segunda-feira, 27 de junho de 2011

Realizada abertura da V Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador

27/06/2011

A competição tem previsão de início para agosto de 2011. 

 
Foto: Divulgação (Presidente da LCFF, o 2º da direita para a esquerda)
copafortalezabela2011.jpg
 
A grande novidade  é a inclusão da modalidade feminina nas disputas. Essa foi uma demanda apresentada pela Liga cearense de futebol feminino (LCFF) na 1ª Conferência Municipal do Esporte , realizada em abril de 2010
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Na última quarta-feira (22), às 19 horas, foi realizada a festa de abertura da V Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador, no Ginásio Paulo Sarasate. Marcaram presença cerca de duas mil pessoas. A mesa de abertura foi composta de todos os Coordenadores de Esporte das seis Secretarias Executivas Regionais de Fortaleza; além do Titular da Secel, Evaldo Lima. "Democratizar o esporte e o lazer é a nossa missão. A Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador nos enche de orgulho por ser um espaço que oportuniza a interação entre atletas dos mais diferentes cantos da cidade, e por seu potencial de revelar novos talentos. Defendo, inclusive, que os campos de várzea sejam tombados, porque eles estão sumindo - em consequencia da especulação imobiliária, privando as comunidades de opções de lazer", disse Evaldo.

A Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador é uma das maiores competições de esporte amador do país, sendo realizada pela Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria de Esporte e Lazer (Secel), em parceria com a Liga Cearense de Árbitros de Futebol (Licaf). Em 2010, a Copa envolveu mais de 8,5 mil atletas da Cidade. No total, 336 equipes disputaram o título e 339 jogos foram realizados. A competição também contou com a participação de 65 mil pessoas, dentre membros de comissões técnicas, ligas desportivas e árbitros. O evento, nesse ano, terá como grande novidade a inclusão da modalidade feminina nas disputas. Essa foi uma demanda apresentada na 1ª Conferência Municipal de Esporte e Lazer, realizada em abril de 2010, e atendida para 2011.

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

LCFF dá apoio à Luta de Braço

Luta de Braço - Cartaz_02

luta de braço 01

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Evento no Museu do Futebol coloca o Futebol Feminino na roda

No mês em que acontece o Mundial de Futebol Feminino na Alemanha, o Museu do Futebol coloca o jogo das meninas na roda para um agradável bate-papo. Vai perder

No mês do Mundial de Futebol Feminino na Alemanha, o Museu do Futebol em parceria com o Grupo de Literatura e Memória do Futebol – Memofut, realizarão um encontro entre personagens que fizeram e fazem a história do futebol feminino nacional.

Siga o Futebol para Meninas no Twitter: @futebolmeninas

O Bate-Papo Futebol Feminino acontecerá no dia 02 de julho, a partir das 10 horas no Auditório Armando Nogueira e com entrada gratuíta! Para os interessados na modalidade e em conhecer um pouco mais da história do jogo das meninas em terras brasileiras, é uma oportunidade ímpar e imperdível.

Entre os convidados estarão Rose do Rio, a primeira técnica de futebol do Brasil e a guerreira que lutou para que a Deliberação 7/65 fosse revogada. Também estará presente o ex-presidente do Santos Futebol Clube, Marcelo Teixeira, responsável pelo retorno de Marta ao Brasil, implementação do Departamento de Futebol Feminino do Santos e a retomada da modalidade no clube.

Imperdível!

O evento também contará com a participação do Gestor do Futebol Feminino do Palmeiras, Ademar Fonseca, o Dema, e com as autoras do livro “Nós, Mulheres do Futebol“, Silvia Bruno Securato e Ellen Drasty.

O convite está feito e o evento é aberto e gratuíto. O Museu do Futebol fica no Pacaembu, Praça Charles Miller, s/nº. Quem vai levanta a mão!

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sábado, 4 de junho de 2011

Entrevista] Interdisciplinaridade e mudança social pelo esporte

Daniela Lemos, coordenadora técnica do UniSol
Profissional faz apresentação sobre a segunda edição do Prêmio Nike Esporte pela Mudança Social
Bruno Camarão

Os sinais são claros de que as universidades, muito em razão do momento gerencial prévio da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, que serão realizados em território brasileiro, colocaram o esporte em suas pautas. Ações relacionadas a atividades físicas e modalidades diversas permeiam a academia, com o amparo de algumas grandes empresas especializadas na temática. É o caso da parceria entre a Nike do Brasil e o programa UniSol (Universidade Solidária).

Ambos, juntamente com a Rede Esporte pela Mudança Social (REMS), a partir do ideal de que o esporte pode promover o desenvolvimento social por meio de ações nos âmbitos social, ambiental e econômico, criaram o Prêmio Nike Esporte pela Mudança Social. O alvo é reconhecer e apoiar ações e projetos de extensão universitária, executados por professores e alunos, que utilizem modalidades como mote desenvolvimentista humano.

“O UniSol tem 16 anos de atuação e a proposta fundamental é contribuir para a formação cidadã dos estudantes universitários, colocando-os em contato com a comunidade na qual eles estão inseridos, ou com comunidades menos favorecidas”, explica Daniela Lemos, coordenadora técnica do UniSol.

Ao agregar o que a universidade desenvolve com o conhecimento do estudante universitário ao longo da vida acadêmica, o projeto consegue dar um passo adiante nessa transformação. O programa articula e implementa projetos e ações sociais de instituições de Ensino Superior, em parceria com empresas públicas e privadas, organizações do Terceiro Setor e comunidades.

O UniSol é um programa da AlfaSol, criada por Ruth Cardoso, que estimula a liderança nos jovens universitários e, sobretudo, proporciona uma visão mais apurada da realidade social brasileira, fortalecendo a organização comunitária e a construção de soluções pontuais.

Na segunda edição do Prêmio Nike, concorrem projetos de extensão universitária com foco em esporte e que beneficiem diretamente jovens em situação de vulnerabilidade social, localizados nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. O valor da premiação é de R$ 25 mil, com acompanhamento técnico da equipe do UniSol.

“A universidade tem total autonomia para desenvolver suas atividades. Quando elas apresentam o projeto, há uma pré-definição de roteiro, com orçamento e metas desenhadas para os seis meses de trabalho”, comenta Daniela.

