência dos atletas.

Para minha surpresa, recebi uma resposta e o convite para ser estagiária. Graças à oportunidade que me deu, estou conseguindo alcançar minhas metas profissionais e pessoais. 

Em agosto do mesmo ano realizei com o treinador de goleiras, Ricardo Navarro, um estudo com as atletas do Santos sobre o Perfil Antropométrico de Mulheres Praticantes de Futebol Feminino Profissional, estudo inédito no Brasil, e conseguimos publicar em uma revista científica eletrônica dos Estados Unidos, chamada Connexions. Este estudo virou referência em diversas teses de conclusão de curso universitárias, pois bem sabemos que é mínimo o número de estudos voltados para a modalidade no Brasil, assim como artigos e livros.

Em 2008, tivemos o convite para palestrar sobre o tema a convite do professor de Educação Física e treinador da equipe de Futsal Feminino na cidade de Pirassununga, e o evento foi um sucesso.

No início daquele ano também havia sido lançado o projeto da Escola de Futebol Feminino Sereias da Vila, e fui convocada para ser professora da escola pioneira na região, a do Santos Futebol Clube; infelizmente, depois de oito meses, tive que deixar o projeto, devido à baixa remuneração proporcionada. Sempre ajudei no sustento de minha família, e não pude dar sequência neste trabalho que tanto desejei.



"Para mim, o mais importante é a formação do cidadão, independentemente se ela será profissional da bola ou não".

 

Universidade do Futebol – Quando surgiu a sua relação “emocional” com o futebol?

Luana Paula Silva – Minha paixão pelo futebol surgiu desde criança, comecei a jogar bola com os meninos na praia e na escola, e sempre era motivo de gozação entre as colegas que me chamavam de “maria moleque” da turma. Aos 10 anos, em 1995, começou a ter um movimento de futebol feminino profissional em Santos.

Sempre que eu conseguia, assistia às entrevistas na TV, e o treinador da modalidade na época do Santos era o Manoel Maria, ex-jogador do próprio clube. Certo dia, resolvi ligar para o Santos e tentei falar com ele – recebi bastante apoio para seguir na luta pelo meu sonho em ser atleta. Mas ele me dizia que a idade para tentar uma chance na equipe seria 15 anos.

Em 1997, já com 12 para 13, anos resolvi ligar novamente para o Manoel, e ele me informou que o clube iria fazer uma Escolinha de Futebol de Campo Feminino, e o responsável seria o atual treinador da seleção brasileira de futebol feminino, Kleiton Lima; na época, o Kleiton era estagiário do Manoel Maria e seria o responsável pelo projeto de iniciação. A partir daí minha vida começou a mudar e descobri que minha vocação estava na modalidade.

Eu não faltava em nenhuma aula, e muitas vezes o castigo que minha mãe dava, por alguma rebeldia em casa ou na escola, era suspender os treinos, pois sabia que essa era minha grande paixão. Em 1998, o grande sonho teve um fim, pois o campo em que treinávamos foi vendido e hoje é um shopping center.

Claro que não desisti! No mesmo ano, realizei um teste no Clube de Regatas Santista (futebol de salão), levada por uma amiga. A treinadora não acreditou muito que eu pudesse jogar bem, pois era muito franzina. Fiz o teste, passei e entrei na equipe que iria disputar a Taça Regional da categoria infantil, organizada pela Liga Regional de Futebol de Salão do Litoral Paulista.

Joguei ainda em diversas equipes de futebol de salão: Clube de Regatas Santista (1998), Atlético Santista (2000), Atlanta (2001), Estrela Futsal Feminino (2003 a 2006) e por último representei a Escola Lupi Picasso em 2007.

Encerrei minha carreira desportiva, pois precisava trabalhar para ajudar no sustento de minha família e pagar meus estudos. Hoje, posso dizer que sou muito mais realizada como profissional do futebol feminino, pois posso ajudar, através de pesquisas científicas, profissionais e estudantes da área, além de poder fazer indicações de atletas a clubes.

Isso tudo está sendo a realização de um grande sonho, maior do que tudo que sonhei, além de ser um trabalho social fantástico: posicionar jovens no caminho do esporte e educação é muito importante para o futuro do nosso Brasil. Para mim, o mais importante é a formação do cidadão, independentemente se ela será profissional da bola ou não.

Universidade do Futebol – Você participou da comissão técnica principal das Sereias da Vila, bem como ministrou aulas nas Escolinhas de Futebol para mulheres, fundada por você. Poderia contar com mais detalhes ambas as experiências?

Luana Paula Silva – Foram experiências incríveis. Na equipe profissional aprendi a trabalhar com Esporte de Alto Rendimento, minha grande paixão, e na Escolinha consegui plantar sementes de talentos para um futuro próximo. Essas meninas “atletas” já estão se destacando. A exemplo disso, temos: a ex-aluna da Escola Sereias da Vila, Kethelen, de 14 anos, que mora na cidade de Cubatão, estudante e atleta do Colégio Objetivo SV/SP, conseguiu 100% de bolsa pelo seu alto potencial no futsal.

Ela foi aluna desde o início da Escolinha Sereias da Vila, e sua escola foi bi-campeã da Copa TV Tribuna de Futsal Escolar em Santos; outro exemplo é a aluna Andreza, 16 anos, da mesma cidade de Kethelen. Ela também iniciou na Escola e em dezembro a indiquei para fazer um teste na equipe de futsal do SFC e ela foi escolhida para fazer parte da equipe em diversas competições de 2011, inclusive Jogos Abertos do Interior, um dos mais importantes da região.

Torço para que vejamos muitas dessas meninas, se destacando, seja como atleta ou cidadã. Tenho certeza de que me dediquei ao máximo em ambos os trabalhos.

Universidade do Futebol – Qual a avaliação que você faz do desenvolvimento da modalidade dentro do Santos, em especial, de 1997, quando foi montada a primeira equipe feminina, até hoje?

