domingo, 5 de agosto de 2012

Falando de planejamento, pensamento coletivo e futuro

René Simões nasceu em 17 de dezembro de 1952 e vem de uma família pobre com 11 filhos. Sua paixão pelo futebol vem da infância, das peladas jogadas em Cavalcante, no Rio de Janeiro, tanto que chegou a jogar pelo São Cristóvão. Mas foi a carreira de técnico que realmente chamou a sua atenção e, assim, resolveu cursar educação física na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua primeira equipe foi o Clube Ginástico do Rio de Janeiro, em 1973.

Desde então René não parou mais. Atuou como técnico em clubes e seleções nacionais, como Fluminense, Coritiba e Vitória, além dos internacionais como Al Arabi Sports, Al Ryan Sports, Trinidad & Tobago Football Federation e Al Khor Sports Club. Membro do painel de técnicos da FIFA desde 2000, treinou a Seleção Brasileira Feminina, da Jamaica e da Costa Rica. Atualmente é diretor técnico do São Paulo Futebol Clube.

 

“Antes termos uma crença considerada errada que não termos nenhuma crença. Antes um projeto pelo qual lutar e que balize nossa luta, que querermos sem saber como nem o que objetivar” – (Benê Lima)

 

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Foto: Reprodução/Rede Record

 

Ao ver o nosso futebol feminino ser eliminado dos Jogos Olímpicos, lembrei de uma passagem que tive em 1993, quando fui campeão nacional do Qatar com o Arabi Sports Club. Naquele ano, as eliminatórias para a Copa de 94 foram em Doha, capital do Qatar, e o jornal esportivo A Bola de Portugal me convidou para fazer a cobertura do jogo entre Japão e Iraque.

Para resumir, até o último minuto de jogo, o Japão ganhava e se classificava quando o Iraque empatou e acabou com as possibilidades japonesas. Na coletiva de imprensa quem falou foi o presidente da federação e não o treinador. E ao contrário de explicar a derrota, ele falou sobre o super projeto que tinham para os próximos quatro anos. Segundo ele, não interessava o jogo, não interessava que faltava um minuto e estavam classificados, e não importava quem eram os culpados. O passado servia de lição e aprendizado, e o que importava era o futuro. Conclusão, o Japão nunca mais ficou fora de uma Copa.

Hoje, me atrevo a ter a mesma atitude do presidente, não me interessa o jogo, o passado, os culpados. Me interesso pelo futuro. Em 2004 desenvolvi um projeto para o ciclo olímpico de 2008 e entreguei em mãos do presidente da CBF. Até hoje aguardo a reunião para discutí-lo. Há seis meses, o ministro dos esportes Aldo Rebelo reuniu alguns representantes do futebol, entre os quais fui incluído e solicitou um projeto eficiente para o futebol feminino. Fui nomeado relator e junto com a Michael Jackson, coordenadora de futebol, tivemos a respondsabilidade de juntar as ideias e finalizar o projeto.

Abaixo segue o texto de apresentação do projeto, e aos poucos irei  comentando-o com vocês.

Apresentação

Sempre discriminada e relegada a segundo plano, a mulher vem mantendo sua dignidade e perseverança ao longo do tempo. Rotulá-la como sexo frágil depois de tantas lutas, sofrimentos, derrotas temporárias e conquistas brilhantes em diversos setores e países, não faz sentido, como também, não existe maior maldade do que a perda de um talento por falta de oportunidade.

Já passou da hora de nosso país pensar mais do que seriamente na criação de fábricas de talentos em diferentes setores. Os países mais evoluídos criam essas oficinas nas escolas desde a Classe de Alfabetização até a universidade, socializando as oportunidades. Os meninos e meninas se descobrem e tem a chance de colocar suas aptidões e talentos em exposição, em feiras, desfiles, desafios, campeonatos, etc. Eles são estimulados e oportunizados a mostrarem no que são bons.

Temos que construir a mansão do futebol feminino de forma diferente da construção de qualquer casa, onde se começa pela fundação. Esta mansão terá que ser construída do telhado para a fundação, pois temos que observar o ciclo olímpico. É importante que descubramos e formemos já, uma seleção capaz de trazer as medalhas do Mundial 2015 e das Olimpíadas de 2016, e construamos ao mesmo tempo, bases duradouras na descoberta, formação e aperfeiçoamento de atletas e profissionais.

O Brasil, país dito livre de preconceitos de todos os tipos, vem demonstrando que a verdade em relação ao futebol feminino, passa bem longe de ser real nesse aspecto. Nada foi feito de forma a se tornar perpétuo, permitindo que novas gerações de futebolistas se beneficiem dessas iniciativas, quer públicas ou privadas.

Pela primeira vez uma presidente do Brasil demonstra interesse pela modalidade e pede ao seu ministro dos esportes, que é apaixonado pela modalidade, que coloque um sistema que possibilite os nossos canarinhos fêmeas, conquistar voos tão altos como os canarinhos  machos, penta campeões do mundo para que se mantenham no ar. Ou fazemos agora, com a Copa do Mundo e as Olimpíadas em nosso solo ou perderemos o trem da oportunidade.

Objetivos específicos

1 - Definir as ações do Ministério dos Esportes em relação ao futebol feminino;

2 - Estimular à CBF na criação de parcerias com o Ministério dos Esportes e o COB;

3 - Estabelecer prática do futebol feminino nas aulas de Educação Física no Ensino Fundamental I, II e Médio (de acordo com o artigo 217 da Constituição Federal);

4 - Dobrar o número de praticantes brasileiras até 2015 (29 milhões de mulheres no mundo segundo dados da FIFA e 400 mil praticantes regulares de acordo com levantamento feito em 2006 pelo Atlas do Esporte);

5 - Aumentar o número de clubes que possuem futebol feminino em 50% até 2015;

6 - Inserir o futebol feminino nos JEBS e JUBS;

7 - Incluir o futebol feminino nos jogos escolares municipais em todo território nacional;

8 - Criar programas de capacitação de profissionais  para trabalhar com  o futebol feminino;

9 - Criar cinco (5) centros olímpicos regionais (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste) de formação e capacitação de atletas e profissionais para o futebol feminino. (De acordo com o artigo 217 da Constituição Federal);

10 - Elaborar junto à CBF o novo calendário anual do futebol feminino, respeitando-se os anos de Olimpíadas e campeonatos mundiais;

11 - Subsidiar diretamente ou através de patrocínios privados e obrigar as Federações a realizarem os campeonatos  estaduais, dentro do calendário definido pela CBF;

12 - Criar o campeonato nacional (NFB, novo futebol feminino) de equipes, respeitando-se o calendário elaborado pela CBF;

13 - Incentivar a criação e adoção permanente (4 anos) da seleção brasileira principal de futebol feminino, atendendo ao ciclo olímpico para 2016;

14 - Criar condições para a realização de quatro torneios internacionais por ano, sendo dois no Brasil e dois no exterior;

15 - Exigir que os contratantes (clubes) registrem em carteira profissional de trabalho as contratadas (jogadoras) de acordo com o art. 29 da Lei 9.615/98 - Lei Pelé;

16 - Criar a Ouvidoria dentro da Coordenaria Geral do Futebol Feminino do Ministério dos Esportes;

17- Criar o piso salarial  nacional da atleta de futebol profissional.

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