Coordenadora de projetos, ela aponta que o UniSol trabalha para garantir os benefícios e a interação entre universidade e comunidade. Por exemplo, se um professor está tendo alguma dificuldade na implementação de determinado projeto, se a universidade está acompanhando de fato a iniciativa, ou mesmo se as ações estão sendo institucionalizadas para não se tornar algo apenas pontual.

Nesta entrevista à Universidade do Futebol, Daniela fala mais sobre as especificidades do UniSol, o cenário atual propício para projetos ligados ao esporte e como o diálogo entre academia e sociedade pode ser benéfico para a formação dos jovens carentes.



 

Universidade do Futebol – Você poderia falar sobre sua formação, a trajetória até o ingresso no UniSol e a experiência em lidar com projetos, impactos e inovações na área social?

Daniela Lemos – Comecei no antigo Comunidade Solidária, um programa de governo criado pela doutora Ruth Cardoso. Era estudante da UNB de Administração e estagiei nessa parte administrativa. Lá me deparei com todo o aparato de política social e combate à pobreza.

No Comunidade Solidária, fui apresentada à Universidade Solidária, e passei a atuar como coordenadora de projetos no antigo programa nacional, muito parecido com o Projeto Rondon, em que muitos universitários vão para comunidades distantes fazer um intercâmbio social e discutir as fragilidades desses grupos, ao mesmo tempo em que realizam uma troca cultural.

Passei três anos nesse programa de governo, e em 2003 o UniSol se transformou em uma organização da sociedade civil, e fui coordenar a área de projetos. Minha formação é em assistência social, com especialização em gestão de projetos na área do Terceiro Setor.

Na Alfasol, o Universidade Solidária é um programa que integra todas essas ações criadas pela doutora Ruth, e dentro desses planos há o Prêmio Nike – Esporte pela Mudança Social, cuja primeira edição foi criada em 2008.



Ruth Cardoso, durante Primeiro Comício da Mulher, em campanha eleitoral em São Paulo (1985); foto: Ary Brandi

 

Universidade do Futebol – O UniSol (Universidade Solidária) é um programa que articula e implementa projetos e ações sociais de Instituições de Ensino Superior (IES), em parceria com empresas públicas e privadas, organizações do Terceiro Setor e comunidades. Fale um pouco mais sobre ele.

Daniela Lemos – O UniSol tem 16 anos de atuação e a proposta fundamental é contribuir para a formação cidadã dos estudantes universitários, colocando-os em contato com a comunidade na qual eles estão inseridos, ou com comunidades menos favorecidas.

A ideia é pegar toda essa expertise – o que a universidade desenvolve mais o conhecimento do estudante universitário ao longo da vida acadêmica – e transformar em uma ação educativa para essas comunidades a partir das potencialidades e das demandas que elas têm.

Temos também uma parceria com o Banco Santander que foca nas questões ambiental e de geração de renda. Na realidade, o UniSol articula o conhecimento acadêmico em prol de comunidades menos favorecidas, mas reconhecendo o conhecimento popular existente nos moradores daqueles ambientes.

Universidade do Futebol – Um dos projetos desenvolvidos é o Prêmio Nike - Esporte pela Mudança Social. Quais as pretensões e os resultados já alcançados por essa empreitada que chega à sua segunda edição?

Daniela Lemos – Em 2007, a Nike começou a articular no Brasil a Rede Esporte pela Mudança Social (REMS) e convidou não apenas as grandes ONGs que atuam com esporte no Brasil, como outras que também trabalham com ações educativas e que lidam com ações de gênero.

O Universidade Solidária entrou no circuito, pois havia também o foco de levar a academia para discutir sobre a forma como o esporte é tratado no país. Não apenas o alto rendimento ou as atividades ligadas à saúde.

Começamos a discutir nos projetos que havíamos feito, e as universidades apresentavam mais o esporte relacionado ao lazer ou em seu aspecto educativo. E surgiu a ideia do primeiro Prêmio Nike – Esporte pela Mudança Social. Tivemos mais de 50 projetos, e cinco deles foram premiados em nível de Brasil – no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina.

Envolvemos mais de 600 crianças e adolescentes, com projetos de empreendedorismo no Rio, com a PUC-RJ, e também em São Carlos, com a UFSCAR.

Rediscutindo as estratégias, pensando em uma continuidade, resolvemos lançar a segunda edição mais focada para jovens e adolescentes, especificamente para as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. O prêmio passou de 15 para 25 mil reais, e as universidades premiadas receberão o acompanhamento técnico do UniSol por seis meses, além de doação de materiais esportivos da Nike.

As universidades, por conta do momento vivido pré-Copa e Olimpíadas, colocaram o esporte em suas pautas, aumentando essas ações relacionadas de uns dois anos para cá.

Universidade do Futebol – O cenário atual do mundo é também inspirar a mudança social por intermédio do esporte?

Daniela Lemos – Sem dúvida alguma. E de várias formas. Tivemos um projeto premiado que, na realidade, o esporte era um meio, e não o fim.

Um jovem skatista do subúrbio do Rio de Janeiro ensinava às crianças no contraturno escolar essa prática, e a universidade viu aquela potencialidade e qualificou o grupo, junto com a Nike do Brasil, e hoje praticamente eles são uma associação que produz shapes, aquela prancha do skate. Chama-se Briza Arte, conduzida pelo Charles Alexandre da Silva.

O que conseguimos perceber e mostrar pelo prêmio é que o esporte pode ser um estímulo, um tema transversal, para que uma ação social ou educativa com diversos públicos seja efetivada. E não necessariamente se apresentar como tema central.
 


 

Universidade do Futebol – Em sua opinião, como liberar o potencial de jovens, para que estes fortaleçam suas comunidades, alavanquem o desenvolvimento e promovam mudanças?

Daniela Lemos – Percebo que principalmente por meio do diálogo. E as universidades, no caso com os estudantes universitários, e a UniSol, ao longo desses 16 anos, desenvolveram uma metodologia de conversar com essas instituições para que as mesmas cheguem às comunidades e falem de igual para igual, e não como templo de saber.

O estudante pode ser inserido naquele contexto e falar com outros jovens, se interessando pelo outro, apesar das visões e das realidades distintas.

Levamos, por exemplo, alguns jovens de comunidades para vivenciar o ambiente acadêmico, e a partir desse diálogo horizontal e da troca de conhecimentos, o processo se tornou positivo.

Universidade do Futebol – No esporte, de que modo pode-se trabalhar a questão social sem decair no mero assistencialismo?