Luana Paula Silva Muita coisa mudou e acredito que foi para melhor. Quando criança, tive a oportunidade de acompanhar a carreira de algumas atletas profissionais do Santos, em 1997. A situação era muito difícil, não havia muitos patrocinadores, e elas passavam por muitas necessidades, muitas não estudavam, poucas tinham o segundo grau. Hoje a realidade é diferente, e desde 2007 as coisas evoluíram demais. As atletas conseguiram bolsas universitárias, melhores condições de vida e acredito que o apoio da Prefeitura Municipal de Santos, a mídia e pessoas comprometidas com o futebol feminino no Santos Futebol Clube, colaboraram para todo esse sucesso que a equipe das Sereias da Vila tem atualmente.

A infância é entendida como um período de grande importância para o desenvolvimento motor, sobretudo porque é nesta fase que ocorrem o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais que servem de base para o desenvolvimento das habilidades motoras especializadas que o indivíduo utilizará nas suas atividades cotidianas, de lazer ou esportivas.



Carência entre os departamentos de futebol brasileiros, trabalho na base com as meninas compõe a trajetória de Luana 

 

Universidade do Futebol – Qual a especificidade do seu trabalho com jovens meninas?

Luana Paula Silva  
O trabalho de base é primordial para que seja lançada no futuro uma atleta de excelência. Segundo algumas pesquisas consultadas, a média para a revelação de um atleta são 10 anos de treinamento e investimento. O profissional deve ser capacitado para a área em que atua, sendo um verdadeiro conhecedor dos detalhes do movimento corporal da modalidade, no caso específico, o futebol feminino, e desenvolver nos seus planos de aulas capacidades físicas e coordenativas, respeitando a faixa etária do grupo. Sendo assim, o aluno “atleta” estará tendo uma educação corporal, de forma global (lateralidade, coordenação motora geral e específica, parte técnica, tática, etc.).

Esses trabalhos supostamente devem ser englobados junto às aulas de Educação Física Escolar, mas infelizmente não é o que ocorre em alguns sistemas de ensino. Muitas alunas chegam sem conseguir realizar um movimento coordenativo proposto. Sem restrição de idade, isso varia de crianças, adolescentes e muitas vezes até adultas.

Lembro-me, quando realizei alguns treinamentos de coordenação motora geral, e um dos exercícios era realizar um rolamento “cambalhota”, e duas atletas adultas da Escola de Futebol não conseguiram, mesmo auxiliando-as. Isso se deve ao trabalho de base que foi ineficiente. O profissional de Educação Física é muito importante neste processo, e devemos nos dedicar cada vez mais, para que nossas crianças consigam desenvolver ao máximo suas habilidades motoras. Isso fará muita diferença no futuro das mesmas, tornando a prática do lazer e esporte muito mais agradável, com auto-estima e menos constrangedora perante seus amigos.

Quanto aos aspectos metodológicos que devem ser adotados pelos professores de Educação Física, duas posições diferentes podem ser observadas na área, segundo Faria Júnior (1995) e Altman (1998). Faria Júnior (1995) entende que a prática do futebol como desporto de equipe pode atuar como meio eficaz de ensinar aos jovens a tolerância e aceitação das diferenças individuais e, para isto, propõe uma série de procedimentos dos professores de Educação Física:

• Dividir os alunos em grupos equilibrados em relação às habilidades motoras, força e velocidade, e para os jogos, designar quem tem mais habilidade, força ou velocidade, para marcar quem é mais habilidoso, forte ou veloz da outra equipe.

• Modificar as regras de tal forma que dois sucessivos chutes a gol não possam ser dados por jogadores do mesmo gênero. Cada tentativa a gol terá uma intervenção precedente do jogador de outro gênero (o menino passa a bola e a menina tenta a finalização a gol, ou vice-versa).

• Evitar situações, como: relacionar as meninas por último, escolher apenas os meninos para fazer demonstrações, designar apenas os meninos para capitão da equipe, dirigir atenções preferencialmente a eles. Evitar piadas e linguagens com conotações sexistas, por exemplo, marcação homem-homem em jogo de mulheres.

• Utilizar estratégias de modelação, mostrando fotos e desempenho de jogadoras de futebol.

Universidade do Futebol – No Brasil, são poucas as linhas de pesquisa científica para identificação de talentos esportivos no próprio futebol masculino. De que maneira o Santos, onde você atuou, trabalha em seu departamento de formação a detecção de jovens com potencial para se tornarem atletas profissionais?

Luana Paula Silva  O Santos Futebol Clube, assim como a maioria dos clubes no Brasil, não possui um departamento científico para detecção de talentos. Situação diferente do futebol masculino, que possui olheiros que viajam e caçam talentos para o clube, assim como aceitam indicações de alguns empresários que levam atletas, muitas vezes crianças e adolescentes com alto potencial, para se tornarem um profissional, como é o caso de Neymar, Robinho, etc.

No departamento feminino, a detecção de talento é identificada através de peneiras anuais, e através de indicações de técnicos, em que a atleta é encaminhada ao clube para passar por uma a duas semanas de avaliação com o grupo profissional das Sereias da Vila. Infelizmente, os clubes no País ainda não possuem categorias de base feminina, e sendo assim, para não perder o talento, o treinador retém a atleta e a deixa treinando com o grupo das meninas mais velhas (profissional).

Universidade do Futebol – Você desenvolveu ao lado do Ricardo Felipe Navarro Passos, treinador de goleiras das Sereias da Vila, um estudo que traçou o perfil antropométrico de mulheres praticantes de futebol feminino profissional. Poderia discorrer sobre a metodologia e os resultados?

Luana Paula Silva  Foram avaliadas 24 atletas profissionais da equipe de futebol feminino do Santos Futebol Clube – Fundação Pró Esporte, prática aplicada durante a fase semifinal do Campeonato Paulista de Futebol Feminino 2007. Foram realizadas as seguintes análises antropométricas: estatura, espessura de dobra cutânea (triciptal, subescapular, supra-ilíaca e abdômen) e massa corporal total. A aplicação contou com a colaboração da coordenadora e do treinador da equipe. E a avaliação foi realizada no tempo disponível das atletas, onde foram liberadas de treinamentos físicos e táticos durante o dia, para que tivéssemos uma maior eficácia da pesquisa aplicada.

