quarta-feira, 13 de julho de 2011

Raio-X do Mundial de Futebol Feminino na Alemanha

Copa do Mundo de futebol feminino 2011 – semifinais sem Alemanha e Brasil

A decepção é geral no Mundial e o país anfitrião queria ver sua seleção jogar contra o Brasil na final. EUA, Suécia, Japão e França avançam

Márcia Oliveira*

Em um final de semana decepcionante com jogos pelas oitavas de final, o Brasil e a Alemanha deixaram o Mundial feminino de 2011 com a pior colocação das últimas edições.

O Brasil ficou no pior patamar nos últimos 12 anos de competição internacional na modalidade. A Alemanha não via tamanha decepção também em toda sua história. Ainda por cima, as germânicas não têm lugar nas Olimpíadas em Londres 2012. O consolo está no Mundial sub-20 em 2010 conquistado pela mesma.

O Japão não parecia ser problema para a Alemanha, que já estava celebrando a sua vitória antes de o jogo começar, e os jornais já estampavam grandiosa admiração pela equipe do país e comemorava o primeiro lugar no seu grupo no último jogo vencido por 4 a 2 sobre a França.

Mas o time disciplinado e perseverante do Japão mostrou que o futebol bem jogado e taticamente eficiente pode “fazer milagres”. Afinal de contas, o futebol é um esporte equalizador. Basta saber o que está fazendo, ter uma boa equipe, e poderá complicar a vida de qualquer time grande.




O Japão marcou bem e fez boas transições de jogo contra a Alemanha

Frustração da Alemanha no ataque foi geral, e o time "que não fez, acabou levando"

 

Não deu outra! O Japão ganhou o jogo por 1 a 0 e chocou o país, trazendo à tona mais ainda os problemas internos da Alemanha com a sua estrela principal Brigit Prinz. Mais um recorde de audiência na televisão e de público pagante, que desta vez não teve comemorações.

Apesar do fracasso inesperado, a DFB, Federação de Futebol Alemã, comemorou que o futebol feminino criou o seu lugar nos corações dos alemães e vai continuar admirado e tendo o suporte por lá. No ano passado, no Mundial sub-20 na Alemanha, o time anfitrião foi campeão, enquanto que o Brasil fracassou.

Do lado do Brasil, o jogo contra os Estados Unidos tinha suas peculiaridades. Grandes duelos já haviam sido travados entre os dois, e ambos tinham estado como dois melhores do mundo em Copa do Mundo e Olimpíadas anteriores. Os EUA vinham de uma derrota para a Suécia por 2 a 1 ficando em segundo na sua chave neste Mundial.

Elas já pareciam dar como perdida a sua participação na Copa, pois viam o Brasil favorito pelas grandes atuações individuais de Marta e outros grandes nomes da equipe, como Rosana, Erika e Cristiane. Os EUA estavam assustados e com medo, pois seria a pior Copa delas se caíssem para o Brasil.

O padrão de jogo brasileiro, ou a falta de um, como se viu em outras competições mundiais, ainda recebia grande crítica de técnicos e imprensa desde o começo da Copa. Novamente, o ex-técnico dos EUA, Tony DiCicco, mantinha sua postura em rede nacional ao criticar a desorganização do time brasileiro e a aparente inexperiência do técnico Kleiton Lima.



Cobertura dos jogos do Mundial feminino pela ESPN dos EUA; à direita, o ex-técnico e campeão mundial por aquele país, Tony DiCicco

 

Aos 2 minutos do primeiro tempo, o Brasil marcou contra. Os EUA celebraram o que tinha sido previsto pelos comentaristas e técnicos sobre a condição da defesa. A televisão alemã mostrou vídeos em animação computadorizada do Brasil, explicitando a mesma situação em jogos anteriores contra times mais fracos.

O time dos EUA por sua vez continuou marcando a estrela brasileira Marta duramente e acabou perdendo uma jogadora ainda no segundo tempo com um cartão vermelho. Marta marcou em pênalti e ajudou o Brasil a ir à prorrogação.



 

Os EUA jogaram a maioria do duelo, incluindo a prorrogação, com 10 jogadoras e o Brasil só marcou em um lance brilhante de Marta, que ela mesmo ficou surpresa. A goleira dos EUA ficou completamente batida – a melhor goleira e “musa da Copa” chamada pela imprensa brasileira ficou sem ação diante do brilhantismo de Marta.



 

Daí por diante o jogo foi à loucura, e o Brasil só precisava ter mais organização e segurança. Não aconteceu. Mesmo com 10 jogadoras em campo, os EUA empataram o jogo no último minuto, levando para a prorrogação.

Infelizmente, a zagueira Daiane, que esteve envolvida no gol contra do Brasil, foi escalada para os pênaltis e não converteu. A imprensa alemã criticou duramente a escalação dela – sugeriu, inclusive, que isso foi uma decisão proposital do técnico do Brasil, não respeitando a situação da jogadora que já havia sido infeliz no mesmo jogo e não devia ter sido selecionada para as cobranças.




O público e o time do Brasil não conseguem entender a derrota de um jogo ganho... 

 

Decisões à parte, o “Brasil de Marta” ficou no caminho, jogando contra uma seleção inconsistente dos EUA, que está fazendo uma renovação no seu elenco desde as Olimpíadas de 2008.