Daniela Lemos – Acredito que de forma mais educativa, formando multiplicadores. Na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, o programa Esporte Integral desenvolveu a partir da experiência própria um mini curso de esporte educacional. O professor não necessita ser um profissional de Educação Física, mas pode ser um coordenador de uma ONG de base que trabalha com isso, e ele consegue utilizar qualquer modalidade para falar de cidadania, gênero, e entender o que é o ambiente familiar do jovem.

O UniSol intermedeia e orienta vários processos para estabelecer esse diálogo de uma maneira mais eficaz.



Programa Esporte Integral (PEI) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) em Rio Grande do Sul (RS); foto: Arquivo UniSol
 

Universidade do Futebol – O esporte já atua efetivamente na promoção de igualdade de gênero e no combate da violência contra mulheres, crianças e jovens, ou as ações ainda caminham a passos muito lentos?

Daniela Lemos – No nosso universo, ainda caminha a passos lentos. Temos de ter uma sutilidade em alguns ambientes para falar sobre determinados temas. Há um projeto que se utiliza da capoeira para falar de questões ligadas à raça.

As universidades não vão tão a fundo nesse tipo de tema, não por escolha, mas por se tratar de um processo de conquista paulatina desses jovens, por meio do esporte.

Universidade do Futebol – Também a partir de sua visão profissional e acadêmica particulares, de que forma o processo da educação auxilia no desenvolvimento do raciocínio, da criatividade e na compreensão dos fatores externos vividos pelos jovens?

Daniela Lemos – No Instituto Briza citado, o simples fato de levar jovens de Irajá para vivenciar um ambiente acadêmico, no caso a PUC-RJ, fez com que cinco dos 10 jovens que participaram no início se interessassem em prestar vestibular.

Isso sem haver qualquer tipo de argumentação sobre a importância de estudar e ter um curso superior. Somente pelo ambiente, percebemos essa vontade e essa transformação.

O UniSol tem um grupo de colaboradores voluntários, entre os especialistas, representantes das REMS, das ONGs, além de acadêmicos, reitores e ex-reitores, que possuem experiência em projetos universitários e sociais.

A universidade tem total autonomia para desenvolver suas atividades. Quando elas apresentam o projeto, há uma pré-definição de roteiro, com orçamento e metas durantes os seis meses de trabalho. Nosso acompanhamento técnico visa garantir os benefícios e a interação entre universidade e comunidade – se o professor está tendo alguma dificuldade na implementação daquele projeto, como a universidade está acompanhando, se as ações estão sendo institucionalizadas para não se tornar algo apenas pontual, etc.

Há necessidade de um compromisso social, a fim de definir também indicadores para uma avaliação de resultados, já que o impacto para a vida do estudante e das práticas universitárias é importante para todos.



Projeto Coletivo do Briza da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; foto: Arquivo UniSol
 

Universidade do Futebol – Você acredita que é possível pensar a formação de jovens jogadores de futebol sem a criação de um programa que gerencie o crescimento pessoal, social e profissional de modo interdisciplinar?

Daniela Lemos – Não acredito. As universidades estão aí para mostrar. Essa visão sistêmica é fundamental para um atleta, não só consciente do seu papel profissional, mas como cidadão.



Projeto Futsal Social da Universidade Feevale – Novo Hamburgo (RS); foto: Luiz Fernando Framil Fernandes

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

LCFF comemora sucesso de mais um evento

Presidente da Liga Cearense de Futebol Feminino mostrou-se satisfeito com a organização da competição

LCFF - Futsal

“Há tempo que a Liga não articulava um evento tão positivo desde a Copa Metropolitana”, declarou o professor Sérgio Ricardo, presidente da LCFF, para expressar toda a sua alegria pela realização do Festival de Futsal Feminino no Distrito de São João do Amanari, localidade que fica a 30 quilômetros da sede Maranguape.

Os jogos aconteceram nas dependências da Escola Jose Pereira de Sousa, tendo o seu início às 08h00 e término às 13h00 do sábado, 21-05. A partida final marcou o confronto entre aas equipes do Tanques e CEU, tendo esta vencido pelo placar de 5 a 2. A equipe vencedora tem como origem a ONG instalada no no bairro Pato Selvagem (Maranguape), que tem como responsável o senhor Luiz.

Vale ressaltar ainda que o evento foi uma iniciativa da Rádio FM Maranguape, cujo representante foi o radialista Edmilson Barros. Além de inúmeras outras presenças, registramos a do professor Evaldo Lima, conhecido como Evaldão.

LCFF - Futsal.02

Equipes

Participaram das disputas as seguintes equipes:

Tanques, Penedo, Itapebussu, São João do Amanari (anfitriã), Amanari, ONG CEU, ONG Crescendo Para o Brasil, Rato.

Público

Outro fator marcante no evento foi a presença de público. Estima-se que cerca de 400 pessoas assistiram às 120 mulheres integrantes das equipes demonstrarem técnica e habilidade. A iniciativa também valeu como desdobramento do Projeto Meninas da Bola que a Liga Cearense de Futebol Feminino (LCFF) vem desenvolvendo desde sua fundação.

Agradecimento

A organização do evento faz menção também à colaboração do senhor Alberto Bessa, parceiro da LCFF, e tocador de ações na área do esporte no bairro Canindezinho.

Veja mais fotos do evento no blog escolinhanovocearazinho.blogspot.com

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terça-feira, 24 de maio de 2011

Lu Castro coloca o futebol feminino em foco

Artigo] O universo da mulher futebolista brasileira

Por: Lu Castro

Futebol para meninas

Excepcionalmente nesta segunda-feira, subo o segundo texto para este blog. E é com muita alegria que o compartilho com todos. Ele faz parte do Dossiê Gender Kicks 2011 do Heinrich Böll Stiftung, que me foi solicitado no início do ano, como parte das ações do Instituto acerca do Mundial Feminino na Alemanha que se aproxima. Por ser um artigo, é extenso, pois dá uma geral no universo da futebolista brasileira. O texto em alemão está na página do Heinrich Böll Stiftung. Espero que apreciem, porque eu estou de fato muito feliz em poder colaborar com tão importante ação em nível internacional.