A partir das medidas obtidas, foram calculados diversos parâmetros, sendo considerado na presente análise: o percentual de gordura corporal (%G) obtido a partir da estimativa da densidade corporal, a massa corporal magra (massa corporal total – massa corporal de gordura kg), e o índice de massa corporal (IMC – massa corporal total/estatura2, kg/m2). Utilizou-se uma balança digital da marca Toledo com estadiomêtro, e um adipômetro da marca Sanny, para determinar a massa corporal total.

A estimativa da gordura corporal das atletas foi realizada a partir da estimativa da densidade corporal obtida pela equação de Faulkner apud Carnaval (1995) protocolo de quatro dobras, citada acima; este teste foi desenvolvido para nadadores, e resolvi adaptá-lo para atletas de futebol feminino, pois não consegui encontrar protocolo específico para modalidade e essa ideia partiu do conceito de que as atletas que praticam a modalidade trabalham muito menos as musculaturas envolvidas no protocolo de Faulkner e isso faz com que haja um maior acúmulo de gordura nessas regiões.

Assim, com os resultados, podemos analisar o perfil antropométrico de cada jogadora em sua respectiva posição tática. Este estudo se torna muito importante para a detecção de jovens talentos do futebol feminino brasileiro, pois foram analisadas as atletas que são elites do atual futebol feminino no Brasil, apesar de serem do Estado de São Paulo.

A partir deste estudo, podemos continuar as investigações e analisar para futuras pesquisas a importância do trabalho físico, extracampo, no caso: a musculação, pilates, alongamento, etc.
 


Perfil antropométrico de mulheres praticantes de futebol feminino profissional 

 

Universidade do Futebol – Qual a real importância dessas aplicações no auxílio para o rendimento da atleta nas competições? 

Luana Paula Silva  Acredito que o corpo deve ser estimulado de maneira global. Quanto menos gordura a atleta tiver, maior será seu rendimento em determinados posicionamento táticos. Principalmente para obter sucesso no futebol, que é um esporte intermitente.

Em termos de resultado, a massa corporal total das atletas, quando expressa em kg, obteve diferença estatisticamente significativa. Observaram-se menor quantidade de gordura corporal (%G) e maior quantidade de massa corporal magra nas atletas.

De acordo com o protocolo de Lohman (1992) que sugere um percentual de gordura corporal ideal para mulheres de 12% a 16%, as atletas se encontram dentro do (%G) atual, ideal para a população. Pelo fato de as atletas serem constituídas de alto nível, composta por jovens e realizarem treinamentos em dois períodos diários de segunda a sexta, já apresentam resposta adaptada do metabolismo lipídeo na produção energética ao treinamento. Essa adaptação causa forte impacto na composição corporal das atletas e pode ser determinado o percentual de gordura (%G) significativamente baixo.

Universidade do Futebol – O futebol feminino ainda encontra dificuldades para expandir-se e atingir a grande mídia. Você acredita que a falta de planejamento e estrutura das equipes faz com que as atletas não tenham um bom preparo físico, e com isso não tenham um bom rendimento, dificultando ainda mais a ascensão do esporte? Como evoluir diante desse cenário?

Luana Paula Silva  O futebol feminino teve um grande avanço de 1997 até hoje, pois ainda não atingimos o planejamento ideal para que as atletas possam ter um excelente rendimento físico nas competições. Os calendários das disputas são muito rígidos, muito próximos uns dos outros, fazendo com que as atletas não tenham tempo de descanso, que é essencial e também faz parte do treinamento, para que se tenham a parte psicológica e física com musculatura forte e saudável, além de evitar lesões precoces.

A exemplo disso, temos o jogo da final do Torneio Cidade de São Paulo 2010, entre Brasil e Canadá, quando a maioria das atletas estavam nas competições da temporada do País, muitas delas fizeram quase 60 jogos no ano e já deveriam estar de férias em “repouso”, para ter um bom rendimento em 2011. Conclusão: o que vimos foi uma série de lesões e jogadoras jogando no “sacrifício”, como foi o caso da Marta, que veio da temporada americana, e Formiga. E no geral, toda a equipe estava prejudicada.

Para que obtenhamos um sucesso na modalidade é preciso pensar no todo, e não somente no volume de competições. É necessário um calendário propício para que as atletas possam realizar os treinamentos e possam se preparar cada vez mais e melhor com qualidade. Sendo assim, os resultados positivos serão maiores para ambas as partes. E também é preciso que haja uma lei que incentive o futebol feminino nas escolas, assim como acontece com a Educação Física. Só assim daremos o devido valor para as meninas que em fase escolar mostram um grande talento para o esporte.

É preciso a união de todos que gostam da modalidade. Assim como o Santos Futebol Clube mostra um trabalho que serve de “vitrine” para outros clubes, estes também devem incentivar a modalidade e criar um departamento de futebol feminino em suas estruturas. Torço muito para que daqui uns anos possamos ver jogos entre São Paulo, Corinthians, Flamengo, etc. Com o investimento, consegue-se atrair a mídia, e consequentemente, os torcedores.

Futebol feminino é um jogo de futebol verdadeiramente brasileiro. Podemos ver habilidade, velocidade, garra e muita vontade sem violência nas jogadas, através das nossas guerreiras e todos os profissionais que se envolvem no esporte. O amor fala em primeiro lugar; o dinheiro é só uma consequência de todo o trabalho. Tenho certeza de que jogos de futebol feminino nos principais estádios brasileiros atrairão muito público, famílias – e melhor, com paz nos estádios –, pois é disso que estamos precisando no futebol.

Prova disso, tivemos o último jogo da final do Torneio Cidade de São Paulo com quase 18.000 mil torcedores, com camisas de vários times, e sem violência alguma, o que é mais importante.
 


 

Universidade do Futebol – É possível pensar efetivamente em rendimento técnico desportivo para a mulher no futebol, levando em conta suas especificidades fisiológicas, psicológicas, sociais e culturais?