Com certeza, ser técnico de uma seleção nacional não é fácil, principalmente se a equipe não mostra padrão de alto nível e não se classifica. Nenhuma federação ou confederação escolhe técnicos para perder. Nenhum técnico toma decisões para o seu time para não ser bem sucedido. Se a bagagem do técnico não for grande e boa, as coisas ficam piores ainda, e o fracasso é quase certo durante ou depois.

Enquetes na Alemanha (sportschau.de) e no Brasil (espn.com.br) abrem opções de votos sobre os seus respectivos técnicos. Silvia Neid, técnica da Alemanha, tem o apoio até agora de quase metade dos leitores pela atuação da sua seleção e o problema interno com Brigit Prinz.



Sportschau.de – enquete sobre a treinadora da Alemanha ter sido a certa ou não para a seleção local; opções: Ja (sim), Nein (não). Segunda foto mostra o resultado até agora, quase dividido em opiniões. 


O técnico do Brasil, Kleiton Lima, é visto por impresa e técnicos como um profissional inexperiente. Sua trajetória internacional começou na Copa do Mundo do Chile, quando comandou o sub-20 e não passou das oitavas novamente. No caso dele, a CBF parece querer investir no técnico e continuar dando suporte e oportunidade para ser tornar um comandante mais capacitado internacionalmente.

Há um ano à frente da seleção principal, ele teve grandes oportunidades com a CBF e pode continuar a receber esse apoio para melhorar a sua atuação. A entidade fez isso anteriormente com Dunga na seleção masculina.




 

A Copa Mundial da Alemanha 2011 segue com a França e Suécia como favoritas. Os EUA jogam contra a França na primeira semifinal, e a Suécia contra o Japão, que já fez história na vitória contra a Alemanha e pode ficar no caminho.

Já as norte-americanas precisam ter mais consistência pela oscilação da renovação e deve sofrer com o desfalque da zagueira Buehler.




Veremos se a final terá jogos com tamanha surpresa como foi o duelo entre japonesas e alemãs. De qualquer forma, o futebol feminino no mundo ainda ganha com isso, pois outros países mostram o seu potencial e expandem a sua motivação de apoio a outras partes do mundo.

O único país que não vai mostrar muita diferença com os resultados da Copa é o EUA, que já está entre os quatro melhores do mundo e mantém uma estrutura excelente.

Seja qual for o resultado, as americanas têm uma base de 320 universidades em primeira divisão com futebol feminino e a sua liga profissional está com planejamento fechado para os próximos dois anos. Os dirigentes estão cautelosos nesta fase, em que não se fazem mais contratações de técnicos internacionais (o último foi Jorge Barcellos, vindo do Brasil) e se tem mantido a lista de jogadoras com mais nomes nacionais (cada equipe pode ter apenas três jogadoras internacionais).

Eles querem manter os salários de técnicos e jogadoras baixos – aproximadamente 60 mil dólares por ano –, enquanto o país ainda passa por problemas financeiros. A cautela é grande para manter a liga profissional. O planejamento é continuar investindo domesticamente, e a Copa do Mundo faz a propaganda para melhores investimentos para superar a recessão.

Fiquem ligados! Este Mundial feminino 2011 ainda tem muito que contar.

Até logo, ‘Bis später’.


*Márcia Oliveira é treinadora de futebol nos Estados Unidos. Conheça mais as ideias dela clicando aqui.

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

A influência da regra no futebol feminino

Caso gols, tamanho de campo e o número de jogadoras fossem adaptados, iríamos ter um jogo mais atrativo?

Durante todo o mês de junho dedicamos espaço para discutir aspectos relacionados à seleção, formação e detecção de talentos. Como, obviamente, um mês não foi suficiente para esgotar o assunto, voltaremos com ele num futuro próximo em período oportuno.

Antes de iniciar com o texto desta semana, primeiro quero agradecer pelos comentários e discussões (presenciais ou à distância) que tive com muitos de vocês, leitores. Por favor, continuem usando esse espaço para interagir colaborando para o nosso progresso.

Voltando para o assunto da coluna propriamente dita, neste mês de julho, aproveitando o gancho da Copa do Mundo de futebol feminino, quero dedicar espaço às mulheres.

Antes que você pense que abordaremos aspectos da regra feminina (menstruação), quero esclarecer que o título da coluna não se refere a nenhum trocadilho e nosso foco será mesmo voltado para a regra do futebol. Não que a interferência da menstruação sobre o desempenho do futebol não seja interessante. Podemos até discutir este assunto numa outra oportunidade, mas é que nesta semana este tópico não vem ao caso. O que desejo mesmo é discutir até que ponto a regra do futebol feminino ser idêntica à do masculino auxilia ou prejudica a modalidade.

Diferente de outros esportes como basquete e vôlei que possuem regras ajustadas para as mulheres (diminuição da altura da rede e da cesta, por exemplo), no futebol feminino não há mudança nenhuma em relação ao futebol masculino. Essa medida, por muitas vezes, torna a modalidade monótona, pouco competitiva e até certo ponto sem graça, pois considerando que as mulheres, por natureza, apresentam maior percentual de gordura, menor estatura, menos força, velocidade, potência e resistência do que os homens, é natural que a dinâmica do jogo seja completamente diferente já que apesar das diferenças gritantes entre homens e mulheres, o espaço, o número de jogadores e o tempo da partida são idênticos entre o futebol masculino e feminino.