O Universo da Mulher Futebolista Brasileira

“O nível técnico e o bom futebol apresentado pelas jogadoras brasileiras, está muito mais ligado à natural desenvoltura em campo – predicado herdado de muitas gerações e misturas, que lhes conferem habilidades e gingas inconfundíveis, que a um real  desenvolvimento da modalidade no país. Há muitas barreiras a serem suplantadas, muitas melhorias a serem implantadas e para isso, é necessário envolvimento dos responsáveis pela organização do jogo das meninas em solo nacional.

Apesar das regras e do conceito puramente masculino, o futebol das mulheres surgiu buscando certo grau de independência e identidade própria. Infelizmente, por conta da alienação a uma sociedade amplamente machista, onde mulheres rotulam mulheres que ousam, o ímpeto de jogar futebol tornou-se um problema, havendo uma relevante melhora no modo como o futebol feminino foi entendido a partir de 2007.

O público interessado na modalide ainda é restrito e pouco influente se comparado à massa (incluindo muitas mulheres) que vê real valor no futebol dos homens. Para a grande maioria, investimentos na modalidade são desperdício de tempo e dinheiro. A modalidade não é reconhecida como profissional, goza de bem pouco prestígio junto à população e meios de comunicação, além de ser avaliada como maçante, muito mais por falta da perspectiva bio e fisiológica feminina, que torna o jogo mais cadenciado e não necessariamente menos veloz.

A visão, quase uma vidência, da necessidade de mudança, se deu depois de anos em que a modalidade cambaleava entre a falta total de interesse e investimento. A situação mudou significativamente nos dois últimos anos, após iniciativa da ex-diretoria do Santos, clube tradicional do estado de São Paulo, ao trazer para a equipe, a então três vezes Melhor do Mundo FIFA, Marta Vieira da Silva. Tal fato mudou circunstancialmente a visibilidade do futebol feminino no país, fazendo com que alguns clubes, espalhados pelo Brasil, mudassem significativamente seu olhar e sua postura sobre a modalidade.

O clube se tornou pioneiro em formar uma estrutura profissional, que significou desvincular o futebol feminino do Departamento de Esportes Olímpicos e oferecer-lhe um Departamento único, com profissionais voltados apenas para o cuidado das atletas. Tal mudança deu às jogadoras possibilidades de melhorar sua autoestima enquanto atletas do futebol feminino, conferindo melhor rendimento em campo, melhores condições físicas, técnicas e táticas. Um salto gigante para os padrões até então praticados no país. Consequentemente, pode se observar uma pequena elevação nas condições sociais e econômicas das meninas santistas, ainda que isso signifique, em percentuais, cotas bem inferiores se comparadas às praticadas no futebol masculino. Ainda assim, falamos de apenas um clube entre dezenas que apostam no potencial feminino em campo. As dificuldades enfrentadas por clubes, cuja possibilidade de ampliação de verba para a modalidade é quase nula, são sentidas dentro das quatro linhas. Mesmo buscando a superação, fica evidente a superioridade de clubes, como o Santos, que investem e destinam a atenção necessária para as jogadoras, imputando-lhes maior vigor físico, melhor técnica e consequentemente – embora nem sempre seja regra – títulos, aumentando assim a visibilidade da equipe na mídia quando é do interesse dos grandes veículos noticiar algo relacionado ao futebol feminino. No caso citado, a recente presença de Marta Vieira da Silva.

Tratando o futebol feminino da perspectiva organizacional, chegamos, tardiamente, ao ano de 2009, com o retorno de Marta Vieira da Silva já na condição de Melhor do Mundo FIFA por três vezes e tudo o que envolveu seu nome no aspecto de divulgação. Até então, Marta havia se consagrado na Suécia e teve sua última participação na equipe do Los Angeles Sol, pela WPS. Antes disso, no Brasil, não teve seu nome reconhecido.

O futebol feminino dos clubes – quando os tem – é vinculado ao Departamento de Esportes Olímpicos, o que implica em parco investimento. Poucos foram os clubes que trataram de acompanhar o desenvolvimento promovido pela diretoria santista, e esta pequena diferença na mentalidade de dirigentes e empresas que patrocinam o futebol feminino, pode ser sentida na final do Estadual Paulista de 2010, onde a equipe vice-campeã, São José, ganhou patrocínio de uma universidade local e pode melhorar o investimento nas atletas, fazendo excelente campanha num dos raros campeonatos estaduais que possuem um espaço fixo no calendário das Federações locais. Muitas delas cumprem, de qualquer maneira, a obrigação de realizar um Estadual Feminino, porquanto deve enviar um clube que representará a Unidade da Federação na competição nacional.

Ainda que contemos com a realização da Copa do Brasil, que qualifica a campeã para a disputa da Libertadores da América Feminina, há ainda pontos passíveis de melhorias, sobretudo no que diz respeito ao cumprimento da Lei 10.671/2003 – Estatudo do Torcedor*, que rege o Plano de Ações da Confederação Brasileira de Futebol, CBF, para a referida competição.

Em 2010 foram apontados alguns casos onde clubes mandantes não cumpriram as determinações da Lei. Dentro do regulamento da competição, fica claro que a falta de ambulância em campo, cuja presença é de responsabilidade do clube mandante e da Federação local, desclassifica a equipe, concedendo ao visitante a vitória, e, dependendo do turno em que se encontra a competição, vaga para a próxima fase. Não foi o que aconteceu. O presidente em exercício da Federação local conseguiu com que o jogo fosse remarcado alegando “a prestação de relevantes trabalhos junto a CBF”. A equipe visitante foi obrigada a voltar ao campo do adversário, em jogo marcado em horário inconveniente para a prática de qualquer esporte.

Evidenciou-se uma franca e escancarada utilzação do futebol feminino para fins políticos dentro da esfera futebolística. Fora dela, o assunto é tratado por conveniência e não ultrapassa o terreno das intenções.

Ainda falando da CBF, algumas falhas puderam ser percebidas no que diz respeito à atenção dada ao futebol feminino nacional. Em termos de preparação para o Mundial, apenas agora, no mês de março, sairá a convocação da seleção para um período de preparação. Encerrado o período, que durará cerca de 15 dias, outra convocação acontecerá entre abril e maio, que terá tempo equivalente para preparação. Talvez faça um amistoso, ainda não confirmado. Situação preocupante, já que várias seleções qualificadas para a Copa estão envolvidas em competições visando a maior de todas.