Luana Paula Silva  Sim. A mulher não tem limites no esporte, e se fizermos uma busca pela história da introdução da mulher no futebol, desde a Era Getúlio Vargas, ela comprova que já superamos muitas barreiras, desde opiniões machistas e preconceituosas, como mostra a carta de um cidadão, no período da Ditadura no Brasil, até os dias de hoje.

Carta de um cidadão a Gétulio Vargas

Venho, solicitar a clarividente atenção de V.Ex. para que seja conjurada uma calamidade que está prestes a desabar em cima da juventude feminina do Brasil. Refiro-me, Sr. Presidente, ao movimento entusiasta que está empolgando centenas de moças, atraindo-as para se transformarem em jogadoras de futebol, sem se levar em conta que a mulher não poderá praticar esse esporte violento, sem afetar, seriamente, o equilíbrio fisiológico das suas funções orgânicas, devido a natureza que dispoz a ser mãe... Ao que dizem os jornais, no Rio, já estão formados, nada menos de dez quadros femininos. Em S. Paulo e Belo Horizonte também já estão constituindo-se outros. E, neste crescendo, dentro de um ano, é provável que, em todo o Brasil, estejam organizados uns 200 clubes feminino de futebol, ou seja: 200 núcleos destroçadores da saúde de 2.200 futuras mães que, além do mais, ficarão presas de uma mentalidade depressiva e propensa aos exibicionismos rudes e extravagantes.

(José Fuzieira, em carta datada de 25/04/1940 e repercutida pela imprensa)

De acordo com um estudo consultado de Eriberto Lessa Moura, ele avança até nossos tempos, quando equipes como o Radar começaram a se destacar nos anos de 1980, e traz um estudo de caso sobre o time de futebol feminino do Guarani, de Campinas, formado em 1983 e extinto em 1985. Campeãs da Liga Campineira, as meninas participaram de amistosos internacionais e de preliminares do Campeonato Brasileiro masculino com transmissões pela televisão. As jogadoras tinham noção do preconceito:

“Elas afirmam que hoje seria bem mais fácil jogar. Antes, além do estereótipo da homossexualidade, havia o próprio papel da mulher na sociedade. Quando uma delas errava um chute, um fulano na arquibancada logo mandava ela ir para o fogão”, conta.

De fato, hoje, o pai já matricula a filha nas aulas de futebol e torce por ela no estádio. Mas prevalece algum preconceito nas unidades de ensino, onde não existe orientação pedagógica. “As equipes e mesmo as seleções são um catado de jogadoras, os campeonatos são casuais. As melhores atletas acabam na liga americana”, crítica Moura. E, mesmo havendo mudança de postura, ela vem com atraso: “Nossas meninas começaram a treinar com 10 ou 11 anos, não tiveram aquele estímulo e a bagagem que os meninos trazem desde os 5 anos.”

Estimativas atuais revelam que aproximadamente 15 milhões de mulheres praticam o futebol nos Estados Unidos, justamente em função do incentivo nas escolas. Se aqui dizemos que futebol é coisa de homem, lá é coisa de mulher, literalmente. O que não significa que a sociedade americana seja menos machista, mesmo porque as mulheres não têm vez no futebol americano ou no beisebol, onde se realizam apenas na torcida com seus pompons ou como namoradas dos jogadores.

“Esses dois esportes são símbolos de poder e masculinidade. Depois dos atentados de 11 de Setembro, George Bush anunciou o contra-ataque vestindo uniforme de beisebol: avisou que ia dar a tacada”, ilustra Moura, porém recorrendo ao simbolismo também para mostrar que o futebol feminino nos EUA está longe de ser menosprezado.

“A final do Mundial Feminino de 1996, contra a China, aconteceu num 4 de julho, com 100 mil pessoas no estádio, e quem entregou o troféu às campeãs americanas foi Bill Clinton. Na final da Copa do Mundo de 1994, quem entregou o troféu ao Dunga foi o vice Al Gore”.



"Futebol feminino é um jogo de futebol verdadeiramente brasileiro. Podemos ver habilidade, velocidade, garra e muita vontade sem violência nas jogadas".
 

Universidade do Futebol – Em se considerando os aspectos anatômico-fisiológicos característicos da mulher em comparação ao homem (menor estatura média, maturação mais rápida do esqueleto, ossatura mais fina, maior percentual de gordura corporal, diferenças do metabolismo, menor massa muscular, etc.), quais padrões de planejamento técnico, tático e físico devem ser traçados para respeitar essas peculiaridades?

Luana Paula Silva  O futebol, desde o ponto de vista biológico, é um esporte desafiante. Devido aos altos níveis exigidos dos metabolismos aeróbio e anaeróbio, aliados a uma necessidade de coordenação e controle motor muito finos, o futebol é altamente complexo e excitante para o professor de Educação Física que tem como missão orientar esta prática. E em segundo plano, mas não menos importante, é requisito importante para a boa prática do futebol uma busca equilibrada do condicionamento de força e flexibilidade.

As diferenças biológicas básicas em comparação com homens, a partir da prática do futebol por mulheres que necessitam baixos percentuais de gordura, podem ser definidas pela dominada “tríade da atleta feminina”: descontrole de alimentação, amenorréia e osteoporose (Kohrt, 2004). Estes três componentes estão intimamente ligados entre si, um influenciando ao outro, e devem ser considerados em conjunto pelo professor de Educação Física que trabalha com mulheres jogadoras de futebol.

Universidade do Futebol – A ação motora desportiva feminina possui outro tempo de execução e outra performance, quando comparada com a masculina. De que maneira se realiza o processo de explicitação e conscientização da equipe para este fato?

Luana Paula Silva  Os treinamentos técnicos devem ser aplicados às atletas com muita atenção por parte dos professores. A orientação em relação aos fundamentos necessários, para que todas tenham uma excelente performance técnica e tática nos jogos, é primordial. A mulher tem o nível de força inferior ao dos homens. geralmente a potência dos chutes e passes dela são menores quando comparadas ao futebol masculino.