Sem adaptações, ocorrem discrepâncias tamanhas as quais geram dois mundos absurdamente distintos. Você já parou para pensar a razão do sucesso ou o fracasso de outras modalidades coletivas serem mais ou menos semelhantes para ambos os gêneros e no futebol ser completamente diferente? 

E por que a imprensa discute a convocação de um ou de outro jogador para a seleção masculina, mas nem conhece quem irá para a seleção feminina, nem muito menos onde cada menina joga? Sem falar no tempo e no espaço dedicados ao futebol feminino e masculino na mídia impressa e televisiva.

Não dá para determinar se as discrepâncias entre o futebol feminino e masculino em nosso país são causa ou consequência de fenômenos sócio-econômico-culturais, mas penso que se houvesse algum tipo de ajuste, poderíamos ter efeitos positivos, completamente diferentes do atual.

A figura abaixo representa um círculo vicioso que explica, em parte, os problemas enfrentados pelo futebol feminino.



 

Não pretendo inventar outra modalidade ou alterar o pensamento e o comportamento da maioria da população, mas talvez se tivéssemos gols, tamanho de campo e o número de jogadoras adaptados de tal modo que deixassem o jogo mais atrativo, ou até mesmo ter incentivo das federações e a obrigação dos clubes em formar e manter o futebol feminino, poderíamos inverter o quadro atual do futebol feminino e quem sabe um dia até ter a atenção da população repartida de forma equânime para homens e mulheres.

Tal mudança provocaria uma série de oportunidades de negócios, geração de mais empregos, alavancagem econômica de clubes e atletas e ao invés do circulo vicioso, poderíamos gerar um ciclo virtuoso.

Sei que esse pensamento pode até ser utópico, mas que seria legal ver jogadoras fazendo propagandas de produtos, valendo os mesmos milhões que os atletas masculinos e provocando as mesmas discussões e brincadeiras de torcedores apaixonados pelos seus times nas versões femininas, ah, isso seria...

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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Realizada abertura da V Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador

27/06/2011

A competição tem previsão de início para agosto de 2011. 

 
Foto: Divulgação (Presidente da LCFF, o 2º da direita para a esquerda)
copafortalezabela2011.jpg
 
A grande novidade  é a inclusão da modalidade feminina nas disputas. Essa foi uma demanda apresentada pela Liga cearense de futebol feminino (LCFF) na 1ª Conferência Municipal do Esporte , realizada em abril de 2010
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Na última quarta-feira (22), às 19 horas, foi realizada a festa de abertura da V Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador, no Ginásio Paulo Sarasate. Marcaram presença cerca de duas mil pessoas. A mesa de abertura foi composta de todos os Coordenadores de Esporte das seis Secretarias Executivas Regionais de Fortaleza; além do Titular da Secel, Evaldo Lima. "Democratizar o esporte e o lazer é a nossa missão. A Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador nos enche de orgulho por ser um espaço que oportuniza a interação entre atletas dos mais diferentes cantos da cidade, e por seu potencial de revelar novos talentos. Defendo, inclusive, que os campos de várzea sejam tombados, porque eles estão sumindo - em consequencia da especulação imobiliária, privando as comunidades de opções de lazer", disse Evaldo.

A Copa Fortaleza Bela de Futebol Amador é uma das maiores competições de esporte amador do país, sendo realizada pela Prefeitura de Fortaleza, através da Secretaria de Esporte e Lazer (Secel), em parceria com a Liga Cearense de Árbitros de Futebol (Licaf). Em 2010, a Copa envolveu mais de 8,5 mil atletas da Cidade. No total, 336 equipes disputaram o título e 339 jogos foram realizados. A competição também contou com a participação de 65 mil pessoas, dentre membros de comissões técnicas, ligas desportivas e árbitros. O evento, nesse ano, terá como grande novidade a inclusão da modalidade feminina nas disputas. Essa foi uma demanda apresentada na 1ª Conferência Municipal de Esporte e Lazer, realizada em abril de 2010, e atendida para 2011.

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quinta-feira, 23 de junho de 2011

LCFF dá apoio à Luta de Braço

Luta de Braço - Cartaz_02

luta de braço 01

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Evento no Museu do Futebol coloca o Futebol Feminino na roda

No mês em que acontece o Mundial de Futebol Feminino na Alemanha, o Museu do Futebol coloca o jogo das meninas na roda para um agradável bate-papo. Vai perder

No mês do Mundial de Futebol Feminino na Alemanha, o Museu do Futebol em parceria com o Grupo de Literatura e Memória do Futebol – Memofut, realizarão um encontro entre personagens que fizeram e fazem a história do futebol feminino nacional.

Siga o Futebol para Meninas no Twitter: @futebolmeninas

O Bate-Papo Futebol Feminino acontecerá no dia 02 de julho, a partir das 10 horas no Auditório Armando Nogueira e com entrada gratuíta! Para os interessados na modalidade e em conhecer um pouco mais da história do jogo das meninas em terras brasileiras, é uma oportunidade ímpar e imperdível.

Entre os convidados estarão Rose do Rio, a primeira técnica de futebol do Brasil e a guerreira que lutou para que a Deliberação 7/65 fosse revogada. Também estará presente o ex-presidente do Santos Futebol Clube, Marcelo Teixeira, responsável pelo retorno de Marta ao Brasil, implementação do Departamento de Futebol Feminino do Santos e a retomada da modalidade no clube.

Imperdível!