Na ocasião do Sul Americano Feminino do Equador, erros de informação no site da Confederação, sobre a quantidade de vagas para o Mundial e para as Olimpíadas, foram responsáveis pelo efeito dominó da informação equivocada em vários veículos de comunicação. Notou-se a pouca importância dada na coleta das informações que estavam disponíveis tanto no Regulamento do Sul Americano no site da Conmebol, quanto documentos oficiais carregados e disponíveis no site da FIFA.

O futebol feminino no Brasil é utilizado para fins comerciais e de maior visibilidade de determinadas marcas. Há uma cultura enraízada de que futebol feminino é lento, maçante e desnecessário, portanto, sem condições de alavancar um maior consumo. Algumas tentativas rendem mais críticas das pessoas realmente interessadas na valorização da modalidade, que elogios, vista que a última passagem de Marta pelo país serviu apenas para realização de dois torneios que não tinham valor para competições oficiais.

No geral, a condição social das atletas do futebol feminino não sofre grandes alterações. Muitas são as que migram para outros estados, afastam-se de suas famílias, vivem em alojamentos criados pelos clubes, mas não são remuneradas como profissionais e sim como amadoras. Muitas ganham ajuda de custo, mas mantem um trabalho em horário diferente dos treinamentos para que sua renda seja no mínimo razoável. Assim sendo, caso raro, Marta (foto) é, certamente, a única futebollista brasileira cuja condição social e econômica sofreu grandes alterações para os padrões gerais das atletas brasileiras. Isto é muito pouco para um país que produz muitas jogadoras.

Não há dúvida de que Marta Vieira da Silva é a personagem responsável pelo crescente interesse de milhares de meninas brasileiras pelo jogo de futebol. Nem tanto pela ascensão social e econõmica auferida pela cinco vezes melhor do mundo, mas, mais pelo seu futebol vistoso e o que ele lhe proporcionou. A infância da alagoana Marta, não difere em nada de centenas de milhares de meninas brasileiras, que se apegaram, a partir de então, ao modelo da genial jogadora, para romper barreiras e conquistar algum espaço num universo e num país de poucas chances quando o assunto é futebol feminino. Elas superam e ignoram qualquer pré conceito, qualquer possibilidade de fracasso tendo como foco principal, fazer o que amam e se realizarem através disso.

Há uma discriminação e rotulação velada. Não há uma aceitação da maioria da sociedade para as questões homossexuais e é muito comum relacionar qualquer atleta do futebol feminino com o lesbianismo como se fosse um problema nato do setor.  Ainda que a postura das pessoas denote algum desprendimento e aceitação das diferenças, tal atitude se dá mais por termos puramente legais que por formação de opinião mesmo. Exemplo disso são nossas leis que criminalizam qualquer atitude de preconceito e racismo. Talvez por esta condição, tudo é realmente muito disfarçado.

Interesses de marketing influenciam diretamente o futebol feminino. Tomemos como exemplo os dois Torneios realizados entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, momento em que o calendário não previa competições. O Torneio Cidade de São Paulo de Seleções teve sua segunda edição e ocupou espaço na programação televisiva num momento em que não aconteciam jogos de futebol masculino. Em janeiro, tivemos o Torneio Interclubes, tentativa de tapar o buraco deixado com a não realização do Mundial Interclubes previsto no início do ano de 2010. Tais competições não tiveram valor competitivo, se entendermos “valor competitivo” como um meio para participar de competições oficiais. Os jogos ocuparam determinadas faixas da programação televisiva, colocaram determinadas marcas em evidência, aproveitou-se a presença da Marta e não realizou nada de definitivo para a modalidade. Por outro lado, viu-se pela primeira vez nos últimos anos, a utilização da imagem da jogadora de futebol para uma possível aproximação com o público masculino. A criação do concurso das Musas do Torneio Interclubes foi exemplo disso. Foram escolhidas duas atletas de melhor aparência de cada equipe participante na tentativa de estabelecer uma ligação mais forte do maior público consumidor do jogo, que é o homem, com a modalidade.

Atualmente o Brasil tem em média, 130 equipes femininas disputando campeonatos estaduais que qualificam as equipes para a disputa da Copa do Brasil. Não é possível contar um número exato de meninas jogando futebol, uma vez que muitas equipes não possuem registro das atletas, mas tomando como base o número de equipes que foi possível localizar, temos em média 3.000 meninas nos campos atuando de forma amadora.

*A Lei 10.671 de 2003 foi criada para definir normas que defendam o torcedor brasileiro de má conduta clubística e de Federações, para assegurar transparência na organização dos eventos esportivos, clareza no regulamento das competições, segurança do torcedor em eventos esportivos, segurança na venda de ingressos, segurança no transporte, higiene dentro de estádios, transparência sobre a escolha da arbitragem e também regula a relação com a Justiça Desportiva.”

E MUITO climão. Alemanha nesta segunda-feira recheada de novidades, deixo Küsse.

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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Márcia Oliveira, treinadora de futebol nos Estados Unidos

Brasileira fala sobre realidade do ‘país do futebol feminino’ e pede maior presença de educadores  
Bruno Camarão
A trajetória do futebol feminino nos Estados Unidos não está diretamente relacionada a fatores culturais ou econômicos. Esporte de maior participação para mulheres, segundo a American Youth Soccer Organization, o diferencial cultural tem teor político.

Estudo desenvolvido no início da década de 1970 revelou que apenas 18% de todas as americanas chegavam a um diploma univeristário (em comparação a 26% dos homens). Em nível das oportunidades disponíveis dentro do desporto, a disparidade era absurda: praticamente 90% dos investimentos na área iam para os homens e apenas 10% para as mulheres.

Em virtude desse cenário, foi concebida uma lei conhecida naquele país por “Title IX” (Título Nove). Em resumo, ela diz que “nenhuma pessoa nos EUA pode ser, com base em seu sexo, discriminada ou excluída em participação de qualquer projeto educacional recebendo assistência federal”. E como a prática do desporto é grandemente vinculada ao sistema educacional, naturalmente esses programas receberam um imenso impulso. 

A nova legislação se refletiu em 51 milhões de alunas do nível elementar e secundário, e 14 milhões no nível universitário. De imediato, as instituições tiveram que adequar suas estruturas, estabelecendo igualdade de oferta em todos os programas educacionais. E o esporte – naturalmente com o futebol feminino inserido no processo – viu-se beneficiado.