Hoje, contamos com a ajuda extracampo, no caso a musculação que faz com que as atletas adquiram hipertrofia da musculatura geral. O trabalho do exercício anaeróbio é muito importante – é importante que não seja trabalhado somente os membros inferiores, mas também grandes musculaturas, como abdômen, peitoral, grande dorsal, para que a jogadora tenha um equilíbrio harmonioso durante as jogadas.

No futebol, as atletas mais fortes levam vantagem, durante um jogo de corpo, em um arranque (explosão), tudo com aumento de força e potência. Isso faz com que todas tenham uma melhora na performance durante os treinamentos e jogos, tornando o futebol feminino um espetáculo a parte.

Universidade do Futebol – Em uma entrevista, o Kleiton Lima citou que no Brasil a menina que aprendeu a jogar bola na rua, na praia ou na escola, com o irmão, o pai e os amigos, encarou questões de aprendizado técnico superiores. Entretanto, ela nunca teve uma condição tática definida, o que atrapalha no processo de desenvolvimento do jogo. Você teve a mesma avaliação quando trabalhou no Santos?

Luana Paula Silva  Sim. Muitas crianças e adolescentes chegavam para treinar na escolinha e na própria equipe do Santos sem noção de sistema tático alguma. Isso para o treinador é muito complicado no nível de equipe competitiva, pois é difícil para ele ensinar a atleta quando já está nessa categoria, não há tempo para isso.

A atleta teria que chegar “pronta” para jogar, mas infelizmente essa é uma característica das atletas que tentam ingressar na modalidade em nível competitivo, justamente devido ao fato que, na maioria das vezes, treinam com amigos, pais, escolas ou em equipes onde não são aprimorados e organizados os sistemas táticos.

Tive experiência também como atleta. Joguei em muitas equipes em que não eram focados esses sistemas, e isso deixava todas as atletas “deficientes” nas futuras equipes de que iriam participar. Muitas vezes, meninas muito talentosas, que não tiveram um trabalho forte de base, quando precisaram participar de uma peneira para jogar profissionalmente, não conseguiram desempenhar a função dentro do campo, pois a dificuldade em se encontrar e em se posicionar ficou evidente. Diferentemente de lugares como Estados Unidos e Europa, onde a menina ingressa na modalidade e em torno de sete, oito anos, já são trabalhados através de métodos lúdicos vários sistemas táticos, na adolescência já se encontram em nível de excelência, prontas para uma equipe de High Schooll (Ensino Médio), e posteriormente para equipes universitárias, que disputam a NCAA, maior competição universitária dos EUA.

 

Entrevista: Kleiton Lima, técnico da seleção brasileira feminina

 

Lá, muitos olheiros caçam talentos para as equipes da Liga Profissional de Futebol Feminino e para a própria seleção americana de futebol feminino. Justamente o que falta no Brasil é um investimento além do profissional: o trabalho de base é a base de tudo na formação de um atleta de alto rendimento, e o profissional precisa estar muito atento, e estudar muito, pois o futebol é um esporte complexo e não é fácil de ser ensinado.

O futebol feminino tem suas diferenças em relação ao masculino, e não devemos tratar as garotas como garotos, como foi citado em perguntas anteriores. As meninas são mais sensíveis psicologicamente, mas têm um ponto muito forte que é o aprendizado: elas aprendem muito mais rápido. Pude observar essa experiência durante o tempo em que ministrei aulas para meninas e para meninos da mesma faixa etária.



Em seu trabalho, Luana detectou que meninas são geralmente mais sensíveis psicologicamente que os meninos, mas têm um processo aprendizado mais veloz
 

Universidade do Futebol – Qual a fronteira entre a participação do preparador físico no amparo psicológico aos atletas, e o trabalho propriamente dito de um profissional específico da área?

Luana Paula Silva  Acredito que não há fronteiras, pois ambos profissionais devem estar interligados para que haja um feedback positivo das atletas, seja no aspecto físico de execução dos treinamentos e jogos, seja no aspecto psicológico, ensinando as atletas a saberem lidar com determinadas situações constantes de vitória, perda, cansaço ou lesões. Infelizmente, a maioria das equipes de futebol feminino no Brasil não possuem um psicólogo, um profissional de extrema importância para o esporte de alto rendimento.

Por mais que o preparador físico possa motivar as atletas, pela própria convivência e aproximação dos mesmos, o trabalho do psicólogo nunca será substituído. Devemos respeitar um ao outro e dar valor a todos os profissionais. Como diz René Simões, somos um tripé: para termos um bom rendimento na vida pessoal e profissional, devemos estar bem nos aspectos físico, mental e espiritual.

Universidade do Futebol – Você abordava conceitos de auto-ajuda e neurolinguística no seu trabalho diário no Santos?

Luana Paula Silva  Sim. Sempre gostei de trabalhar com motivação. Através dela que pude superar muitas adversidades que estiveram presentes na minha vida e provar a mim mesma que todos nós somos capazes de realizar até os sonhos que achamos mais impossíveis. Uma das conclusões que tive com esse trabalho, no profissional e na escolinha, é que a motivação dependia de um investimento diário. Percebia que aquelas mensagens que passava às meninas serviam de alimento, e muitas da escola vinham me cobrar quando por acaso eu esquecia de dizer algum pensamento no final de um treinamento.

Universidade do Futebol – Qual é a relevância da área acadêmica para o diálogo e para a melhoria da atuação da comissão técnica e das demais áreas em um clube de futebol?

Luana Paula Silva  A preparação física no futebol é um dos fatores que mais evoluiu nas últimas décadas e continua evoluindo. O conhecimento científico do condicionamento físico para o futebol é de vital importância para o sucesso de uma equipe dentro de uma competição.

A importância de um profissional capacitado nos clubes é fundamental. O preparador físico deve estar presente em todas as categorias e não somente na categoria profissional, pois existem intensidades e cargas diferentes para cada faixa etária.

Hoje, o aspecto científico do treinamento físico está muito desenvolvido. Os profissionais se especializam cada vez mais utilizando computadores e os mais variados aparelhos eletrônicos possíveis para determinar o nível de condicionamento e a evolução dos atletas. Portanto, percebe-se que a preparação física evoluiu de tal maneira que seria impensável a falta de um profissional especializado em treinamento físico integrando a comissão técnica de uma equipe.