O evento também contará com a participação do Gestor do Futebol Feminino do Palmeiras, Ademar Fonseca, o Dema, e com as autoras do livro “Nós, Mulheres do Futebol“, Silvia Bruno Securato e Ellen Drasty.

O convite está feito e o evento é aberto e gratuíto. O Museu do Futebol fica no Pacaembu, Praça Charles Miller, s/nº. Quem vai levanta a mão!

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sábado, 4 de junho de 2011

Entrevista] Interdisciplinaridade e mudança social pelo esporte

Daniela Lemos, coordenadora técnica do UniSol
Profissional faz apresentação sobre a segunda edição do Prêmio Nike Esporte pela Mudança Social
Bruno Camarão

Os sinais são claros de que as universidades, muito em razão do momento gerencial prévio da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos, que serão realizados em território brasileiro, colocaram o esporte em suas pautas. Ações relacionadas a atividades físicas e modalidades diversas permeiam a academia, com o amparo de algumas grandes empresas especializadas na temática. É o caso da parceria entre a Nike do Brasil e o programa UniSol (Universidade Solidária).

Ambos, juntamente com a Rede Esporte pela Mudança Social (REMS), a partir do ideal de que o esporte pode promover o desenvolvimento social por meio de ações nos âmbitos social, ambiental e econômico, criaram o Prêmio Nike Esporte pela Mudança Social. O alvo é reconhecer e apoiar ações e projetos de extensão universitária, executados por professores e alunos, que utilizem modalidades como mote desenvolvimentista humano.

“O UniSol tem 16 anos de atuação e a proposta fundamental é contribuir para a formação cidadã dos estudantes universitários, colocando-os em contato com a comunidade na qual eles estão inseridos, ou com comunidades menos favorecidas”, explica Daniela Lemos, coordenadora técnica do UniSol.

Ao agregar o que a universidade desenvolve com o conhecimento do estudante universitário ao longo da vida acadêmica, o projeto consegue dar um passo adiante nessa transformação. O programa articula e implementa projetos e ações sociais de instituições de Ensino Superior, em parceria com empresas públicas e privadas, organizações do Terceiro Setor e comunidades.

O UniSol é um programa da AlfaSol, criada por Ruth Cardoso, que estimula a liderança nos jovens universitários e, sobretudo, proporciona uma visão mais apurada da realidade social brasileira, fortalecendo a organização comunitária e a construção de soluções pontuais.

Na segunda edição do Prêmio Nike, concorrem projetos de extensão universitária com foco em esporte e que beneficiem diretamente jovens em situação de vulnerabilidade social, localizados nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. O valor da premiação é de R$ 25 mil, com acompanhamento técnico da equipe do UniSol.

“A universidade tem total autonomia para desenvolver suas atividades. Quando elas apresentam o projeto, há uma pré-definição de roteiro, com orçamento e metas desenhadas para os seis meses de trabalho”, comenta Daniela.

Coordenadora de projetos, ela aponta que o UniSol trabalha para garantir os benefícios e a interação entre universidade e comunidade. Por exemplo, se um professor está tendo alguma dificuldade na implementação de determinado projeto, se a universidade está acompanhando de fato a iniciativa, ou mesmo se as ações estão sendo institucionalizadas para não se tornar algo apenas pontual.

Nesta entrevista à Universidade do Futebol, Daniela fala mais sobre as especificidades do UniSol, o cenário atual propício para projetos ligados ao esporte e como o diálogo entre academia e sociedade pode ser benéfico para a formação dos jovens carentes.



 

Universidade do Futebol – Você poderia falar sobre sua formação, a trajetória até o ingresso no UniSol e a experiência em lidar com projetos, impactos e inovações na área social?

Daniela Lemos – Comecei no antigo Comunidade Solidária, um programa de governo criado pela doutora Ruth Cardoso. Era estudante da UNB de Administração e estagiei nessa parte administrativa. Lá me deparei com todo o aparato de política social e combate à pobreza.

No Comunidade Solidária, fui apresentada à Universidade Solidária, e passei a atuar como coordenadora de projetos no antigo programa nacional, muito parecido com o Projeto Rondon, em que muitos universitários vão para comunidades distantes fazer um intercâmbio social e discutir as fragilidades desses grupos, ao mesmo tempo em que realizam uma troca cultural.

Passei três anos nesse programa de governo, e em 2003 o UniSol se transformou em uma organização da sociedade civil, e fui coordenar a área de projetos. Minha formação é em assistência social, com especialização em gestão de projetos na área do Terceiro Setor.

Na Alfasol, o Universidade Solidária é um programa que integra todas essas ações criadas pela doutora Ruth, e dentro desses planos há o Prêmio Nike – Esporte pela Mudança Social, cuja primeira edição foi criada em 2008.



Ruth Cardoso, durante Primeiro Comício da Mulher, em campanha eleitoral em São Paulo (1985); foto: Ary Brandi

 

Universidade do Futebol – O UniSol (Universidade Solidária) é um programa que articula e implementa projetos e ações sociais de Instituições de Ensino Superior (IES), em parceria com empresas públicas e privadas, organizações do Terceiro Setor e comunidades. Fale um pouco mais sobre ele.

Daniela Lemos – O UniSol tem 16 anos de atuação e a proposta fundamental é contribuir para a formação cidadã dos estudantes universitários, colocando-os em contato com a comunidade na qual eles estão inseridos, ou com comunidades menos favorecidas.