Nesses mais de 30 anos, ocorreu um “boom” de oportunidades para as meninas, desde a iniciação à prática de alto nível. A demanda resultou em criação de variadas ligas e de vagas para profissionais especializados. Márcia Oliveira aproveitou-se do contexto.

Formada em Educação Física e em Psicologia, com mestrado em Pedagogia da Educação Física, ela realiza doutorado na área de Administração e Liderança Educacional. Sua base de aprendizado é norte-americana, mas a interação com treinadores brasileiros – René Simões e Jorge Barcellos – serviu para sustentar sua atuação como gestora de campo.

Nesta entrevista à Universidade do Futebol, ela discorre sobre a possibilidade de ingresso de brasileiros em clubes e em universidades, onde tem uma experiência relevante. Além disso, compara a especialização esportiva do Brasil e dos Estados Unidos, e de que maneira se dá o desenvolvimento das crianças nos mais variados aspectos humanos.

“A cultura americana é toda voltada para a educação e usa o esporte como meio de cidadania e suporte social. O sonho de quase todos é receber uma bolsa de estudo para ingressar na universidade jogando o seu esporte favorito”, revela Márcia. “Trabalho fazendo essa diferenciação com conhecimento desportivo, na Educação Física e pelos trabalhos anteriores com a seleção brasileira em seus treinamentos nos Estados Unidos”.


Universidade do Futebol – 
Márcia, conte-nos um pouco sobre sua formação acadêmica e o início de sua trajetória no futebol.

Márcia Oliveira – Minha trajetória acadêmica é a seguinte: fui aluna de Educação Física da UNESP, em Bauru (1990); formada em Educação Física e em Psicologia pela University of Mary Hardin-Baylor, no Texas, EUA (1995); mestrado em Pedagogia da Educação Física pela University of Northern Colorado, no Colorado, EUA (1998); Doutorando em Administração e Liderança Educacional no Ensino Superior pela Sam Houston State University, no Texas, EUA, neste ano.



 

No futebol propriamente, iniciei na própria UNESP. Depois passei pela U.S. Army – servi ao exército Americano e fui técnica em basquete e futebol para o exército no Colorado (Fort Carson, CO). No Colorado Chargers Soccer Club, fui técnica de crianças membros do clube, além de diretora de treinamento de clínicas de futebol no Estado do Oregon, no Score Inc. Soccer Academy.



 

Na sequência, trabalhei na University of Mary Hardin-Baylor como técnica do primeiro programa de futebol feminino da instituição para participar da competição de terceira divisão (1999-2002). Também fui professora do departamento de Exercício e Ciência do Esporte.

Em Sam Houston State University, também fui técnica do primeiro programa de futebol feminino da universidade, só que para participar da competição nacional de primeira divisão (2002-2008). E professora do departamento de Cinesiologia.

Em 2004, trabalhei em conjunto nos Estados Unidos com a seleção brasileira feminina, em preparação às Olimpíadas da Grecia (2004), ao lado do professor René Simões. A mesma função se repetiu no Mundial e nos Jogos da China (2007-2008), com o professor Jorge Barcellos.



 

Na University of South Dakota, elevei o programa de segunda divisão para primeira divisão da competição nacional (2008-2010), sendo também professora do departamento de Saúde e Educação Física.

Trabalhei ainda no acompanhamento da seleção norte-americana de futebol feminino, no ano passado, com a treinadora Pia Sunhage, antes de reestruturar a Grambling State University, universidade afro-americana, para competir em primeira divisão.



 

Sou membro associada da Academia Feminina de Técnicos de Esportes pela National Collegiate Athletic Association (WCA – Women’s Coaches Academy of NCAA), desde 2005; membro associada da Federação Nacional do Futebol dos Estados Unidos (US Soccer USSF); e membro da Associação de Técnicos de Futebol dos Estados Unidos (NSCAA), ambos desde 2000.



 

Universidade do Futebol – Como é a formação do treinador de futebol nos Estados Unidos e de onde surgiu o convite para atuar no país?

Márcia Oliveira – O convite foi uma “evolução” de situações e fatos. Tive uma educação no ensino superior nos Estados Unidos. Com isso, ja fazia parte do “sistema” depois que vim fazer faculdade em 1990. Olhando na minha formação acadêmica, fui convidada a formar o departamento de futebol feminino da University of Mary Hardin-Baylor, onde me formei em Bacharelado em Educação Física e Psicologia em 1995. Daí a minha carreira profissional deslanchou.

Geralmente, o treinador de futebol nos Estados Unidos começa como técnico de clubes, mas não necessariamente, e tenta chegar a técnico principal de uma universidade de primeira divisão.

É um pouco confuso explicar esse círculo de formação, pois é extremamente decepcionante ver profissionais na área que não são sequer professores de Educação Física. Por via das dúvidas, nenhum técnico de qualquer esporte aqui é necessariamente formado em Educação Física. A maioria não é. E isso não é obrigatorio. É decepcionante.

Mesmo assim, há técnicos excelentes (na quadra, no campo, etc.), e as outras áreas de formação do atleta fica para outros profissionais (preparador fisico, fisioterapeuta, etc.).



 

Os técnicos de universidades de primeira divisão são profissionais, em sua grande parte, equivalentes a representantes de seleção nacional e times da liga profissional. Mesmo assim, uma grande maioria não está no nível de técnicos profissionais no Brasil ou na Europa. A comissão tecnica da seleção dos EUA, por exemplo, é formada por uma técnica internacional e auxiliares que são técnicos de universidade de primeira divisão.

Os técnicos da liga profissional americana, na maioria das vezes, são ex-técnicos de universidades, técnicos internacionais, e ex-técnicos da seleção nacional.

Sobre a formação do treinador de futebol, aqui se “formam” mais como profissionais da área, pelos congressos de técnicos e cursos de um sistema de licença de futebol.

Os sistemas de licenças são A, B, C, e D, e por nível: premier, nacional e estadual. A licença inicial é pela federação (USSF) e mais limitada, em minha opinião. A licença pela associação de técnicos (NSCAA) é melhor, pois permite intercâmbios com profissionais internacionais.



 

O profissional pode ser técnico desde clubes a universidade, e até de seleção nacional, sem nenhuma delas, contanto que seja um bom profissional e exerça uma boa “politica”. De qualquer forma, as licenças enriquecem o conhecimento e o currículo.