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Perfil antropométrico de mulheres praticantes de futebol feminino profissional

Avaliação foi realizada no tempo disponível das atletas, em que, no mesmo dia, não houve treinamentos físicos e táticos em nenhum período
Luana Paula Silva

Introdução

A prática de futebol feminino vem aumentando nos últimos anos no país do futebol masculino, e as mulheres estão praticando cada vez mais o esporte fazendo com que a modalidade ganhe mais espaço. A legislação, com seus especialistas, contribuíram para que o processo de entrada da mulher no esporte mais praticado no país se desse apenas no final da década de 80. 

De acordo com Castellani Filho (1991) durante a ditadura militar, o CND (Conselho Nacional de Desporto), através da resolução número 7/65, proibiu as mulheres de praticarem lutas, futebol, pólo aquático, rugby e baseball no pais. Somente em 1986 o CND reconheceu a necessidade de estímulo à participação das mulheres nas diversas modalidades esportivas. De acordo com o jornal (Brasil, 1996,p.5), a explosão do futebol feminino no país ocorreu na década de 80, onde o time carioca Radar colecionou títulos nacionais e internacionais. As vitórias estimularam o aparecimento
de novos times e em 1987, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) já havia cadastrado dois mil clubes e quarenta mil jogadoras. No ano seguinte, o Rio de Janeiro organizou o campeonato estadual. A primeira seleção nacional participou da inédita copa do mundo na China em 1991, e fez sua estréia nos jogos olímpicos de 1996 em Atlanta ficando em quarto lugar. A seleção feminina do Brasil conquistou a mesma colocação nas olimpíadas de Sydney em 2000, e foi medalha de prata em Atenas em 2004. Pelas competições da FIFA, a seleção ficou em terceiro lugar no mundial dos Estados Unidos de 1999, e foi vice-campeã mundial na China em 2007.

Nesse contexto promissor interessa-nos o conhecimento do perfil antropométrico, através da análise da composição corporal das atletas da equipe de futebol feminino do Santos Futebol Clube FUPES PMS, através dos dados coletados, observar as características antropométricas: estatura, espessura de dobra cutânea e massa corporal total. Com isso podemos identificar qual é o atual perfil das atletas de elite do futebol paulista de acordo com os resultados expressados na média e desvio padrão, e observar o percentual de gordura (%G), das atletas, de acordo com o posicionamento tático.

De acordo com os resultados expressados na média e desvio padrão, podemos observar que: (a) média de idade das atletas foi de 20,79 (+-3,20), (b) peso 59,18 kg (+-6,54), (c) estatura 165 cm (+-0,07), (d) (%G) 13,82 (+-2,27), (e) IMC 21,59 (+-1,91). A massa corporal total das atletas, quando expressa em kg, obteve diferença significativa. Observaram-se menor quantidade de gordura corporal (G%) e maior quantidade de massa corporal magra nas atletas. De acordo com Lohman (1992), que sugere um percentual de gordura corporal ideal para mulheres de 12% a 16%, as atletas se encontram dentro do (%G) atual de 13,82 (+-2,27), ou seja, ideal para a população.

Pelo fato das atletas serem constituídas de alto nível composta por jovens e realizarem treinamentos aeróbios e anaeróbios em dois períodos diários de segunda à sexta-feira, dessa forma já apresentam resposta adaptada do metabolismo lipídeo na produção energética ao treinamento. Essa adaptação causa forte impacto na composição corporal das atletas e pode ter determinado o (%G), significantemente baixo. Através desta pesquisa também podemos observar o (%G) atual das atletas de acordo com o posicionamento tático e obtivemos os seguintes resultados: (a) laterais 13,86 (+-3,67), (b) meias 13,00 (+-1,63), (c) zagueiras 12,67 (+-1,73), (d) atacantes 14,48 (+-1,81), (e) goleiras 14,70 (+-1,27).

De acordo com esse dados podemos observar que as atletas que atuam em determinadas posições onde a demanda energética é menor durante o jogo, obteve maiores percentual de gordura como é o caso das goleiras e as atacantes. No entanto as atletas que atuam como laterais, meias e zagueiras, obtiveram um percentual de gordura menor isto pode estar relacionado ao fato de exercerem funções táticas onde se exige um gasto energético elevado, onde o ritmo e a intensidade no jogo é maior exigida dessas posições. Pois ambas posições realizam treinamentos diários aeróbio e anaeróbios em dois períodos, de cinco vezes semanais, são excluídas desse treinamento, somente as goleiras, que fazem um treinamento especifico com o treinador de goleiras.

Entretanto com esses dados é possível caracterizar o perfil antropométrico das atuais atletas de equipes adultas profissionais da elite do futebol feminino paulista.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.

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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A violência no futebol foi ‘atingida em cheio’ pela reforma do Estatuto do Torcedor

 

A violência existente em torno dos esportes, e, principalmente, do mais popular destes - o futebol - não é algo recente, tampouco, restrito ao Brasil. Vários atos extremamente violentos entre torcedores já ocorreram em diversas partes do mundo.

Percebe-se, desde a década de 1980, uma intensa modificação do comportamento do torcedor nas arquibancadas dos estádios de futebol, iniciada, principalmente, com o surgimento das tão conhecidas “torcidas organizadas”. Entidades criadas mediante estatutos próprios, compostas por presidente, vice-presidente, conselheiros e diretores, eleitos periodicamente, dispondo de quadros associativos, sede, enfim, toda  estrutura burocrática, capaz de caracterizá-las como  instituições privadas sem fins lucrativos.

Dessa forma, o torcedor, uma vez associado às "torcidas organizadas", deixa de ser mero espectador tornando-se coadjuvante do “espetáculo”.