A ideia é pegar toda essa expertise – o que a universidade desenvolve mais o conhecimento do estudante universitário ao longo da vida acadêmica – e transformar em uma ação educativa para essas comunidades a partir das potencialidades e das demandas que elas têm.

Temos também uma parceria com o Banco Santander que foca nas questões ambiental e de geração de renda. Na realidade, o UniSol articula o conhecimento acadêmico em prol de comunidades menos favorecidas, mas reconhecendo o conhecimento popular existente nos moradores daqueles ambientes.

Universidade do Futebol – Um dos projetos desenvolvidos é o Prêmio Nike - Esporte pela Mudança Social. Quais as pretensões e os resultados já alcançados por essa empreitada que chega à sua segunda edição?

Daniela Lemos – Em 2007, a Nike começou a articular no Brasil a Rede Esporte pela Mudança Social (REMS) e convidou não apenas as grandes ONGs que atuam com esporte no Brasil, como outras que também trabalham com ações educativas e que lidam com ações de gênero.

O Universidade Solidária entrou no circuito, pois havia também o foco de levar a academia para discutir sobre a forma como o esporte é tratado no país. Não apenas o alto rendimento ou as atividades ligadas à saúde.

Começamos a discutir nos projetos que havíamos feito, e as universidades apresentavam mais o esporte relacionado ao lazer ou em seu aspecto educativo. E surgiu a ideia do primeiro Prêmio Nike – Esporte pela Mudança Social. Tivemos mais de 50 projetos, e cinco deles foram premiados em nível de Brasil – no Rio Grande do Sul, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Santa Catarina.

Envolvemos mais de 600 crianças e adolescentes, com projetos de empreendedorismo no Rio, com a PUC-RJ, e também em São Carlos, com a UFSCAR.

Rediscutindo as estratégias, pensando em uma continuidade, resolvemos lançar a segunda edição mais focada para jovens e adolescentes, especificamente para as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. O prêmio passou de 15 para 25 mil reais, e as universidades premiadas receberão o acompanhamento técnico do UniSol por seis meses, além de doação de materiais esportivos da Nike.

As universidades, por conta do momento vivido pré-Copa e Olimpíadas, colocaram o esporte em suas pautas, aumentando essas ações relacionadas de uns dois anos para cá.

Universidade do Futebol – O cenário atual do mundo é também inspirar a mudança social por intermédio do esporte?

Daniela Lemos – Sem dúvida alguma. E de várias formas. Tivemos um projeto premiado que, na realidade, o esporte era um meio, e não o fim.

Um jovem skatista do subúrbio do Rio de Janeiro ensinava às crianças no contraturno escolar essa prática, e a universidade viu aquela potencialidade e qualificou o grupo, junto com a Nike do Brasil, e hoje praticamente eles são uma associação que produz shapes, aquela prancha do skate. Chama-se Briza Arte, conduzida pelo Charles Alexandre da Silva.

O que conseguimos perceber e mostrar pelo prêmio é que o esporte pode ser um estímulo, um tema transversal, para que uma ação social ou educativa com diversos públicos seja efetivada. E não necessariamente se apresentar como tema central.
 


 

Universidade do Futebol – Em sua opinião, como liberar o potencial de jovens, para que estes fortaleçam suas comunidades, alavanquem o desenvolvimento e promovam mudanças?

Daniela Lemos – Percebo que principalmente por meio do diálogo. E as universidades, no caso com os estudantes universitários, e a UniSol, ao longo desses 16 anos, desenvolveram uma metodologia de conversar com essas instituições para que as mesmas cheguem às comunidades e falem de igual para igual, e não como templo de saber.

O estudante pode ser inserido naquele contexto e falar com outros jovens, se interessando pelo outro, apesar das visões e das realidades distintas.

Levamos, por exemplo, alguns jovens de comunidades para vivenciar o ambiente acadêmico, e a partir desse diálogo horizontal e da troca de conhecimentos, o processo se tornou positivo.

Universidade do Futebol – No esporte, de que modo pode-se trabalhar a questão social sem decair no mero assistencialismo?

Daniela Lemos – Acredito que de forma mais educativa, formando multiplicadores. Na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, o programa Esporte Integral desenvolveu a partir da experiência própria um mini curso de esporte educacional. O professor não necessita ser um profissional de Educação Física, mas pode ser um coordenador de uma ONG de base que trabalha com isso, e ele consegue utilizar qualquer modalidade para falar de cidadania, gênero, e entender o que é o ambiente familiar do jovem.

O UniSol intermedeia e orienta vários processos para estabelecer esse diálogo de uma maneira mais eficaz.



Programa Esporte Integral (PEI) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) em Rio Grande do Sul (RS); foto: Arquivo UniSol
 

Universidade do Futebol – O esporte já atua efetivamente na promoção de igualdade de gênero e no combate da violência contra mulheres, crianças e jovens, ou as ações ainda caminham a passos muito lentos?

Daniela Lemos – No nosso universo, ainda caminha a passos lentos. Temos de ter uma sutilidade em alguns ambientes para falar sobre determinados temas. Há um projeto que se utiliza da capoeira para falar de questões ligadas à raça.

As universidades não vão tão a fundo nesse tipo de tema, não por escolha, mas por se tratar de um processo de conquista paulatina desses jovens, por meio do esporte.

Universidade do Futebol – Também a partir de sua visão profissional e acadêmica particulares, de que forma o processo da educação auxilia no desenvolvimento do raciocínio, da criatividade e na compreensão dos fatores externos vividos pelos jovens?