Universidade do Futebol – De que maneira você avalia a importância dos treinadores estrangeiros no processo de profissionalização?

Márcia Oliveira – A importancia de estrangeiros é grande, pois nos Estados Unidos o esporte mais popular não é o futebol (soccer), e sim o football (futebol americano), o basquete, e o beisebol.

A maioria dos profissionais internacionais que trabalham com clubes são ingleses. Eles já falam a língua, e o americano, em si, acredita que os europeus sabem muito de futebol. Muitos fazem do sotaque inglês uma “forma de mostrar” que entendem da modalidade.

Os brasileiros, entretanto, são bem mais reconhecidos. O problema em relação a eles é a barreira do idioma e a autorização de trabalho. Europeus também não têm autorização de trabalho automática, mas há mais facilidade de se adaptar e procurar suporte de trabalho.

O treinador brasileiro pode se convidado e a ele ser oferecida uma autorização de trabalho – como Jorge Barcellos, da seleção feminina em 2008, que trabalhou no St. Louis Athletica, da liga profissional feminina. Ele teve um desempenho muito bom com a seleção brasileira feminina, dando continuidade ao trabalho feito em 2004, nas Olimpíadas da Grécia.



 

Os demais profissionais teriam que vir por cursos em universidades, convites de clubes, e, se possível, imigrando por família. O sistema de fases de assumir cargo como técnico se aplica da mesma forma para brasileiros, sendo a fluência no inglês e a autorização de trabalho dois fatores determinantes.



 

Universidade do Futebol – É possível se dizer que já há uma “escola estadunidense de futebol”, assim como há um modelo de jogo tipicamente inglês, italiano, brasileiro e argentino, por exemplo?

Márcia Oliveira – Em minha opinião, não, pelo menos até agora. Particularmente ainda acho que a seleção masculina dos Estados Unidos está muito distante de obter essa “identidade especial”. Em geral, eles atuam como os europeus – jogo direto, na força, e na velocidade.

A seleção feminina americana tem tido uma personalidade de jogo mais efetiva e melhor guiada por treinadores da mais alta qualidade, como Pia Sundhage, da Suécia, que tem uma variação de dar posse de bola, jogo rápido, e com um padrão mais atual e elevado. No masculino, o estilo é mais puramente um espelho do estilo europeu.



 

Universidade do Futebol – Você acredita que a globalização estabeleceu parâmetros e aproximou esses estilos?

Márcia Oliveira – Acho que a globalização tem ajudado muito a paises que estavam mais distantes de um estilo próprio. Isso traz uma melhor aproximação dos estilos, mas sempre existirão, em minha opinião profissional, os estilos mais legítimos, como o europeu e o sul-americano.

Universidade do Futebol – Qual é o perfil atual do jogador de futebol nos Estados Unidos?

Márcia Oliveira – É um fato que a maioria dos atletas se espelha no futebol europeu e na mistura do futebol americano. Rápido, direto, e na força, como falei anteriormente.

Acho importante salientar que no futebol atual, no mundo, isso está prevalendo muito e a diferenciação está na técnica avançada de países como o Brasil. A condição tática ainda é um fator “equalizador”; a experiência, a técnica e o talento nem sempre prevalecem, mas ainda são um diferencial.

Nas seleções nacionais, existe um amadurecimento melhor e de mais alto nível no feminino. O masculino tem melhorado muito, mas ironicamente, e diferentemente do Brasil, o feminino é mais importante aqui. Só nas universidades de primeira divisão contamos com 320 times.

Como a maioria das universidades de primeira divisão tem football (americano), o futebol feminino, pela lei do Título Nove (Title IX), é muito bem visto por dirigentes para se manter nas instituições de ensino. O número de participantes em uma equipe é grande, e ajuda a equilibrar a quantidade do football nesta mesma universidade.



 

Universidade do Futebol – Os Estados Unidos têm uma tradição secular de organização desportiva e tratamento profissional de suas ligas. De maneira geral, como é estruturado o futebol nos Estados Unidos? Há uma diferenciação muito grande entre a categoria profissional masculina e feminina?

Márcia Oliveira – Com certeza o mundo ainda é dos esportes masculinos, apesar de que as mulheres são maioria. A liga masculina já está mais consolidada que a feminina, e o incentivo é muito maior no masculino, mesmo que a seleção nacional feminina tenha tido mais sucesso internacionalmente. A boa noticia é que as federações e o governo mantêm um equilibrio mais próximo e cumprem as leis com responsabilidade e respeito.



 

Universidade do Futebol – As crianças e adolescentes praticantes do futebol nos EUA pretendem, de forma geral, se tornar jogadores ou jogadoras profissionais?

Márcia Oliveira – A grande maioria das crianças quer ter a oportunidade de jogar por universidades, o mais alto nível antes do profissional. Muitos sonham com isso, mas o foco maior é jogar por “aquela universidade” famosa, grande, prestigiosa.

A cultura americana é toda voltada para a educação e usa o esporte como meio de cidadania e suporte social. O sonho de quase todos é receber uma bolsa de estudo para ingressar na universidade jogando o seu esporte favorito. Mesmo assim, há aqueles que não terminam a universidade para jogar profissionalmente – um fato raro.



 

Universidade do Futebol – No Brasil, são poucas as linhas de pesquisa científica para identificação de talentos esportivos no próprio futebol masculino. De que maneira os clubes dos Estados Unidos, onde você atua, trabalham em seus departamentos de formação a detecção de jovens com potencial para se tornarem atletas profissionais?

Márcia Oliveira – Os clubes não têm essa formação profissional como expliquei anteriormente. São poucas as agremiações profissionais que começaram a fazer programas mais específicos e com trabalhos verticais.

Eles são totalmente amadores (com licenças ou não), e a atleta paga para treinar e jogar. A formação e a detecção de talentos se dão mais nos programas de desenvolvimento olímpico e nas universidades. Eu trabalho com universidade, e esses projetos são areas de recrutamento de atletas para a maioria das instituições de primeira divisão.



 

Universidade do Futebol – Em se considerando os aspectos anatômico-fisiológicos característicos da mulher em comparação ao homem (menor estatura média, maturação mais rápida do esqueleto, ossatura mais fina, maior percentual de gordura corporal, diferenças do metabolismo, menor massa muscular, etc.), quais padrões de planejamento técnico, tático e físico devem ser traçados para respeitar essas peculiaridades?