Entretanto, embora criadas com os objetivos de incentivar, apoiar e fiscalizar o "clube do coração", algumas torcidas organizadas - e aqui não se está generalizando, por óbvio - acabaram transformadas em verdadeiras “organizações criminosas”, graças à presença, dentre seus associados, de criminosos travestidos de torcedores. A identificação desses grupos passou a ser percebida pelas violências verbal e física praticadas, pelas vestimentas, pela virilidade e masculinidade exigidas, pelos cânticos de guerra, pelas transgressões das regras legais, pela incitação à prática criminosa, ou seja, pelo sentimento de integração ao grupo e pela necessidade de auto-afirmação[1].

Infelizmente, a cada dia - e cada vez mais -, a sociedade se surpreende pelas barbáries praticadas por esses indivíduos, que, isoladamente, podem não representar perigo, porém, uma vez unidos e organizados, sentem-se fortalecidos e corajosos suficientemente para desrespeitar as leis, enfrentar as autoridades e, quase sempre, cometer crimes.

Tal movimento acaba por espantar as famílias e as pessoas de bem das praças esportivas, deixando o caminho ainda mais livre para esse tipo de conduta abominável.

Os recorrentes problemas nos estádios brasileiros levaram à elaboração de diplomas legais, bem como de medidas preventivas e repressivas, com o nítido objetivo de garantir a segurança do torcedor, inclusive, tipificando determinadas condutas.

Dentre essas leis, merece destaque, sem dúvida alguma, a Lei 10.671, de 15 de março de 2003 (Estatuto do Torcedor), recentemente alterada pela Lei 12.299, de 27 de julho de 2010.

Uma das inovações trazidas é o surgimento de uma definição legal para o termo “torcida organizada”, que soma ao conceito de “torcedor”, presente na versão original do mencionado Estatuto.

Com a alteração, o Estatuto do Torcedor passou a dispor em seu artigo 2º-A:

“Considera-se torcida organizada, para os efeitos desta Lei, a pessoa jurídica de direito privado ou existente de fato, que se organize para o fim de torcer e apoiar entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade”.

Destarte, uma vez inserida no texto legal e caracterizada definitivamente como parte integrante dos eventos esportivos, as torcidas organizadas assumem, como os demais sujeitos, deveres e obrigações, que, uma vez descumpridos, acarretarão sanções.

Outra inovação que merece destaque é a ampliação da responsabilidade pela prevenção da violência nos esportes.

Reza o artigo 1º-A do referido diploma legal:

“A prevenção da violência nos esportes é de responsabilidade do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes, associações ou entidades esportivas, entidades recreativas e associações de torcedores, inclusive de seus respectivos dirigentes, bem como daqueles que, de qualquer forma, promovem, organizam, coordenam ou participam dos eventos esportivos” (grifos nossos).

O objetivo do legislador, no supracitado dispositivo legal, nada mais é do que estender, ao máximo possível, a responsabilidade pela prevenção da violência, de forma que não importando o modo, tampouco através de quem, seja ela, de uma vez por todas, banida do ambiente esportivo.

Assim, ao responsabilizar pelo combate à violência todos aqueles que, independente da forma, promovam, participam, organizam ou coordenam os eventos esportivos, o legislador passou a permitir, que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva e os respectivos Tribunais de Justiça Desportiva tenham competência para a adoção de medidas preventivas e/ou punitivas para coibir e combater a violência nas praças esportivas, de uma maneira mais eficaz.

De igual modo, no parágrafo único de seu artigo 13, o referenciado Diploma Legal ainda prevê a possibilidade de “sanções administrativas”, o que reforça a legitimação e competência da Justiça Desportiva para conhecer, processar e julgar tais conflitos. Vejamos o que diz o referido dispositivo legal:

“Parágrafo único.  O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis” (grifos nossos).

Isto porque, com base no artigo 50 da Lei n 9.615/1998[2], bem como no artigo 24 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD)[5], os órgãos da Justiça Desportiva têm competência em todas as matérias referentes às competições esportivas da respectiva modalidade e, ainda que com menor abrangência, vêm desempenhando o papel de fiscalizar/punir determinadas condutas do torcedor, através de sanções aos clubes, por exemplo, com perdas de mando de campo, dentre outros[3].

Em face da nova redação da lei, a fiscalização/punição se intensificará, vez que os órgãos judicantes, antes limitados às disposições apenas do CBJD, agora se encontram respaldados pelos dispositivos constantes do Estatuto do Torcedor, podendo assim, sem prejuízo de demais medidas, até mesmo proibir a presença de determinados torcedores ou determinada torcida organizada em eventos esportivos, nos casos de tumulto, ou mesmo, de incitação à violência (art. 39-A do Estatuto do Torcedor)[4].

Portanto, em casos de inércia do poder público, das confederações, federações, ligas, clubes, os Órgãos da Justiça Desportiva não só podem, como devem, tomar medidas de enérgicas a coibir e erradicar a violência nas praças esportivas, defendendo os anseios não só daqueles que, verdadeiramente, têm paixão pelo desporto, mas, também, de toda a sociedade.

A velha máxima “a todo o direito corresponde uma ação, que o assegura”[5], não ficaria completa sem a outra face: a toda obrigação corresponde odireito de cumpri-la.

Dessarte, se a Justiça Desportiva (STJD e TJDs) tem a obrigação da “prevenção da violência”, tem em contrapartida o direito de satisfazê-la, o interesse em satisfazê-la, a ação para satisfazê-la; a ação para defender o exercício de seumunus e de suas prerrogativas legais  e, por óbvio, jurisdição e competência para fazê-lo.

Demais disso, antes mesmo das alterações advindas da Lei 12.229/2010, o CBJD já continha previsão expressa que sujeitava os torcedores ao controle direto da Justiça Desportiva, conforme previsto no artigo 243-G, parágrafo 2º, por exemplo.

De tudo decorre ter o Superior Tribunal de Justiça Desportiva e os Tribunais de Justiça Desportiva das federações estaduais direito e ação, interesse, legitimidade, jurisdição e competência para adoção das providências necessárias à “prevenção da violência”.

Constatada a competência dos Tribunais de Justiça Desportiva para processar e julgar as torcidas organizadas e seus integrantes, vale a analisar, brevemente, o dispositivo que contempla as condutas mais corriqueiras, propícios à atuação da Justiça Desportiva legais.