Daniela Lemos – No Instituto Briza citado, o simples fato de levar jovens de Irajá para vivenciar um ambiente acadêmico, no caso a PUC-RJ, fez com que cinco dos 10 jovens que participaram no início se interessassem em prestar vestibular.

Isso sem haver qualquer tipo de argumentação sobre a importância de estudar e ter um curso superior. Somente pelo ambiente, percebemos essa vontade e essa transformação.

O UniSol tem um grupo de colaboradores voluntários, entre os especialistas, representantes das REMS, das ONGs, além de acadêmicos, reitores e ex-reitores, que possuem experiência em projetos universitários e sociais.

A universidade tem total autonomia para desenvolver suas atividades. Quando elas apresentam o projeto, há uma pré-definição de roteiro, com orçamento e metas durantes os seis meses de trabalho. Nosso acompanhamento técnico visa garantir os benefícios e a interação entre universidade e comunidade – se o professor está tendo alguma dificuldade na implementação daquele projeto, como a universidade está acompanhando, se as ações estão sendo institucionalizadas para não se tornar algo apenas pontual, etc.

Há necessidade de um compromisso social, a fim de definir também indicadores para uma avaliação de resultados, já que o impacto para a vida do estudante e das práticas universitárias é importante para todos.



Projeto Coletivo do Briza da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; foto: Arquivo UniSol
 

Universidade do Futebol – Você acredita que é possível pensar a formação de jovens jogadores de futebol sem a criação de um programa que gerencie o crescimento pessoal, social e profissional de modo interdisciplinar?

Daniela Lemos – Não acredito. As universidades estão aí para mostrar. Essa visão sistêmica é fundamental para um atleta, não só consciente do seu papel profissional, mas como cidadão.



Projeto Futsal Social da Universidade Feevale – Novo Hamburgo (RS); foto: Luiz Fernando Framil Fernandes

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quinta-feira, 2 de junho de 2011

LCFF comemora sucesso de mais um evento

Presidente da Liga Cearense de Futebol Feminino mostrou-se satisfeito com a organização da competição

LCFF - Futsal

“Há tempo que a Liga não articulava um evento tão positivo desde a Copa Metropolitana”, declarou o professor Sérgio Ricardo, presidente da LCFF, para expressar toda a sua alegria pela realização do Festival de Futsal Feminino no Distrito de São João do Amanari, localidade que fica a 30 quilômetros da sede Maranguape.

Os jogos aconteceram nas dependências da Escola Jose Pereira de Sousa, tendo o seu início às 08h00 e término às 13h00 do sábado, 21-05. A partida final marcou o confronto entre aas equipes do Tanques e CEU, tendo esta vencido pelo placar de 5 a 2. A equipe vencedora tem como origem a ONG instalada no no bairro Pato Selvagem (Maranguape), que tem como responsável o senhor Luiz.

Vale ressaltar ainda que o evento foi uma iniciativa da Rádio FM Maranguape, cujo representante foi o radialista Edmilson Barros. Além de inúmeras outras presenças, registramos a do professor Evaldo Lima, conhecido como Evaldão.

LCFF - Futsal.02

Equipes

Participaram das disputas as seguintes equipes:

Tanques, Penedo, Itapebussu, São João do Amanari (anfitriã), Amanari, ONG CEU, ONG Crescendo Para o Brasil, Rato.

Público

Outro fator marcante no evento foi a presença de público. Estima-se que cerca de 400 pessoas assistiram às 120 mulheres integrantes das equipes demonstrarem técnica e habilidade. A iniciativa também valeu como desdobramento do Projeto Meninas da Bola que a Liga Cearense de Futebol Feminino (LCFF) vem desenvolvendo desde sua fundação.

Agradecimento

A organização do evento faz menção também à colaboração do senhor Alberto Bessa, parceiro da LCFF, e tocador de ações na área do esporte no bairro Canindezinho.

Veja mais fotos do evento no blog escolinhanovocearazinho.blogspot.com

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terça-feira, 24 de maio de 2011

Lu Castro coloca o futebol feminino em foco

Artigo] O universo da mulher futebolista brasileira

Por: Lu Castro

Futebol para meninas

Excepcionalmente nesta segunda-feira, subo o segundo texto para este blog. E é com muita alegria que o compartilho com todos. Ele faz parte do Dossiê Gender Kicks 2011 do Heinrich Böll Stiftung, que me foi solicitado no início do ano, como parte das ações do Instituto acerca do Mundial Feminino na Alemanha que se aproxima. Por ser um artigo, é extenso, pois dá uma geral no universo da futebolista brasileira. O texto em alemão está na página do Heinrich Böll Stiftung. Espero que apreciem, porque eu estou de fato muito feliz em poder colaborar com tão importante ação em nível internacional.

O Universo da Mulher Futebolista Brasileira

“O nível técnico e o bom futebol apresentado pelas jogadoras brasileiras, está muito mais ligado à natural desenvoltura em campo – predicado herdado de muitas gerações e misturas, que lhes conferem habilidades e gingas inconfundíveis, que a um real  desenvolvimento da modalidade no país. Há muitas barreiras a serem suplantadas, muitas melhorias a serem implantadas e para isso, é necessário envolvimento dos responsáveis pela organização do jogo das meninas em solo nacional.