Márcia Oliveira – Esses padrões se diferenciam entre o masculino e feminino, é claro. O critério é cientifico. Cada técnico tem a sua visão e sua filosofia, mas o futebol também é “ciência”. Eu trabalho de uma forma mais “holística”, incorporando todos os fatores possíveis para a continuidade de formação do atleta.



 

Faço uso também de testes adaptados para o feminino e de instrumentos que melhoram e aperfeiçoam a técnica.

Como aqui, e em nenhum lugar que conheço, há uma diferenciação em equipamento ou campo de futebol (no basquete americano existe uma especificidade no tamanho e no peso da bola, e em relação à distância da linha que demarca os três pontos), as áreas técnica, tática, física e psicológica são tratadas separadamente, de início, e em conjunto, posteriormente.

Esses padrões de planejamento devem ser traçados de acordo com a necessidade e em relação ao calendário para respeitar essas peculiaridades.

Trabalho fazendo essa diferenciação com conhecimento desportivo, na Educação Física e pelos trabalhos anteriores com a seleção brasileira em seus treinamentos nos Estados Unidos. Por exemplo, exercícios de condicionamento e levatamento de peso para fortalecer musculatura e ligamentos para prevenir contusões (as atletas tem uma tendencia de lesão ligamentar do joelho por causa da amplitude dos quadris).

Desenvolvo também atividades com futsal e outros tipos de bolas para aprimorar a técnica, e trabalho holisticamente em conjunto com o departamento de fisioterapia na prevenção de contusões, no monitoramento nutricional, médico e psicológico.



 

Treinar mulheres é diferente dos homens, pois elas são detalhistas, seguem com mais facilidade o planejamento de treino e jogo, têm uma tolerancia baixa para o erro, querendo sempre fazer o melhor, além de uma emoção mais apurada.

O treinador, ou treinadora, tem que saber muito mais sobre futebol e gerenciamento de grupo para treinar mulheres do que para treinar homens. Cada grupo tem os seus desafios e as suas compensações.

Um dos grandes propulsores do futebol feminino no Brasil é René Simões. Além do seu livro sobre a conquista na Olimpíada na Grécia (O Dia que as Mulheres Viraram a Cabeça dos Homens), ele sempre fala que aprendeu muito mais sobre o que é realmente ser treinador de futebol depois da experiência com a seleção feminina do Brasil.

A ele, eu agradeço muito pela integridade e profissionalismo de dirigir a seleção brasileira feminina em 2004, quando trabalhamos juntos em sua passagem com aquele grupo no Texas. Em seu livro, ele relata sobre essa passagem e experiência. A ele também, agradeço por ter sido uma inspiração para o meu trabalho como treinadora.



 

Universidade do Futebol – A ação motora desportiva feminina possui outro tempo de execução e outra performance, quando comparada com a masculina. De que maneira se realiza o processo de explicitação e conscientização da equipe para este fato?

Márcia Oliveira – Em geral, os técnicos daqui não veem dessa forma. A maioria deles é leiga e não tem nenhuma formação na Educação Física. Particularmente, sigo um estilo de treinamento alemão para esses níveis de conscientização, conferindo atividades mistas com os meninos, quando possível. Em um ou dois treinos da semana, também, coloco duas jogadoras por vez para treinarem como o masculino.

Uso muito o futsal no primeiro semestre do ano (inverno), e faço uma orientação geral dos testes de RAST, musculação, e monitoramento de nutrição para melhorar a performance e conscientização do nível atlético de cada uma.



 

Universidade do Futebol – Se tratada de forma correta, a especialização esportiva ajuda no desenvolvimento das crianças nos aspectos social (relações com outras pessoas e com o mundo), filosófico (compreensão e questionamento), biológico (conhecimento e utilização do corpo), e intelectual (desenvolvimento cognitivo)? O que pensa sobre esse tema, especificamente?

Márcia Oliveira – Acho essa área fascinante. É a fundação do esporte. Tive a oportunidade de fazer alguns trabalhos com o sub-9 e o sub- 10, masculino e feminino, no Michigan. Trabalhei as áreas motoras, técnica, social, e intelectual com esses grupos.

Infelizmente, nos Estados Unidos, eles já jogam no campo (tamanho reduzido, bola menor). No Brasil, utilizamos o futsal. Os jovens americanos, em sua maioria, são orientados pelos pais para serem agressivos e competidores, colocando de lado toda essa formação maravilhosa dos aspectos social, biológico, intelectual, etc.

Como falei anteriormente, é muito raro ver um profissional de Educação Física trabalhando com essa faixa etária (ou em outras). Perde-se muito nesse quesito, e aí que está a grande diferença do trabalho no Brasil.

O futsal, a organização das aulas, o respeito com a faixa etária, o desenvolvimento de cada um e a alegria de jogar, socializar, primeiro; e sonhar em jogar futebol de campo, depois.

É lamentavel que não há muito profissionalismo ou iniciativas com profissionais de Educacão Física nesta área nos Estados Unidos. Segundo a Fifa, o país tem um número significante de praticantes jovens em todo o mundo.



 

Universidade do Futebol – E o mercado de trabalho para profissionais do futebol brasileiro que queiram trabalhar nos EUA? Quais são os principais desafios e dificuldades a serem superados?

Márcia Oliveira – Há muitas opções. Principalmente com as crianças, como citei anteriormente. A língua é uma grande barreira, a autorização de trabalho é muito difícil, mas mesmo assim não é impossivel. Tem que ter um propósito sério e não pensar que “tudo cai do céu” aqui nos Estados Unidos.

A jornada é dura e dificil como qualquer transição na vida. Da mesma forma, pode ser muito gratificante. Com convites de clubes ou universidades, isso é possivel. Vir para fazer mestrado e atuar como estagiario (graduate assistant) é outro investimento importante. Já existe muita procura de pessoas do mundo inteiro. Mas, em minha opinião, o brasileiro profissionalmente sério tem todas as condições de ir longe.

Recruto jogadoras americanas e internacionais. Já tive jogadoras brasileiras nos meus trabalhos em universidades. E elas tinham um propósito muito sério e maduro, sendo de alto nível (seleção brasileira sub-20). Todas foram bem sucedidas.

Deixo meu contato (marcia.oliveira@me.com) para jogadoras do Brasil que queiram ingresar em universidades americanas jogando futebol, e também para trocar informações e tirar dúvidas sobre orientação profissional.



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