No caso, especial destaque merece o artigo 13-A incluído ao Estatuto do Torcedor por força da Lei 12.299 de 27/07/2010, verbis:

Art. 13-A.  São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei: [...]

IV - não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais commensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;[...]

VII - não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos;

VIII - não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua natureza; e [...]

Parágrafo único.  O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outrassanções administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis (grifos nossos).

O citado dispositivo legal, com boa razão, estabelece condições mínimas ao ingresso e permanência do torcedor no local destinado à realização do evento desportivo, em rol que contempla expressamente quase todas as condutas vedadas.

As hipóteses acima destacadas constituem tipos infracionais comumente praticados pelas torcidas organizadas e seus integrantes, sabido que a maior parte dos cânticos entoados nos estádios contém “mensagens ofensivas” e incitantes da violência.

O torcedor que violar o disposto no artigo 13-A não poderá ingressar no estádio ou, caso já tenha ingressado, será obrigado a retirar-se “imediatamente” do local, “sem prejuízo de outras sanções administrativas”, ou seja: sem prejuízo de ser julgado, caso incorra na prática de infração capitulada no CBJD, pela Justiça Desportiva.

Além das hipóteses elencadas no artigo 13-A do Estatuto do Torcedor, podemos citar, também, o disposto no artigo 243-G, parágrafo 2º, do CBJD, o qual contempla a hipótese de discriminação racional, religiosa, sexual, dentre outras,verbis:

Art. 243-G. Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

PENA: suspensão de cinco a dez partidas, se praticada por atleta, mesmo se suplente, treinador, médico ou membro da comissão técnica, e suspensão pelo prazo de cento e vinte a trezentos e sessenta dias, se praticada por qualquer outra pessoa natural submetida a este Código, além de multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais). [...]

§ 2º A pena de multa prevista neste artigo poderá ser aplicada à entidade de prática desportiva cuja torcida praticar os atos discriminatórios nele tipificados, e os torcedores identificados ficarão proibidos de ingressar na respectiva praça esportiva pelo prazo mínimo de setecentos e vinte dias.

§ 3º Quando a infração for considerada de extrema gravidade, o órgão judicante poderá aplicar as penas dos incisos V, VII e XI do art. 170 (grifos nossos).

É certo, porém, que ao efetivo cumprimento da lei e da ordem e, ainda, para que as decisões da Justiça Desportiva não se tornem inócuas, haverá necessidade de cooperação entre os órgãos da Justiça Desportiva, Entidades de Administração e Prática Desportiva e o Poder Público, este especialmente mediante atuação da Polícia Militar e do Ministério Público.

Isso, na medida em que as penas de proibição de ingresso nos locais destinados aos eventos esportivos, como, por exemplo, a capitulada no artigo 39-A do Estatuto do Torcedor6, embora de fácil aplicação pela Justiça Desportiva, é de difícil execução. Quando nos referimentos a execução, falamos da fiscalização do cumprimento da pena, o qual demandará atuação conjunta dos entes acima mencionados.

Conclui-se, portanto, que alterações introduzidas ao Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003) pela Lei 12.229/2010, ampliaram a competência da Justiça Desportiva em relação aos torcedores, a qual, tendo obrigação de prevenir a violência, tem, em contrapartida, direito potestativo de cumprir e fazer cumprir sua obrigação legal.


[1] PIMENTA, CARLOS ALBERTO MÁXIMO. Violência entre torcidas organizadas de futebol. Disponível em Scientific Electronic Library Online :www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9795.pdf. Acesso em 10 de janeiro de 2011.

[2] Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva, limitadas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas, serão definidas em códigos desportivos, facultando-se às ligas constituir seus próprios órgãos judicantes desportivos, com atuação restrita às suas competições.

[3] Art. 24. Os órgãos da Justiça Desportiva, nos limites da jurisdição territorial de cada entidade de administração do desporto e da respectiva modalidade, têm competência para processar e julgar matérias referentes às competições desportivas disputadas e às infrações disciplinares cometidas pelas pessoas naturais ou jurídicas mencionadas no art. 1,º, §1.º

[4] Art. 205. Impedir o prosseguimento de partida, prova ou equivalente que estiver disputando, por insuficiência numérica intencional de seus atletas ou por qualquer outra forma. (Redação dada pela Resolução CNE nº 29 de 2009).

PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais), e perda dos pontos em disputa a favor do adversário, na forma do regulamento.

§ 1º A entidade de prática desportiva fica sujeita às penas deste artigo se a suspensão da partida tiver sido comprovadamente causada ou provocada por sua torcida. [...].

Art. 213. Deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir:

I - desordens em sua praça de desporto;

II - invasão do campo ou local da disputa do evento desportivo;

III - lançamento de objetos no campo ou local da disputa do evento desportivo.

PENA: multa, de R$ 100,00 (cem reais) a R$ 100.000,00 (cem mil reais). [...]

§ 2º Caso a desordem, invasão ou lançamento de objeto seja feito pela torcida da entidade adversária, tanto a entidade mandante como a entidade adversária serão puníveis, mas somente quando comprovado que também contribuíram para o fato. [...]

[5] Art. 39-A.  A torcida organizada que, em evento esportivo, promover tumulto; praticar ou incitar a violência; ou invadir local restrito aos competidores, árbitros, fiscais, dirigentes, organizadores ou jornalistas será impedida, assim como seus associados ou membros, de comparecer a eventos esportivos pelo prazo de até 3 (três) anos

[6] (CCB/1916, art. 75)

   * LEONARDO DE CARVALHO BARBOSA é advogado, vice-presidente do Instituto Mineiro de Direito Desportivo (IMDD), membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB-MG e auditor do TJD/MG.                                                                                                                                                                        * SILVIO AUGUSTO TARABAL COUTINHO é presidente do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol de Minas Gerais; membro do Conselho Consultivo do Instituto Mineiro de Direito Desportivo e membro do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo.

Fonte: Consultor Jurídico

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