Habilidades adquiridas à parte, atleta pré-puber poderá ter rendimento futuro determinado por herança do DNA
César Cavinato
Conforme o combinado, continuamos nossa proposta de discutir aspectos relacionados ao futebol feminino, apesar da tristeza de nossa seleção já estar fora da Copa do Mundo.
Mesmo assim, manifesto publicamente meus cumprimentos a todas as atletas e comissão pelo ótimo trabalho desenvolvido, pois sabemos de todas as limitações em relação à falta de apoio e de estrutura de nosso país.
Mas o assunto desta semana refere-se ao aspecto maturação.
Sabendo que o crescimento e desenvolvimento humanos seguem processos contínuos de transformações, uma pessoa que cumpra seu ciclo normal de vida percorrerá as seguintes fases: recém nascido, bebê, criança (primeira infância e segunda infâncias), pré-adolescência, adolescência, idade adulta e senescência.
No geral, aspectos relacionados à aquisição de gestos motores têm seus períodos ótimos de desenvolvimento antes da idade adulta, enquanto que alterações de composição corporal são normalmente decorrentes de hormônios produzidos a partir da puberdade.
Sendo assim, diferente dos meninos que saem da infância para adolescência com melhora de desempenho pelo aumento de testosterona, nas meninas a maturação pode ser um fator prejudicial.
Pelo fato do estrogênio (hormônio feminino) gerar acúmulo de gordura na região dos seios e do quadril, geralmente as meninas apresentam queda de rendimento nesta fase da vida, já que a gordura corporal é um tecido que pesa, ocupa espaço, porém não produz trabalho.
Isso significa que uma jogadora pré-puber, independente de sua capacidade técnica e de suas habilidades adquiridas, poderá ter seu desempenho futuro determinado por sua herança genética, pois quanto maior o acúmulo de gordura corporal pós puberdade, maior será o prejuízo em seu desempenho para o futebol.
Além disso, se contarmos que muitas meninas iniciam a vida sexual precocemente e passam a usar métodos contraceptivos que contribuem para maior retenção de líquido, alteração metabólica e maior acúmulo de gordura, temos mais um aditivo prejudicial ao rendimento esportivo.
Considerando, então, que as alterações advindas da puberdade são até certo ponto imprevisíveis, i.e., não há como estimarmos com acurácia o que irá acontecer exatamente com a estatura final, o tamanho dos seios ou a quantidade total de gordura que será acumulada em uma menina – esse é um problema longe de ser resolvido.
A única solução é deixar esse aspecto de lado e focar atenção no ensino correto dos gestos técnicos, desenvolver habilidades específicas da modalidade e, principalmente, massificar a prática para o maior número possível de meninas pré-púberes.
Desse modo, as garotas que geneticamente não sofrerem tantas transformações negativas para a prática do futebol poderão manter o desempenho e quem sabe um dia transformar a prática em carreira; e aquelas que, lamentavelmente, não se mantiverem competitivas, poderão utilizar a modalidade como lazer ou prática para manutenção de parâmetros de saúde, utilizando o futebol como meio de atividade física.
Mas será possível o futebol ser utilizado por mulheres como manutenção da boa forma e de parâmetros relacionados à saúde?
A resposta virá na próxima quinta!
Até lá.
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