quarta-feira, 13 de julho de 2011

Raio-X do Mundial de Futebol Feminino na Alemanha

Copa do Mundo de futebol feminino 2011 – semifinais sem Alemanha e Brasil

A decepção é geral no Mundial e o país anfitrião queria ver sua seleção jogar contra o Brasil na final. EUA, Suécia, Japão e França avançam

Márcia Oliveira*

Em um final de semana decepcionante com jogos pelas oitavas de final, o Brasil e a Alemanha deixaram o Mundial feminino de 2011 com a pior colocação das últimas edições.

O Brasil ficou no pior patamar nos últimos 12 anos de competição internacional na modalidade. A Alemanha não via tamanha decepção também em toda sua história. Ainda por cima, as germânicas não têm lugar nas Olimpíadas em Londres 2012. O consolo está no Mundial sub-20 em 2010 conquistado pela mesma.

O Japão não parecia ser problema para a Alemanha, que já estava celebrando a sua vitória antes de o jogo começar, e os jornais já estampavam grandiosa admiração pela equipe do país e comemorava o primeiro lugar no seu grupo no último jogo vencido por 4 a 2 sobre a França.

Mas o time disciplinado e perseverante do Japão mostrou que o futebol bem jogado e taticamente eficiente pode “fazer milagres”. Afinal de contas, o futebol é um esporte equalizador. Basta saber o que está fazendo, ter uma boa equipe, e poderá complicar a vida de qualquer time grande.




O Japão marcou bem e fez boas transições de jogo contra a Alemanha

Frustração da Alemanha no ataque foi geral, e o time "que não fez, acabou levando"

 

Não deu outra! O Japão ganhou o jogo por 1 a 0 e chocou o país, trazendo à tona mais ainda os problemas internos da Alemanha com a sua estrela principal Brigit Prinz. Mais um recorde de audiência na televisão e de público pagante, que desta vez não teve comemorações.

Apesar do fracasso inesperado, a DFB, Federação de Futebol Alemã, comemorou que o futebol feminino criou o seu lugar nos corações dos alemães e vai continuar admirado e tendo o suporte por lá. No ano passado, no Mundial sub-20 na Alemanha, o time anfitrião foi campeão, enquanto que o Brasil fracassou.

Do lado do Brasil, o jogo contra os Estados Unidos tinha suas peculiaridades. Grandes duelos já haviam sido travados entre os dois, e ambos tinham estado como dois melhores do mundo em Copa do Mundo e Olimpíadas anteriores. Os EUA vinham de uma derrota para a Suécia por 2 a 1 ficando em segundo na sua chave neste Mundial.

Elas já pareciam dar como perdida a sua participação na Copa, pois viam o Brasil favorito pelas grandes atuações individuais de Marta e outros grandes nomes da equipe, como Rosana, Erika e Cristiane. Os EUA estavam assustados e com medo, pois seria a pior Copa delas se caíssem para o Brasil.

O padrão de jogo brasileiro, ou a falta de um, como se viu em outras competições mundiais, ainda recebia grande crítica de técnicos e imprensa desde o começo da Copa. Novamente, o ex-técnico dos EUA, Tony DiCicco, mantinha sua postura em rede nacional ao criticar a desorganização do time brasileiro e a aparente inexperiência do técnico Kleiton Lima.



Cobertura dos jogos do Mundial feminino pela ESPN dos EUA; à direita, o ex-técnico e campeão mundial por aquele país, Tony DiCicco

 

Aos 2 minutos do primeiro tempo, o Brasil marcou contra. Os EUA celebraram o que tinha sido previsto pelos comentaristas e técnicos sobre a condição da defesa. A televisão alemã mostrou vídeos em animação computadorizada do Brasil, explicitando a mesma situação em jogos anteriores contra times mais fracos.

O time dos EUA por sua vez continuou marcando a estrela brasileira Marta duramente e acabou perdendo uma jogadora ainda no segundo tempo com um cartão vermelho. Marta marcou em pênalti e ajudou o Brasil a ir à prorrogação.



 

Os EUA jogaram a maioria do duelo, incluindo a prorrogação, com 10 jogadoras e o Brasil só marcou em um lance brilhante de Marta, que ela mesmo ficou surpresa. A goleira dos EUA ficou completamente batida – a melhor goleira e “musa da Copa” chamada pela imprensa brasileira ficou sem ação diante do brilhantismo de Marta.