Apesar das regras e do conceito puramente masculino, o futebol das mulheres surgiu buscando certo grau de independência e identidade própria. Infelizmente, por conta da alienação a uma sociedade amplamente machista, onde mulheres rotulam mulheres que ousam, o ímpeto de jogar futebol tornou-se um problema, havendo uma relevante melhora no modo como o futebol feminino foi entendido a partir de 2007.

O público interessado na modalide ainda é restrito e pouco influente se comparado à massa (incluindo muitas mulheres) que vê real valor no futebol dos homens. Para a grande maioria, investimentos na modalidade são desperdício de tempo e dinheiro. A modalidade não é reconhecida como profissional, goza de bem pouco prestígio junto à população e meios de comunicação, além de ser avaliada como maçante, muito mais por falta da perspectiva bio e fisiológica feminina, que torna o jogo mais cadenciado e não necessariamente menos veloz.

A visão, quase uma vidência, da necessidade de mudança, se deu depois de anos em que a modalidade cambaleava entre a falta total de interesse e investimento. A situação mudou significativamente nos dois últimos anos, após iniciativa da ex-diretoria do Santos, clube tradicional do estado de São Paulo, ao trazer para a equipe, a então três vezes Melhor do Mundo FIFA, Marta Vieira da Silva. Tal fato mudou circunstancialmente a visibilidade do futebol feminino no país, fazendo com que alguns clubes, espalhados pelo Brasil, mudassem significativamente seu olhar e sua postura sobre a modalidade.

O clube se tornou pioneiro em formar uma estrutura profissional, que significou desvincular o futebol feminino do Departamento de Esportes Olímpicos e oferecer-lhe um Departamento único, com profissionais voltados apenas para o cuidado das atletas. Tal mudança deu às jogadoras possibilidades de melhorar sua autoestima enquanto atletas do futebol feminino, conferindo melhor rendimento em campo, melhores condições físicas, técnicas e táticas. Um salto gigante para os padrões até então praticados no país. Consequentemente, pode se observar uma pequena elevação nas condições sociais e econômicas das meninas santistas, ainda que isso signifique, em percentuais, cotas bem inferiores se comparadas às praticadas no futebol masculino. Ainda assim, falamos de apenas um clube entre dezenas que apostam no potencial feminino em campo. As dificuldades enfrentadas por clubes, cuja possibilidade de ampliação de verba para a modalidade é quase nula, são sentidas dentro das quatro linhas. Mesmo buscando a superação, fica evidente a superioridade de clubes, como o Santos, que investem e destinam a atenção necessária para as jogadoras, imputando-lhes maior vigor físico, melhor técnica e consequentemente – embora nem sempre seja regra – títulos, aumentando assim a visibilidade da equipe na mídia quando é do interesse dos grandes veículos noticiar algo relacionado ao futebol feminino. No caso citado, a recente presença de Marta Vieira da Silva.

Tratando o futebol feminino da perspectiva organizacional, chegamos, tardiamente, ao ano de 2009, com o retorno de Marta Vieira da Silva já na condição de Melhor do Mundo FIFA por três vezes e tudo o que envolveu seu nome no aspecto de divulgação. Até então, Marta havia se consagrado na Suécia e teve sua última participação na equipe do Los Angeles Sol, pela WPS. Antes disso, no Brasil, não teve seu nome reconhecido.

O futebol feminino dos clubes – quando os tem – é vinculado ao Departamento de Esportes Olímpicos, o que implica em parco investimento. Poucos foram os clubes que trataram de acompanhar o desenvolvimento promovido pela diretoria santista, e esta pequena diferença na mentalidade de dirigentes e empresas que patrocinam o futebol feminino, pode ser sentida na final do Estadual Paulista de 2010, onde a equipe vice-campeã, São José, ganhou patrocínio de uma universidade local e pode melhorar o investimento nas atletas, fazendo excelente campanha num dos raros campeonatos estaduais que possuem um espaço fixo no calendário das Federações locais. Muitas delas cumprem, de qualquer maneira, a obrigação de realizar um Estadual Feminino, porquanto deve enviar um clube que representará a Unidade da Federação na competição nacional.

Ainda que contemos com a realização da Copa do Brasil, que qualifica a campeã para a disputa da Libertadores da América Feminina, há ainda pontos passíveis de melhorias, sobretudo no que diz respeito ao cumprimento da Lei 10.671/2003 – Estatudo do Torcedor*, que rege o Plano de Ações da Confederação Brasileira de Futebol, CBF, para a referida competição.

Em 2010 foram apontados alguns casos onde clubes mandantes não cumpriram as determinações da Lei. Dentro do regulamento da competição, fica claro que a falta de ambulância em campo, cuja presença é de responsabilidade do clube mandante e da Federação local, desclassifica a equipe, concedendo ao visitante a vitória, e, dependendo do turno em que se encontra a competição, vaga para a próxima fase. Não foi o que aconteceu. O presidente em exercício da Federação local conseguiu com que o jogo fosse remarcado alegando “a prestação de relevantes trabalhos junto a CBF”. A equipe visitante foi obrigada a voltar ao campo do adversário, em jogo marcado em horário inconveniente para a prática de qualquer esporte.

Evidenciou-se uma franca e escancarada utilzação do futebol feminino para fins políticos dentro da esfera futebolística. Fora dela, o assunto é tratado por conveniência e não ultrapassa o terreno das intenções.

Ainda falando da CBF, algumas falhas puderam ser percebidas no que diz respeito à atenção dada ao futebol feminino nacional. Em termos de preparação para o Mundial, apenas agora, no mês de março, sairá a convocação da seleção para um período de preparação. Encerrado o período, que durará cerca de 15 dias, outra convocação acontecerá entre abril e maio, que terá tempo equivalente para preparação. Talvez faça um amistoso, ainda não confirmado. Situação preocupante, já que várias seleções qualificadas para a Copa estão envolvidas em competições visando a maior de todas.

Na ocasião do Sul Americano Feminino do Equador, erros de informação no site da Confederação, sobre a quantidade de vagas para o Mundial e para as Olimpíadas, foram responsáveis pelo efeito dominó da informação equivocada em vários veículos de comunicação. Notou-se a pouca importância dada na coleta das informações que estavam disponíveis tanto no Regulamento do Sul Americano no site da Conmebol, quanto documentos oficiais carregados e disponíveis no site da FIFA.

O futebol feminino no Brasil é utilizado para fins comerciais e de maior visibilidade de determinadas marcas. Há uma cultura enraízada de que futebol feminino é lento, maçante e desnecessário, portanto, sem condições de alavancar um maior consumo. Algumas tentativas rendem mais críticas das pessoas realmente interessadas na valorização da modalidade, que elogios, vista que a última passagem de Marta pelo país serviu apenas para realização de dois torneios que não tinham valor para competições oficiais.

No geral, a condição social das atletas do futebol feminino não sofre grandes alterações. Muitas são as que migram para outros estados, afastam-se de suas famílias, vivem em alojamentos criados pelos clubes, mas não são remuneradas como profissionais e sim como amadoras. Muitas ganham ajuda de custo, mas mantem um trabalho em horário diferente dos treinamentos para que sua renda seja no mínimo razoável. Assim sendo, caso raro, Marta (foto) é, certamente, a única futebollista brasileira cuja condição social e econômica sofreu grandes alterações para os padrões gerais das atletas brasileiras. Isto é muito pouco para um país que produz muitas jogadoras.

Não há dúvida de que Marta Vieira da Silva é a personagem responsável pelo crescente interesse de milhares de meninas brasileiras pelo jogo de futebol. Nem tanto pela ascensão social e econõmica auferida pela cinco vezes melhor do mundo, mas, mais pelo seu futebol vistoso e o que ele lhe proporcionou. A infância da alagoana Marta, não difere em nada de centenas de milhares de meninas brasileiras, que se apegaram, a partir de então, ao modelo da genial jogadora, para romper barreiras e conquistar algum espaço num universo e num país de poucas chances quando o assunto é futebol feminino. Elas superam e ignoram qualquer pré conceito, qualquer possibilidade de fracasso tendo como foco principal, fazer o que amam e se realizarem através disso.

Há uma discriminação e rotulação velada. Não há uma aceitação da maioria da sociedade para as questões homossexuais e é muito comum relacionar qualquer atleta do futebol feminino com o lesbianismo como se fosse um problema nato do setor.  Ainda que a postura das pessoas denote algum desprendimento e aceitação das diferenças, tal atitude se dá mais por termos puramente legais que por formação de opinião mesmo. Exemplo disso são nossas leis que criminalizam qualquer atitude de preconceito e racismo. Talvez por esta condição, tudo é realmente muito disfarçado.

Interesses de marketing influenciam diretamente o futebol feminino. Tomemos como exemplo os dois Torneios realizados entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011, momento em que o calendário não previa competições. O Torneio Cidade de São Paulo de Seleções teve sua segunda edição e ocupou espaço na programação televisiva num momento em que não aconteciam jogos de futebol masculino. Em janeiro, tivemos o Torneio Interclubes, tentativa de tapar o buraco deixado com a não realização do Mundial Interclubes previsto no início do ano de 2010. Tais competições não tiveram valor competitivo, se entendermos “valor competitivo” como um meio para participar de competições oficiais. Os jogos ocuparam determinadas faixas da programação televisiva, colocaram determinadas marcas em evidência, aproveitou-se a presença da Marta e não realizou nada de definitivo para a modalidade. Por outro lado, viu-se pela primeira vez nos últimos anos, a utilização da imagem da jogadora de futebol para uma possível aproximação com o público masculino. A criação do concurso das Musas do Torneio Interclubes foi exemplo disso. Foram escolhidas duas atletas de melhor aparência de cada equipe participante na tentativa de estabelecer uma ligação mais forte do maior público consumidor do jogo, que é o homem, com a modalidade.

Atualmente o Brasil tem em média, 130 equipes femininas disputando campeonatos estaduais que qualificam as equipes para a disputa da Copa do Brasil. Não é possível contar um número exato de meninas jogando futebol, uma vez que muitas equipes não possuem registro das atletas, mas tomando como base o número de equipes que foi possível localizar, temos em média 3.000 meninas nos campos atuando de forma amadora.

*A Lei 10.671 de 2003 foi criada para definir normas que defendam o torcedor brasileiro de má conduta clubística e de Federações, para assegurar transparência na organização dos eventos esportivos, clareza no regulamento das competições, segurança do torcedor em eventos esportivos, segurança na venda de ingressos, segurança no transporte, higiene dentro de estádios, transparência sobre a escolha da arbitragem e também regula a relação com a Justiça Desportiva.”

E MUITO climão. Alemanha nesta segunda-feira recheada de novidades, deixo Küsse.

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