 

Daí por diante o jogo foi à loucura, e o Brasil só precisava ter mais organização e segurança. Não aconteceu. Mesmo com 10 jogadoras em campo, os EUA empataram o jogo no último minuto, levando para a prorrogação.

Infelizmente, a zagueira Daiane, que esteve envolvida no gol contra do Brasil, foi escalada para os pênaltis e não converteu. A imprensa alemã criticou duramente a escalação dela – sugeriu, inclusive, que isso foi uma decisão proposital do técnico do Brasil, não respeitando a situação da jogadora que já havia sido infeliz no mesmo jogo e não devia ter sido selecionada para as cobranças.




O público e o time do Brasil não conseguem entender a derrota de um jogo ganho... 

 

Decisões à parte, o “Brasil de Marta” ficou no caminho, jogando contra uma seleção inconsistente dos EUA, que está fazendo uma renovação no seu elenco desde as Olimpíadas de 2008.

Com certeza, ser técnico de uma seleção nacional não é fácil, principalmente se a equipe não mostra padrão de alto nível e não se classifica. Nenhuma federação ou confederação escolhe técnicos para perder. Nenhum técnico toma decisões para o seu time para não ser bem sucedido. Se a bagagem do técnico não for grande e boa, as coisas ficam piores ainda, e o fracasso é quase certo durante ou depois.

Enquetes na Alemanha (sportschau.de) e no Brasil (espn.com.br) abrem opções de votos sobre os seus respectivos técnicos. Silvia Neid, técnica da Alemanha, tem o apoio até agora de quase metade dos leitores pela atuação da sua seleção e o problema interno com Brigit Prinz.



Sportschau.de – enquete sobre a treinadora da Alemanha ter sido a certa ou não para a seleção local; opções: Ja (sim), Nein (não). Segunda foto mostra o resultado até agora, quase dividido em opiniões. 


O técnico do Brasil, Kleiton Lima, é visto por impresa e técnicos como um profissional inexperiente. Sua trajetória internacional começou na Copa do Mundo do Chile, quando comandou o sub-20 e não passou das oitavas novamente. No caso dele, a CBF parece querer investir no técnico e continuar dando suporte e oportunidade para ser tornar um comandante mais capacitado internacionalmente.

Há um ano à frente da seleção principal, ele teve grandes oportunidades com a CBF e pode continuar a receber esse apoio para melhorar a sua atuação. A entidade fez isso anteriormente com Dunga na seleção masculina.




 

A Copa Mundial da Alemanha 2011 segue com a França e Suécia como favoritas. Os EUA jogam contra a França na primeira semifinal, e a Suécia contra o Japão, que já fez história na vitória contra a Alemanha e pode ficar no caminho.

Já as norte-americanas precisam ter mais consistência pela oscilação da renovação e deve sofrer com o desfalque da zagueira Buehler.




Veremos se a final terá jogos com tamanha surpresa como foi o duelo entre japonesas e alemãs. De qualquer forma, o futebol feminino no mundo ainda ganha com isso, pois outros países mostram o seu potencial e expandem a sua motivação de apoio a outras partes do mundo.

O único país que não vai mostrar muita diferença com os resultados da Copa é o EUA, que já está entre os quatro melhores do mundo e mantém uma estrutura excelente.

Seja qual for o resultado, as americanas têm uma base de 320 universidades em primeira divisão com futebol feminino e a sua liga profissional está com planejamento fechado para os próximos dois anos. Os dirigentes estão cautelosos nesta fase, em que não se fazem mais contratações de técnicos internacionais (o último foi Jorge Barcellos, vindo do Brasil) e se tem mantido a lista de jogadoras com mais nomes nacionais (cada equipe pode ter apenas três jogadoras internacionais).

Eles querem manter os salários de técnicos e jogadoras baixos – aproximadamente 60 mil dólares por ano –, enquanto o país ainda passa por problemas financeiros. A cautela é grande para manter a liga profissional. O planejamento é continuar investindo domesticamente, e a Copa do Mundo faz a propaganda para melhores investimentos para superar a recessão.

Fiquem ligados! Este Mundial feminino 2011 ainda tem muito que contar.

Até logo, ‘Bis später’.


*Márcia Oliveira é treinadora de futebol nos Estados Unidos. Conheça mais as ideias dela clicando aqui.

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